Como identificar uma notícia falsa na Internet? Proposta de tucano criminaliza reprodução de informações inverídicas
Projeto propõe pena de detenção, além do pagamento de multas, a quem divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta
Na era da livre circulação de informações e do compartilhamento em massa nas redes sociais, não é raro encontrar a disseminação de notícias falsas sendo compartilhadas na Internet. Mas como diferenciar uma notícia correta de uma errada? Como ainda não existe uma regulamentação sobre o assunto e nenhuma norma que ateste a veracidade do que é difundido na rede mundial de computadores, o deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) apresentou no início do mês um projeto de lei que torna crime o compartilhamento ou divulgação de informações falsas na Internet.
O projeto propõe pena de detenção, além do pagamento de multas, a quem divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta. A proposta do tucano está aberta para a discussão com a sociedade no intuito de buscar as melhores alternativas para solucionar o problema em torno do compartilhamento de falsas informações.
De acordo com a pesquisadora de comportamento digital Marcela Souza, existem meios para checar a veracidade do que se lê. Ela ressalta a importância de todos desenvolverem um olhar analítico sobre as notícias para que mentiras não ganhem status de verdade, causando prejuízos muitas vezes irreparáveis.
“Adquirir uma postura mais crítica do que se está compartilhando é o primeiro ponto. O segundo ponto é você ter várias fontes falando sobre aquilo, fontes que de fato são relevantes. As pessoas precisam começar a ter discernimento de onde elas consomem as informações e se perguntarem: de qual veículo é essa informação?”, explicou.
Marcela destacou que é preciso observar se a notícia está repercutindo de forma clara, se tem data, hora ou local da publicação. “Se por acaso chegue até você uma informação que você ache interessante, antes de compartilhar é preciso investigar”, afirmou.
Entretanto, para a pesquisadora, a maioria das pessoas não possui esse poder investigativo e o momento é propício para a discussão do tema. “É uma questão complexa. Não se pode acreditar numa informação só porque um amigo ou parente compartilhou. Hoje em dia, o maior problema é que as pessoas estão dando credibilidade para informações falsas. Não existe um passo a passo do que se fazer. É preciso analisar e ver se não há nenhum desvio de informação”, disse.
Discussão necessária
O deputado federal e membro da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados, Nilson Pinto (PSDB-PA), avaliou o projeto como “necessário” e afirmou que é difícil para a população separar o falso do verdadeiro.
“Todo mundo procura notícias, todo mundo divulga e todo mundo compartilha. E no meio dessa enxurrada de informações, é muito difícil detectar exatamente o que é o correto. Para os especialistas, como os jornalistas, certamente é mais fácil identificar boatos. No entanto, a maioria da população não tem essa capacidade. Não é simples. É um aprendizado”, explicou.
O tucano acredita que, com a penalização, a população vai ficar mais seletiva e cuidadosa com o que lê e compartilha. Além disso, o parlamentar destacou que a liberdade proporcionada pela Internet traz também responsabilidades que devem ser ensinadas aos brasileiros.
“Eu acho que a inciativa [projeto de Hauly] é muito boa porque a internet cresceu nos últimos anos e tornou-se essencial para todo o mundo. É um espaço de liberdade a ser aplaudido e preservado, mas a liberdade trouxe também os excessos que se traduzem, muitas vezes, em produção, divulgação e compartilhamento de notícias mentirosas. Estas acabam prejudicando pessoas, entidades, e constituindo uma situação danosa. De alguma forma, isso precisa ser regulado”, disse.
Para Nilson Pinto, existe uma sensação de impunidade em torno do compartilhamento de falsas informações. “É a sensação de impunidade que alimenta a prática de divulgação destas falsas notícias. Havendo a penalização na forma adequada, como está sendo prevista [no projeto], certamente haverá a redução em larga escala deste tipo de delito”, concluiu.