Denuncismo e moralidade
Uma das características dos processos de redemocratização, no Brasil ou em qualquer outro país, é a ocorrência de um fenômeno de “purgação“ dos males nacionais. Superado o temor da repressão autoritária e restabelecidas as liberdades, é natural que as críticas e as denúncias aflorem. Isso ocorreu no Brasil e a fundação do PSDB, há pouco mais de 12 anos, em certa medida refletiu essa tendência de passar o país a limpo.
Desde sua fundação o PSDB é um partido comprometido com a moralidade e com a transparência como elementos indispensáveis à administração pública. A ética na política é um princípio fundador da Social Democracia Brasileira. Este é um patrimônio moral do PSDB que não foi nem será abandonado.
O ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes agiu com nobreza ao afirmar que não tem “nenhum dado que me autorize a mudar a minha opinião e dizer que Fernando Henrique é corrupto“. É elogiável que alguém saia em defesa da honra pessoal de um adversário político. Infelizmente o ex-ministro fez uma concessão ao denuncismo irresponsável ao admitir a hipótese de que o Presidente da República tenha sido complacente ou “omisso“ diante de supostas irregularidades no Governo Federal.
A posição do Presidente da República e do PSDB tem sido inflexível: sempre que surgiram evidências de irregularidades na administração pública tomaram a iniciativa de investigar ou colaborar nas investigações e defenderam a aplicação das penalidades cabíveis aos eventuais responsáveis. A história recente do país contém vários exemplos dessa atitude. O que o Presidente e o Partido não admitem – e nenhum autêntico democrata pode admitir – é que um episódio como o da construção do TRT de São Paulo, que analisado friamente demonstra falhas nos mecanismos de transferências e de controle de recursos públicos no âmbito dos três Poderes, tendo escapado ao crivo de representantes dos mais diversos partidos políticos, inclusive os mais tenazes opositores, sirva de pretexto para uma devassa geral no Poder Executivo.
É inadmissível que se aceite como justificativas para acusações de “omissão“ ou de “conivência“ denúncias que se fundamentam em si mesmas, como se a denúncia pura e simples, muitas vezes baseada em suposições ou meras insinuações obscuras e maliciosas, comprovasse o suposto ilícito denunciado. Agir dessa forma é uma leviandade e uma irresponsabilidade. Como observou o Presidente, quem denuncia a existência de irregularidades tem a obrigação de apresentar elementos que sustentem a acusação. É por isso que, diante das atuais denúncias, a indignação do Presidente é igual a que o ex-ministro deve ter tido quando havia rumores sobre a obra do Canal dos Trabalhadores, quando de sua passagem pelo governo do Ceará.