A crise americana, a Europa e o Brasil no meio do mundo
O mundo inteiro acompanhou o dramático desenrolar das negociações do presidente Obama com o Congresso norte-americano, visando à ampliação do teto de endividamento do governo dos EUA. O desenvolvimento da maior economia do planeta tem se ancorado em enormes déficits fiscais e comerciais, que resultam num crescimento acelerado da dívida pública, que bateu nos 100% do PIB. Os efeitos de uma moratória americana seriam imprevisíveis. Afinal, o combalido dólar ainda é a moeda de referência da economia global. A desconfiança generalizada sobre a capacidade de pagamento dos EUA poderia desencadear um movimento de pânico de resultados inimagináveis. No mundo globalizado, de mercados financeiros integrados, a quebra de confiança na nação líder teria efeitos violentos na retração da economia mundial e do comércio internacional.
Para agravar, a Europa atravessa profunda crise, sem perspectivas de recuperação imediata. A crise arrastou Grécia e Irlanda, invadiu Portugal e Espanha. A próxima vítima pode ser a Itália. Déficits fiscais insustentáveis, taxas de crescimento medíocres, desemprego nas alturas e lideranças políticas fragilizadas para promover verdadeiras reformas formam um quadro explosivo.
A crise dos nossos dias tem características peculiares. Assim como a de 1929 e diferente das décadas de 1980 e 1990, começa do centro para a periferia. A velocidade de propagação potencial é muito maior, já que temos uma inédita integração dos mercados e uma possibilidade limitada de políticas nacionais autônomas. Por último, os efeitos da crise mundial sobre países como a China, a Índia e o Brasil, foram menores que no capitalismo central.
Mas não podemos dormir sobre os louros de vitórias provisórias. Uma grande retração na economia mundial, com suas repercussões no comércio internacional e no fluxo de capitais, pode resultar em efeitos que seguramente não serão meras marolinhas.
E o Brasil dentro desse mundo em crise? Temos aspectos positivos. A economia brasileira se reestruturou após o Plano Real. Temos reservas e somos o quinto país que mais recebe investimentos estrangeiros. Temos uma balança comercial positiva e uma inflação razoavelmente sob controle. Mas nem tudo são flores. Temos a maior taxa de juros real do mundo, que atrai dólares e resulta em moeda extremamente valorizada e em perda de competitividade de nossas exportações. Há uma clara desindustrialização e nossas exportações são sustentadas por produtos primários, que usufruem de preços momentaneamente favoráveis. A equação fiscal ainda é precária e a taxa de investimento baixíssima. Uma grave retração do comércio internacional e do fluxo de capitais nos colocaria em posição delicada. Assistimos à tomada de medidas pontuais, mas as reformas profundas que poderiam desatar os nós do crescimento não têm encontrado apoio suficiente. Ou fazemos o dever de casa, preparando o futuro ou podemos ver escoar pelo ralo as conquistas alcançadas nos últimos 17 anos.
Deputado Federal (PSDB-MG)
Fonte: OTEMPO