Cinco anos após visita ao São Francisco, tucanos lamentam descaso do PT com transposição

Notícias - 09/03/2017

Em março de 2012, uma comitiva de parlamentares de oposição ao governo da então presidente Dilma Rousseff visitou um trecho das obras de transposição do Rio São Francisco próximo ao município de Mauriti, no Ceará, para verificar se o avanço do empreendimento no local era compatível com o que era propagandeado pela gestão petista. Apesar de o projeto, à época, ser alardeado pelo PT como uma das principais iniciativas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que o grupo de deputados federais encontrou no Nordeste foi muito diferente do cenário divulgado pela administração Dilma.

Cinco anos após a visita, tucanos que integraram a comitiva lamentam a situação vivida pelos milhares de brasileiros que ainda esperam pela conclusão da transposição – já que o PT encerrou o seu ciclo de governo sem dar prosseguimento à obra. Presidente da Comissão Externa destinada a acompanhar todos os atos, fatos relevantes, normas e procedimentos referentes às obras de transposição do Rio São Francisco, o deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE) fez duras críticas ao abandono das obras promovido pelo governo Dilma. Para ele, a gestão petista transformou a transposição em uma peça de marketing sem se preocupar de fato com a vida dos moradores que poderiam ser beneficiados pelo empreendimento.

“A gente sempre cobrava a conclusão das obras, para que não ficassem paradas. Várias e várias vezes nós visitamos trechos que estavam abandonados. Infelizmente, o PT usou muito marketing nessa obra. Na época da eleição, tocava a obra com todo o ritmo, inclusive autorizando a construção no terceiro turno, tinha turma trabalhando de manhã, de tarde, de noite, de madrugada. E, quando terminava o período eleitoral, tirava o pessoal, diminuía o ritmo das obras”, revelou Gomes de Matos.

Na ocasião, a comitiva encontrou uma realidade marcada pelo abandono, com trechos do canal tomados pela erosão e pelo avanço do mato. Nas áreas em que o empreendimento já havia avançado um pouco mais, os parlamentares deparam-se com paredes com rachaduras, cenário que comprometia o investimento bilionário feito até então pelo governo federal. Vanderlei Macris (SP), outro deputado federal tucano que foi ao Ceará verificar o andamento das obras em 2012, lembra que o estado de deterioração visto há cinco anos representava uma “tragédia” para a transposição do São Francisco.

“Naquele momento, nós vimos um estado de calamidade. Uma obra parada, largada, sem planejamento, sem nenhum tipo de garantia de que tivesse começo, meio e fim. Nós vimos lá uma coisa desoladora. Conversamos muito com os ribeirinhos, com o pessoal que fazia margem com a transposição. Aquela obra parada era realmente um desalento”, recordou.

Macris também ressaltou o caráter eleitoreiro assumido pelo projeto durante os anos de gestões petistas no governo federal. “Foi um governo marqueteiro, que só se preocupou em botar máquinas lá, abrir o buraco para mostrar na televisão que estava fazendo a obra, e na verdade não estava fazendo nada, estava enganado aquelas pessoas que acreditaram num projeto que não se tornou realidade”, afirmou o deputado paulista.

Mudanças

Segundo Raimundo Gomes de Matos, o governo de Dilma Rousseff não se sensibilizou com os alertas feitos pelos parlamentares que visitaram as obras e atendeu “muito lentamente” às solicitações feitas pelo grupo. Segundo o tucano, o cenário de negligência com a situação durou todo o mandato da petista e só começou a mudar depois que Michel Temer assumiu a presidência, em 2016.

O tucano também ressaltou a importância de seu trabalho de coordenador na comissão externa que acompanha o andamento as obras, responsável por cobrar o governo federal sobre o avanço do empreendimento.

“Na comissão que nós temos na Câmara, mantivemos contato com a Casa Civil para dar a celeridade às obras. Existia muito débito também. A ex-presidente Dilma não cumpria os compromissos orçamentários, os pagamentos das empreiteiras, e o presidente Michel pagou todo o atrasado – foram mais de R$ 150 milhões – e autorizou o aditivo de até 23% para dar celeridade ao ritmo dessas obras, e isso é que está se concretizando”, salientou. “Nós já vamos ter praticamente pronto o trecho da Paraíba, os demais trechos estão em ritmo bastante acelerado, o pelo menos minimiza essa questão hídrica do Nordeste brasileiro”, emendou o tucano.

Estágio das obras

De acordo com dados de janeiro do Ministério de Integração Nacional, responsável pela transposição do rio São Francisco, 95,5% das obras já foram concluídas, sendo 94,52% no Eixo Norte (que terá aproximadamente 400 km e abastecerá os sertões de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte) e 96,89% no Eixo Leste (que terá cerca de 220 km e fornecerá água para parte do sertão e as regiões do agreste de Pernambuco e da Paraíba). Apesar do estágio avançado, é possível que o empreendimento só seja totalmente finalizado no ano que vem.

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09/03/2017