Discurso do Governador do Ceará Tasso Jereissati, durante a VI Convenção Nacional do PSDB
Excelentíssimo Senhor Presidente da República, companheiros tucanos, minhas amigas e meus amigos, gostaria de iniciar agradecendo ao companheiro, ao amigo Presidente Teotonio Vilela pelo magnífico trabalho realizado à frente do PSDB, sacrificando e sendo sacrificado durante muitos anos, mas dedicando, como um dos fundadores do Partido, parte importante da sua vida para que este Partido continuasse forte e com a credibilidade que tem durante todos estes anos. Todos nós tucanos lhe somos devedores.
Ao futuro Presidente José Aníbal, liderança que se destacou de uma maneira ímpar na Câmara Federal, como líder, na primeira parte do Governo Fernando Henrique Cardoso, sendo no Congresso Nacional, sem dúvida nenhuma, um dos grandes responsáveis pelas mudanças e projetos fundamentais que o Governo Fernando Henrique Cardoso conseguiu realizar durante o seu primeiro Governo.
É inevitável que o discurso de hoje de todos nós seja voltado para a memória e a emoção da saudade do nosso querido amigo, fundador e exemplo, Governador Mário Covas.
É claro que a saudade e o exemplo de outras grandes lideranças que se foram, como Montoro, Sérgio Motta, o próprio Grama, de Campinas, que foi um jovem que se foi tão cedo, estarão sempre presentes na vida deste Partido. Mas o impacto da recente morte do nosso querido Mário Covas, sem dúvida nenhuma, faz com que dediquemos as nossas palavras de hoje a sua memória, a sua figura e a nossa saudade por ele. Afinal de contas, o Partido foi fundado por ele, Fernando Henrique, Pimenta, Richa, Serra e outros. Mas foi durante a sua campanha para Presidente da República que este Partido realmente cresceu e se consolidou, de alguma maneira moldado à imagem e semelhança do caráter único de Mário Covas, caráter que deu em todos os momentos deste Partido a idéia que nós PSDB éramos um Partido diferente.
E somos um Partido diferente. Mesmo nos momentos em que fui Presidente deste Partido e quando tínhamos apenas 30 ou 35 deputados e, se não me engano, apenas 6 senadores, era muito comum ouvirmos as seguintes palavras: o seu partido não tem chance, ele é bom demais, é um partido de quadros, é um partido de valores, é um partido de ética, é um partido de honestidade, mas um partido como esse não tem chance na realidade brasileira.
E na verdade toda essa massa, toda essa visão do nosso Partido foi construída durante a campanha de Mário Covas à Presidência da República, porque as suas atitudes, a sua vida e cada um dos seus gestos representavam esse conjunto de valores. Não iríamos nunca esperar, em momento algum, de Mário Covas qualquer atitude que não tivesse como marca principal o caráter firme, a coragem, a firmeza e a condição de sempre enfrentar com muita correção todas as situações. E sem dúvida nenhuma ele moldou o nosso Partido.
Há pouco tempo vi o Presidente Fernando Henrique Cardoso, numa entrevista de televisão, quando lhe falavam sobre ética, dizer as seguintes palavras: ninguém vai me ensinar ética. E ética não é apenas honestidade, ética é um conjunto de atitudes perante a vida. E é essa a marca do nosso Partido, é um conjunto de atitudes perante a vida. Nunca fomos conhecidos por ser demais à direita ou por ser demais à esquerda em momento algum, nunca fomos conhecidos por atitudes extremadas, escandalosas, ou contra ou a favor, mas sempre seremos conhecidos como Partido firme diante dessas ocasiões e que não se aproveita das dificuldades do país para crescer simplesmente aumentando essas dificuldades. E isso é ética, isso é postura diante da política, isso é postura diante da vida.
Em outros momentos, na crise do Governo Collor, por exemplo, muito de nós foi exigido, mas sempre servimos de equilíbrio entre aquilo que era errado, aquilo que era corrupção, aquilo que devia mudar e aquilo que devia ser feito com clareza e com transparência diante da Nação. E não fosse o nosso partido, não fosse a posição e a credibilidade do nosso Partido, certamente estaríamos vivendo um momento diferente hoje na História brasileira.
O Presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República tendo como base de sustentação este Partido, esta idéia e esta atitude durante a vida. E pasmem! A primeira atitude que ele assumiu como Presidente da República, já depois de ter estabilizado a moeda nacional, foi iniciar uma grande campanha de privatização. E o que é privatização? Eu tenho a felicidade e a honra de ser governador do Estado do Ceará pela terceira vez e sei muito bem, apesar de não ser tão velho quanto os meus companheiros, a diferença que era governar em 87 e a diferença que é governar hoje.
Em 1987, quando assumi o Governo do Estado pela primeira vez, o mais comum dos pedidos e das reuniões políticas era a grande briga em torno de lugares, lugares que traziam poder, lugares que traziam status, cargos que traziam também grandes oportunidades de meter a mão no dinheiro público. E durante muitos anos todo o sistema político brasileiro foi sustentado diante dessa barganha imoral de cargos para dar chances à corrupção. E sem dúvida nenhuma o grande maná eram as empresas estatais. O que Fernando Henrique Cardoso fez não foi privatizar, foi abrir mão de poder, poder de corromper, foi abrir mão de poder dando grande transparência e à sociedade brasileira a chance de conduzir essas empresas estatais.
É bom lembrar os escândalos que havia no passado em todas essas estatais, como eram escolhidas essas diretorias. E, com certeza, o PSDB, moldado no caráter de Mário Covas, não podia governar daquela maneira. Abriu-se mão do poder, que, certamente, todos nós sabíamos, geraria uma grande crise política, uma grande crise política porque hoje o Governo não tem mais o que dar, não tem mais essa barganha do toma lá dá cá. Acabou-se, hoje tem de se discutir em cima de idéia e em cima de projetos e ideais.
E ainda não ocorreu na vida política nacional uma revolução que acompanhasse e que entendesse o que está acontecendo no Brasil de hoje, o Executivo é um, mas existe ainda um grande coração político querendo voltar ao passado, alguns muito saudosos do passado, e outros muito saudosos nos seus próprios bolsos e andam por aí às vezes pregando moralidade. E nós nos encontramos com o mais estranho dos mundos, em que vemos aqueles que foram corruptos a vida inteira, que usaram esse sistema perverso, usaram do governo como se o governo fosse seu, empobreceram o povo brasileiro e enriqueceram às custas do governo, hoje, desamparados, órfãos, pregando como moralistas, indignados frente à televisão, indignados em discursos nas tribunas do Congresso Nacional, ou em qualquer outra tribuna, falando em moralismo, o que não podemos aceitar e não vamos aceitar.
E, de novo, moldado no caráter de Mário Covas, é perder o nosso poder de indignação e ficarmos assistindo calados, absolutamente impassíveis, a fazer um grande movimento em que se tenta nivelar por baixo: todos são iguais, eu sou ladrão mas ele também é. E a palavra de um vagabundo qualquer na mídia vale tanto, às vezes mais, do que a palavra do Presidente da República, do que a palavra do senador, do que a palavra do governador, do que a palavra do presidente da Câmara.
Não podemos aceitar. Há políticos vagabundos, há políticos desonestos, mas há na política homens sérios, honrados e que estão trabalhando pelo bem do povo brasileiro. Não podemos e não vamos aceitar o nivelamento por baixo. Existe na imprensa homens sérios e homens desonestos, em qualquer parte da vida, entre os advogados e os médicos, assim como na política; na política, a Câmara é o retrato da sociedade brasileira. Mas nós, PSDB, representamos o lado honesto, honrado da imagem de Mário Covas, da sociedade brasileira e assim vamos continuar sendo em todos os sentidos.
Por isso, fica, meu querido amigo e futuro Presidente José Aníbal, a nossa palavra de confiança, que com sua coragem, sua liderança e sua determinação, nós vamos reverter esse quadro de injustiça moral que está acontecendo neste Brasil de hoje, que nós não vamos aceitar mais viver sob essa injustiça moral, parecendo que qualquer brasileiro que venha a ter poder não tem caráter e não seja honesto. Parece que esses que fizeram e estão fazendo essa campanha de nivelar por baixo é gente do passado, que perdeu suas mamatas, que perdeu seus privilégios e acha que nivelando por baixo vai mostrar à população que o brasileiro não tem capacidade para governar, todo mundo é ladrão e todo mundo não presta. Não é verdade, não é verdade! E o nosso papel não é de aceitar isso de uma maneira passiva.
Fica nesta Convenção a bandeira na mão do José Aníbal, para que o PSDB, por meio de suas militâncias, possa vencer e ultrapassar esse momento difícil. E o Presidente Fernando Henrique Cardoso faz parte deste Partido moldado no caráter de Mário Covas em qualquer circunstância. Estamos do seu lado porque acreditamos, estamos porque achamos que o senhor está fazendo um dos melhores governos da História deste país e estamos porque nós temos caráter, nós somos um Partido de caráter.
Não faz parte dos nossos quadros trinta segundos de estrelismo na televisão, não acreditando naquilo que fala, mas só para aparecer pela televisão para o Brasil todo. Não faz parte do nosso caráter. Não faz parte, por trinta segundos na televisão, sacrificar qualquer pessoa, sendo às vezes até cruel, sabendo que está sendo injusto, por uma manchete de jornal. Não faz parte do nosso caráter. O que faz parte do nosso caráter é acreditar com firmeza, sempre, e assim construindo o partido que está construindo o Brasil, e tenham certeza absoluta que vamos continuar nesse caminho.
Muito obrigado a todos.