Aécio presta homenagem aos 100 anos de nascimento de Celso Ferreira da Cunha

“Façamos das palavras, tão bem cuidadas por ele, tão criteriosamente tratadas em sua obra, em seus livros, em sua gramática, o nosso instrumento da mudança. Nossa arma deve ser sempre e unicamente o convencimento pacífico, democrático, civilizado”, afirmou o senador em homenagem à memória do professor e filólogo.
Pronunciamento do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves
Senado Federal – 10-05-17
Começo dizendo que, numa época de tantas dificuldades, tantas dissensões, é bom poder celebrar e é o que faço hoje desta tribuna com enorme orgulho, a memória de um ilustríssimo brasileiro que foi Celso Ferreira da Cunha.
Mais que laços de família, nos unem as palavras. Palavras que ele imortalizou como filólogo, ensaísta, professor e, por fim, imortal da Academia Brasileira de Letras.
Ali, até sua morte, em abril de 1989, Celso ocupou a cadeira número 35, de José Honório Rodrigues e cujo patrono havia sido Tavares Bastos – segundo o próprio Celso “sempre sobre a égide do liberalismo político”, conforme registrou no seu discurso de posse, em dezembro de 1987, que tive a honra de acompanhar.
Palavras que ainda marcam a vida da nossa família, Cunha, na política, começando por meu pai, Aécio Cunha, irmão de Celso, numa tradição que tenho a honra de continuar de homens públicos de bem.
Celso descende de professores – Tristão da Cunha, meu avô, e Benjamin, meu bisavô. E precede nova linhagem deles, como sua filha Cilene, a quem homenageio e através de quem também cumprimento todas as outras filhas e a família de Celso Cunha, no centenário de seu nascimento.
Seu amor à língua portuguesa, à cultura e aos livros está expresso em sua extensa obra, em particular em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo. Quantos de nós não estudamos na gramática do português contemporâneo de Celso Cunha? E ali aprendemos a conviver de forma mais profunda com a nossa desafiadora língua portuguesa. E sua colaboração, ainda nos anos iniciais de sua trajetória profissional, no Dicionário da Língua Portuguesa de Antenor Nascentes e em sua passagem à frente da Biblioteca Nacional, que dirigiu durante vários anos no Rio de Janeiro.
Hoje, nesta Sessão, celebramos, portanto, a memória e o legado de um brasileiro e a força das palavras. Sem elas não se muda o mundo, não se faz história e, muito menos, a boa política.
Celso teve a dádiva de unir política à sua atividade intelectual. À convite da Assembleia Nacional Constituinte, a convite de Ulysses Guimarães, foi revisor do texto da Constituição promulgada em 1988. Aqueles que lá estiveram, como eu estive, se lembrarão muito daquela figura esguia, serena e sensata e muito cordial, que nos corrigia a todo momento os erros gramaticais que, no afã de construir uma Constituição mais próxima do anseio da sociedade brasileira, volta e meia cometíamos.
Nossa Lei Magna carrega, portanto, seu saber e seu traço, e sua enorme capacidade de conciliar pessoas.
Também foi secretário-geral de Educação e Cultura do governo provisório do então Estado da Guanabara, em 1960.
Nesta data em que se comemoram os 100 anos de nascimento de Celso Cunha, devo convidá-los para uma rápida reflexão sobre o Brasil.
É hora de homens e mulheres que querem construir um futuro melhor para a nossa gente se entenderem para mudar o destino do país. É hora de menos ódio e mais conciliação.
Vivemos um período de intensas dificuldades, resultado da insistência em escolhas erradas, do desrespeito ao bem público, da corrosão de valores que sempre marcaram o caráter dos cidadãos brasileiros.
É hora de dar um basta a tudo isso. O Brasil não pode mais perder tempo. Não podemos continuar sendo o país do futuro que nunca chega. Não podemos mais permitir que se continue a repetir aquilo que Celso Cunha vislumbrava no dia em que, 30 anos atrás, tomou posse na Academia Brasileira de Letras e eu, aqui, ora rememoro e para ele abro aspas: “Pertencemos a uma geração que acreditou ver auroras de mundos novos e cujos remanescentes, não raro, ainda se agitam por viver à miragem de ideais inatingidos.”
Vamos mudar esta história. Esse sempre foi e tem que continuar a ser o grande desafio de cada um dos brasileiros, em especial daqueles que os representam aqui nesta Casa e na Casa irmã, a Câmara dos Deputados.
No exato dia em que se comemora o centenário de nascimento deste mineiro ilustre de Teófilo Otoni, carioca de toda uma vida, mas, sobretudo, cidadão do mundo, professor em Lisboa, Paris e Colônia, eu conclamo a capacidade e a iniciativa daqueles que buscam, por meio das palavras, das ideias e das convicções, mudarmos para melhor nossa a realidade.
Façamos das palavras, tão bem cuidadas por ele, tão criteriosamente tratadas em sua obra, em seus livros, em sua gramática, o nosso instrumento da mudança. Nossa arma deve ser sempre e unicamente o convencimento pacífico, democrático, civilizado.
Venho aqui hoje comungar com os senhores e com as senhoras meu sentimento de enorme esperança em relação ao nosso futuro e ao futuro do Brasil.
Sim, vivemos um presente de incertezas, de decepções e de desalentos. Temos a convicção de que encontramos um caminho e vamos percorrê-lo sem desvios, com a coragem que jamais faltou aos homens públicos de bem desse país, dos momentos das maiores crises.
Estou convencido que já iniciamos a caminhada rumo a um novo Brasil. E ele, pouco a pouco, a despontar. Seja nos seus indicadores econômicos, seja também nos valores e princípios que cada dia mais temos o dever de resgatar.
Temos de fazer do Brasil cada vez mais um país íntegro, justo e ético. Eficaz no atendimento, sobretudo aos que mais precisam, aos mais pobres. Só assim, seremos a nação mais próspera com a qual sonhou a geração de Celso Cunha, e ainda sonhamos todos nós.
É esse o Brasil novo que temos o dever de buscar construir a cada dia da nossa atividade.
Agradecendo a atenção de todos, quero dizer, ao final, que a inspiração do brasileiro Celso Ferreira da Cunha nos impulsione a perseverar na batalha que, juntos, havemos de vencer. Com a força das ideias, a convicção de nossas crenças e a capacidade transformadora das palavras, sempre pelo Brasil.
Aécio Neves.
10 de maio 2017.