Contra o coronavírus, ações devem ser técnicas e não políticas, afirmam gestores tucanos em reunião da Executiva
Governadores e prefeitos do PSDB participaram, nesta quarta-feira (06), de reunião online da Executiva Nacional do partido, que teve como tema central o impacto econômico e social da epidemia do coronavírus para o país. Na reunião, dirigida pelo presidente Bruno Araújo, os gestores tucanos falaram sobre as medidas que estão adotando para conter o avanço da covid-19. Foram também unânimes em duas questões: é preciso rever os critérios de distribuição previstos no projeto de auxílio financeiro da União aos estados e municípios e é preciso cobrar do governo federal atitudes mais técnicas e menos políticas em relação à pandemia.
“Não há vacina. O isolamento social é a única forma de evitar o colapso hospitalar. Quem sobrevive à covid é quem consegue tratamento adequado, com respiradores. Se não fossem as medidas adotadas nos estados, teríamos dez vezes mais óbitos”, disse o governador de São Paulo, João Doria. “É inacreditável que, na situação em que se encontra o pais, o gabinete do ódio, instalado na Presidência da República, continue confrontando a ciência e a saúde, em uma escalada autoritária. É uma tragédia anunciada, pela qual vão pagar os brasileiros mais pobres”, completou.
Doria destacou que o Brasil será o epicentro mundial do coronavírus, em função do aumento veloz do número de contágios. “Devemos estar preparados para notícias tristes se quem está se manifestando agora, de forma insensível, não fizer uma revisão de suas posições”. O governador de São Paulo recomendou ainda que não haja, por parte do PSDB, uma defesa do projeto de auxílio a estados e municípios amparada em circunstâncias políticas.
Isolamento social
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, também defendeu as medidas de isolamento social, sobretudo agora, quando se acumulam os números de mortos e infectados. “E esse é o mesmo momento em que as pessoas estão voltando a sair. Nós estamos tomando todas as medidas necessárias para ampliar o sistema de saúde, com foco nos que dependem do SUS. Mas nada vai adiantar sem a participação da população”. Aos senadores e deputados tucanos, o prefeito pediu ainda que não deixem reduzir o percentual destinado aos municípios no projeto de auxílio financeiro, como aconteceu na primeira votação do texto no Senado.
A mesma questão foi levantada pelo prefeito de Teresina, Firmino Filho. “Na crise, é preciso ter grandeza. Não é hora de fazer política. É preciso que essa divisão siga critérios técnicos”, afirmou. Segundo ele, os percentuais de 30% dos recursos para os municípios e 70% para os estados, previstos no texto do Senado, desconsideram que as prefeituras são as responsáveis pela atenção básica em saúde e que algumas têm uma alta capacidade instalada de leitos, necessitando, portanto, de mais recursos. Na capital piauiense, os investimentos para enfrentamento do coronavírus serão de R$ 200 milhões, mas a compensação, dentro dos critérios aprovados pelo Senado, será de apenas R$ 87 milhões.
Retorno gradual das atividades
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, reforçou que o estado tem dialogado com entidades e parlamentares para implementar um modelo de distanciamento que seja sustentável, lógico e sensato. Para isso, também são considerados os dados sobre ocupação de leitos e aqueles obtidos por meio de testes aplicados na população. Em parceria com a Universidade Federal de Pelotas, o governo do estado está realizado uma pesquisa de prevalência do novo coronavírus.
“É importante destacar que incrementamos em 60% as estruturas de UTI e estamos desenvolvendo um novo modelo de distanciamento controlado por regiões e com níveis de restrições para cada atividade econômica. Como vamos conviver por longo tempo com o vírus, precisamos priorizar a vida buscando o equilíbrio com a atividade econômica”, disse.
O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr, acrescentou que a retomada de algumas atividades na capital gaúcha está sendo possível porque houve um achatamento da curva de contágio, o que comprova a eficiência das medidas de isolamento. Disse ainda que alguns setores da economia vão precisar de ajuda financeira para uma recuperação após a epidemia. E que esses recursos não podem ser debitados dos usuários, especialmente, os mais pobres. “Mas não vejo isso na perspectiva do governo federal. Não vejo o governo federal se preparando para a crise pós-pandemia”, concluiu.
Mudança de foco
Recuperado da covid-19, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, disse que o fato de estar “próximo da morte” mudou seus valores pessoais e como gestor. “Antes eu me preocupava com obras e hoje sei a importância de investimentos na saúde e de um leito para o tratamento de pacientes”. Ele anunciou a inauguração do primeiro hospital fixo para atendimento exclusivo aos pacientes com coronavírus, com 250 novos leitos. E concluiu: “há um total abandono e falta de apoio do governo federal para o enfrentamento da pandemia”.
O governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, também reforçou a necessidade de se manter a vigilância sobre a epidemia. O estado tem o menor índice de pessoas internadas e de óbitos pela covid-19. “Ainda assim, vamos manter o foco na saúde e preconizar o isolamento, que é a nossa melhor arma para conter a disseminação do vírus. O coronavírus vai mudar paradigmas, hábitos e valores de toda a população”, concluiu.
Espaço para ponderação
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, encerrou a reunião afirmando que o PSDB está vigilante, atuando para que, neste momento grave, haja espaço para a ponderação. “Temos a clareza de não alimentar a crise, mas também de não nos calarmos quando as decisões afrontarem o direito à vida e a democracia”.