Baixa velocidade e falta de investimentos enfraquecem sistema ferroviário no país

A baixa velocidade das locomotivas e a falta de investimentos do governo federal fizeram com que o transporte de passageiros de trem no Brasil fosse, aos poucos, desativado nas últimas décadas. A crise no modal que se arrasta desde os anos 50 é tema do livro Desmanche das Ferrovias Paulistas (1945-2017), do pesquisador Ralph Mennucci. A publicação aborda o declínio do transporte sob trilhos que perdeu força apesar de sua importância no desenvolvimento econômico do país.
Com mais investimentos e aberturas de novas estradas, a agilidade no transporte rodoviário acabou se tornando mais atraente no deslocamento de passageiros. E, aos poucos, cada vez mais estações foram desativadas.
A necessidade de o Brasil investir mais no sistema ferroviário é uma das preocupações do presidente do PSDB e pré-candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin. E que foi amplamente debatido em um encontro recente com representantes do setor, em Brasília. “O Brasil é um dos maiores países do mundo com grandes distâncias e praticamente acabou com o transporte de passageiros fora das regiões metropolitanas”, disse.
Alckmin lembrou que o governo federal tinha um projeto chamado trem bala ligando Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, mas que com o alto custo acabou desativado. Segundo ele, reativar o transporte de passageiros, reaproveitando as áreas próximas onde hoje há transporte de carga, é um caminho a ser pensado pelo novo governo.
No Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste do país, a linha de passageiros que ligava Campo Grande a Aquidauana, com 140 km de extensão, foi desativada há pelo menos dois anos. Ir de um ponto a outro de carro era mais rápido e prático e as pessoas pararam de usar uns trens para ir de uma cidade a outra. Secretário de Infraestrutura do estado, Helianey Paulo da Silva acredita que o uso de trens seria bastante eficaz para o turismo da região. “Um passeio de trem pelo Pantanal seria bastante eficaz, mas a lentidão e a falta de conforto dos vagões não ajudam na evolução do modal no país”, lamenta.
Números
Boletim estatístico da Confederação Nacional do Transporte aponta que a malha ferroviária em atividade no Brasil é de 30.576 km. São 102.024 vagões em tráfego em 3.043 locomotivas. A velocidade média dos trens no Brasil, seja de cargas ou de passageiros, é bem baixa se comparada ao mesmo modal de outros países. Enquanto nos Estados Unidos a velocidade média é de 80 km/h, por aqui são 22 km/h.
Há no país apenas duas linhas ferroviárias regulares de longa distância: a de Carajás, que liga o Pará ao Maranhão, e a Vitória-Minas, que vai da Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, a Belo Horizonte, em Minas. A estrada férrea do Norte tem 892 km e transporta cerca de 1,5 mil passageiros por dia. Já a mineira tem 30 estações e 664 km de extensão, com velocidade média de 70 km/h.