‘Dilma faltou com a verdade no Senado’, diz ministro Bruno Araújo

Em discurso propositalmente emocional, Dilma deixou de lado os dados técnicos, mas sua fala foi permeada por inconsistências

Imprensa - 30/08/2016

Bruno AraujoBrasília (DF) – Prestes a ser afastada definitivamente do cargo de presidente da República pelo Senado Federal, a petista Dilma Rousseff foi ao plenário nesta segunda-feira (29) para responder a questionamentos e tentar convencer os últimos senadores indecisos a votarem contra o seu processo de impeachment. Em um discurso propositalmente emocional, Dilma deixou de lado os dados técnicos. Ainda assim, a sua fala foi permeada por inconsistências, imprecisões e, na opinião do ministro das Cidades, Bruno Araújo, até mesmo mentiras.

Um levantamento feito em reportagem publicada nesta terça-feira (30), pelo jornal O Globo, elencou algumas dessas inconsistências. Em dado momento de seu discurso, por exemplo, Dilma afirmou que o seu afastamento coloca em jogo “a conquista da estabilidade, que busca o equilíbrio fiscal, mas não abre mão de programas sociais” para a população. A petista também chegou a acusar o governo do presidente em exercício Michel Temer de tentar acabar com programas como o Bolsa Família e a iniciativa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV).

As acusações feitas por Dilma foram rebatidas pelo ministro Bruno Araújo. O tucano, responsável pelo Ministério das Cidades na gestão Temer, afirmou que a presidente afastada mentiu mais uma vez aos brasileiros. Basta lembrar que foi a própria gestão petista que cortou verbas do MCMV, do Pronatec e de outros importantes programas sociais, culpando a crise econômica e o rombo nas contas públicas. As reduções reais no orçamento chegaram a até 87%.

“A presidente afastada Dilma Rousseff, há pouco em sessão do Senado Federal, trouxe uma afirmação que não é verdadeira, faltou com a verdade. Afirma que o governo do presidente Temer suspendeu a contratação e a construção de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida na faixa 1, ou seja, aquela que é da população que mais precisa”, disse, em vídeo publicado em sua página no Facebook.

“No ano de 2013, às vésperas da eleição, a presidente afastada autorizou a contratação de quase 400 mil unidades do Minha Casa, Minha Vida na faixa 1. No ano de 2015, foram pouco mais de mil unidades, e este ano, até deixar o governo, a presidente afastada e seu governo contrataram zero unidades do Minha Casa, Minha Vida na faixa 1. Mais ainda: deixaram 50 mil unidades paralisadas. Dessas, já retomamos mais de 15 mil unidades da faixa 1, conta sendo paga do governo da presidente afastada, que não entregou as unidades prometidas”, constatou Araújo.

O tucano desconstruiu o discurso de Dilma Rousseff, e garantiu que o Minha Casa, Minha Vida, programa gerido por ele, seguirá beneficiando milhares de famílias em todo o país.

“Em relação à faixa 1,5, a presidente apenas anunciou. Nós tiramos do papel e estamos contratando esse ano 40 mil unidades da faixa 1,5, além de mais de 400 mil unidades da faixa 2 e 3, e retomando as unidades da faixa 1 paralisadas pelo governo afastado. No ano que vem, serão entregues mais de 600 mil unidades, em orçamento já firme, discutido com o Ministério do Planejamento. O programa segue firme, segue com absoluta prioridade por parte do governo. Não estamos deixando de pagar a conta atrasada do governo Dilma Rousseff”, reiterou o ministro.

Presidente contraditória

O discurso de Dilma Rousseff também foi pontuado por outras questões imprecisas. Nesta segunda, Dilma afirmou que enfrenta o processo de impeachment por não ter se curvado a uma chantagem do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A verdade é que o PT negociou até o último momento um voto no Conselho de Ética favorável a Cunha. A petista disse ainda que a proibição do saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) após a demissão do funcionário é uma ameaça na gestão Temer. O atual governo nunca divulgou proposta nesse sentido, e a hipótese sequer foi citada pelo presidente em exercício.

As imprecisões de Dilma também dizem respeito a grandes obras. A petista alegou que, com a sua saída da Presidência, estaria em jogo a conclusão do “sonhado e esperado projeto de integração do São Francisco”. A fala é no mínimo contraditória. Isso porque as obras da transposição do Rio São Francisco começaram em 2007, ainda no governo Lula, e tinham a previsão de ser entregues em 2012, no primeiro mandato de Dilma. Irregularidades e atrasos sucessivos fizeram com que a obra ainda não tenha sido concluída até hoje.

Obstrução de justiça

Até a Operação Lava Jato foi citada por Dilma Rousseff, em uma tentativa desesperada de se eximir de suas responsabilidades. A presidente afastada declarou ser notório que, durante o seu governo e o do ex-presidente Lula, “foram dadas todas as condições para que as investigações fossem realizadas”. A realidade não é tão benéfica à petista: a Procuradoria-Geral da República acusa Dilma de tentativa de obstrução à Justiça, no caso da nomeação de Lula para o Ministério da Casa Civil. Investigado pela Polícia Federal, o ex-presidente se livraria de ter o seu processo conduzido em primeira instância, pelo juiz federal Sérgio Moro, tendo direito a foro privilegiado. A manobra acabou não dando certo.

“Dilma jogou fora a última oportunidade que tinha de falar com sinceridade aos brasileiros, em depoimento no Senado”, destacou o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), também em seus perfis nas redes sociais. “Mais uma vez, insistiu em repetir a ladainha do ‘golpe’ e de ‘vítima de injustiça’. Vai cair com a mesma arrogância com que conduziu o país ao desastre econômico e ao descalabro político”, completou o parlamentar.

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30/08/2016