“Paraíso dos comissionados, inferno do trabalhador”, por Matheus Leone
Uma análise sobre o atual momento do funcionalismo público no país
Matheus Leone*
Depois de quase 10 anos de governo, a maquiagem do petismo começa a borrar e a se desfazer, mostrando a verdadeira face do Brasil do PT, face que a propaganda exacerbada e as medidas emergenciais de improviso conseguiram mascarar. Depois de todos esses anos de medidas equivocadas, as consequências começam a bater na porta do Palácio do Planalto.
A primeira dessas consequências é o julgamento do maior escândalo de corrupção da nossa história recente. O Mensalão começou a ser julgado pelo STF com um pedido, por parte do Procurador-Geral da República de condenação e prisão de 36 dos 38 réus. O Mensalão é um sintoma da grave distorção ética que o PT sempre viveu. Uma confusão conceitual do partido que é incapaz de separar o que é público do que é privado.
Por conta dessa mesma confusão o PT se achou dono do Estado brasileiro, também confundindo o que é Estado e o que é governo. O Estado foi aparelhado de uma forma nunca antes vista. De cerca de 26 ministérios que tínhamos no governo FHC, hoje contamos com 39 do governo Dilma e esses 39 ministérios vêm com a característica primordial do petismo, o loteamento de cargos.
Dos 39 ministérios (o que inclui ministérios, secretarias com status de ministério e órgãos com status de ministério ligados à presidência) 28 estão nas mãos de partidos políticos sendo o PT, o partido que mais detém ministérios (15), seguido pelo PMDB com 5, PSB com 2 e PR, PRB, PDT, PP e PCdoB com 1 ministério cada.
A indicação de aliados políticos para os ministérios não é por si só maléfica, no entanto, o método que o PT adotou pós-mensalão para comprar o apoio dos parlamentares passa necessariamente pela distribuição dos ministérios. Explico. Ao contrário do que era feito em outros governos, o PT entrega o ministério a um partido da base aliada e esse partido, então, indica o ministro e todos os cargos de confiança, ou seja, entrega-se o ministério com porteira fechada para que o partido contemplado possa satisfazer suas necessidades parlamentares. Não é de se estranhar que, na maioria das vezes, são convidados parlamentares para assumir o ministério.
Esse loteamento é uma das causas para a greve dos servidores federais. Porque? Simplesmente porque ao ter que bancar um Estado desse tamanho, com tantos comissionados e ministérios, faltam ao Governo Federal os recursos para a devida valorização dos profissionais de carreira. Professores e técnicos universitários, Polícia Federal, Agências Reguladoras (outro paraíso do loteamento político) e tantas outras categorias que ameaçam entrar em greve. Isso sem falar na Petrobras, que devido ao aparelhamento político teve, nesse ano, um prejuízo histórico.
A necessidade de conceder maiores benefícios aos servidores de carreira da área federal é latente, no entanto o governo é intransigente na hora de negociar com os trabalhadores, ameaçando cortar pontos. Enquanto isso, o número de comissionados – companheiros protegidos pela classe política – que muitas vezes ganham salários homéricos, só aumenta. Não se valoriza o trabalhador de carreira nesse país, principalmente porque eles, muitas vezes, não são partidários e não têm – como é muito comum no PT – que dar o dízimo de seus salários ao partido. O Brasil se tornou o paraíso dos companheiros e o inferno do trabalhador.
*Militante, filiado ao PSDB Jovem e estudante de Ciência Política na UnB