Defensores de ‘novas eleições’, nem Dilma nem Lula votarão no segundo turno
“Exemplo ruim para todos nós brasileiros: dois ex-presidentes que desprezam o processo eleitoral”, avaliou Miguel Haddad
Brasília (DF) – Dois pesos e duas medidas marcam as posturas adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff, afastada do cargo após um processo de impeachment, e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu na Operação Lava Jato, quando se trata de dever cívico. Apesar de se autoproclamarem como defensores ferrenhos da democracia, chegando a defender um plebiscito para a realização de novas eleições, ante o afastamento definitivo de Dilma da Presidência, nenhum dos dois petistas votará neste segundo turno de eleições municipais.
Segundo reportagem publicada nesta quinta-feira (27) pelo jornal O Estado de S. Paulo, Dilma justificará o seu voto, no próximo domingo (30), porque estará em Belo Horizonte durante o final de semana, visitando a mãe. O domicílio eleitoral da petista é Porto Alegre, onde o tucano Nelson Marchezan Júnior lidera a disputa pela prefeitura contra o atual vice-prefeito, Sebastião Melo (PMDB). O candidato petista, Raul Pont, não passou do primeiro turno, ficando em terceiro lugar.
Já o ex-presidente Lula, morador de São Bernardo do Campo (SP), também não deverá votar neste segundo turno. A justificativa dada por Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, é que o petista já tem mais de 70 anos, portanto “não é mais obrigado a votar”. Vale lembrar que São Bernardo, berço político do Partido dos Trabalhadores e do próprio Lula, rejeitou o candidato petista Tarcisio Secoli ainda no primeiro turno. A prefeitura será disputada entre Orlando Morando (PSDB) e Alex Manente, do PPS.
Para o deputado federal Miguel Haddad (PSDB-SP), a decisão dos dois ex-presidentes de não votarem neste segundo turno revela pouco apreço pela democracia que tanto dizem defender.
“O exemplo de cidadania deveria partir principalmente das pessoas que têm essa visibilidade e ocuparam altos cargos, altos postos. Ainda mais no caso de dois ex-presidentes que têm essa obrigação cívica de irem às urnas, para servirem como exemplo da importância do voto. Quando a presidente Dilma diz que não vai votar em Porto Alegre, porque vai estar em BH, ela demonstra um desprezo, na verdade, pelo processo democrático, pela consolidação das instituições, e desvaloriza a importância de a população ir às urnas”, afirmou.
O parlamentar criticou o fato dos ex-presidentes não votarem especificamente em cidades onde os seus candidatos não tiveram um bom desempenho. Nestas eleições, o PT conquistou apenas 256 prefeituras em todo o país, sendo apenas uma capital: Rio Branco, no Acre.
“Se dois ex-presidentes dizem que não vão, cada um por um motivo, embora até possam, sob o aspecto legal, justificar, é uma demonstração de desprezo pelo sistema, de pouca consideração, de pouca relevância do processo eleitoral. É um exemplo ruim para todos nós brasileiros e também para a imagem do Brasil: dois ex-presidentes que desprezam o processo eleitoral. Dão a sensação de que o fato de não terem candidatos petistas para votar potencializa isso, e é mais uma razão para não irem. Talvez se tivessem, teriam uma posição diferente, mas como não têm, demonstram que a preocupação é partidária”, disse o tucano.
Empecilho para votar
O deputado Miguel Haddad também ironizou o fato da idade de Lula – 71 anos – ser usada como uma justificativa para não votar, apesar de não ser vista pelos petistas como um empecilho para o ex-presidente se eleger em uma eventual disputa pela Presidência da República em 2018.
“[Não votar] é um direito que ele tem, uma prerrogativa, mas que, pelo alto posto que ele ocupou por dois mandatos, não se justifica. Ele [Lula] deveria ser o primeiro a estimular a população como um todo, o jovem de 16 a 18 anos, que não é obrigado mas têm o direito de votar, e as pessoas acima de 70, que não são obrigadas, mas também têm direito de votar. É uma referência importante um ex-presidente, com dois mandatos, que tem ainda uma visibilidade, uma certa popularidade – a verdade é que caindo, a cada dia mais, mas ainda tem –, e que deveria dar o exemplo”, completou o tucano.