DISCURSO DO GOVERNADOR MÁRIO COVAS NA V CONVENÇÃO NACIONAL DO PSDB, EM BRASÍLIA, NO DIA 15 DE MAIO DE 1999
Meu prezado Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, a quem nós todos, pertencentes à militância do PSDB, oferecemos, nesta manhã, a maior convenção que o PSDB já fez na sua história, permita-me, Presidente, e também o Presidente de honra do Partido e o Presidente da Executiva, permitam-me que comece as minhas palavras por aquilo que não posso deixar de fazer. Queria manifestar a todos os companheiros, mais do que isso, pedir a cada um deles que fosse o intérprete do meu profundo agradecimento, meu e de toda a minha família, pela solidariedade, pela simpatia, pelo calor e pelo carinho e, mais do que isso, pelas orações que afinal me permitiram atravessar esse período com a graça de Deus. (Palmas)
Em várias oportunidades, o Presidente da República, cujas ocupações são extraordinárias, teve a generosidade foi nos visitar em São Paulo, no hospital, acompanhado de outros companheiros, mas sei que à distância, ao longo de todo o Brasil, companheiros, homens, mulheres, jovens, idosos juntaram a sua prece que nos permitiu chegar a este momento com a força necessária para dizer algumas palavras aos companheiros. De forma que a primeira delas é o meu agradecimento muito sentido por todo esse gesto, por todo esse carinho, por toda essa solidariedade que me deixa devedor pelo resto da vida. Muito obrigado a vocês. (Palmas)
Meu prezado Presidente, acho que há instantes em que a vida política ganha um impulso extraordinário: são os instantes eleitorais. Os instantes eleitorais, ainda que as eleições sejam circunscritas à vida partidária. E por que o são? Porque é basilar para o nosso Partido a crença no poder transformador do voto, não o voto meramente como um instrumento de natureza material do cidadão, mas o voto como um instrumento de mudança do mundo, o voto como um instrumento para captar a alma, projetar os sentimentos de todo o provo brasileiro.
Por isso, neste instante, manifestamos e reiteramos a nossa afirmação de crença no processo eleitoral, neste que hoje se realiza aqui ou naqueles que virão no futuro, como de resto fizemos no passado. Mas queremos afirmar com muita clareza que ninguém, a não ser o próprio PSDB e o povo brasileiro fazem a hora do PSDB. (Palmas) Nós não nos pautamos pelo desejo nem pelas atitudes de quem quer que seja; nós nos direcionamos pela vontade dos nossos companheiros e pelos desejos, às vezes até não bem demonstrados, do povo brasileiro. É isso que fixa o nosso momento, é isso que fixa as nossas decisões. E se hoje nos encantássemos com a idéia de que haveríamos de transformar o momento em que vivemos numa luta eleitoral de um processo que pertence ao próximo milênio, estaríamos errando na matemática e na política. Erraríamos na matemática, porque trataríamos, em 1999, de um processo que é de 2002, no próximo milênio, e erraríamos em política porque estaríamos impedindo que o compromisso que assumimos com a opinião pública pudesse ser cumprido devidamente, já que deslocaríamos totalmente a discussão de natureza política dos grandes problemas que este País enfrenta para um processo eleitoral que nascerá caduco se nascer neste instante.
Por isso, o PSDB, no instante em que a sua militância, que os seus maiores resolverem, no instante em que o povo brasileiro exigir, no instante em que ele, PSDB, quiser, fixará as suas candidaturas e os seus balizamentos para as lutas eleitorais futuras. Nada de erro de matemática, nada de erro político. É deixar um governo sério, é deixar um governo de compromissos claros, é deixar um governo que tem uma trajetória e um projeto não inteiramente cumpridos, mas que irá reservar esses outros quatro anos para completar uma tarefa com a qual nos comprometemos, que o povo brasileiro possa fazê-lo sem frustrar a opinião pública em face de uma luta eleitoral que, neste instante, seria fratricida. (Palmas)
A política – o Presidente sabe melhor do que ninguém – é um exercício de risco.
(troca de fita)
… a balizá-las interesses individuais. Este Governo tem esta característica. É exatamente o Governo e ninguém, ninguém vai nos atribuir qualquer ato que não tenha validade moral ou ética. Ninguém nos acusará com razão de alguma atitude que afinal não tenha respeito por aquilo que, para nós, tem o maior significado, que é a vontade popular, tendo em vista que a despeito de tudo somos múltiplos. Temos tucanos gordos, tucanos magros, tucanos altos, tucanos baixos, só não temos é tucanos sem honra e sem caráter. (Palmas)
Um notável escritor francês, durante o tempo da guerra, morou no Brasil, Bernanault. Durante todo o período da Segunda Guerra morou em Barbacena, Minas Gerais. Certamente nos trouxe muito conhecimento, mas, morando em Minas Gerais, aprendeu muita coisa. Há uma coisa em particular que certa vez ele disse a qual nos anima muito. Ele disse: “Amei o Brasil por várias razões, mas sobretudo o amei por uma razão: é porque nasci para amar o Brasil.”
Esse é o sentimento que se sente nesta sala, esse é o sentimento que inspirou este Partido, esse é o sentimento que afiou o bico dos tucanos. Nós amamos este País sobretudo porque nascemos para amá-lo. E é por isso que nós vamos construir, com a luta de todos que estão nesta sala, sob o comando inconteste da nossa liderança maior, que é o Presidente da República, um país novo, um país justo, um país onde o povo possa encontrar a sua qualidade de vida, o seu destino e o futuro de seus filhos. (Palmas)
Presidente, nós aqui viemos, ainda uma vez, para calar a boca de todos, e trazer a nossa solidariedade ao Presidente Fernando Henrique Cardoso! (Palmas) V. Exª sabe como ninguém que a solidariedade não é cumplicidade, portanto ela pode ser dada integralmente, porque não podemos ser cúmplices daqueles que não são pecadores. Portanto trazemos a nossa solidariedade, a solidariedade de quem participa, de quem sabe que o Presidente é do PSDB, de quem sabe que o PSDB está governo; a solidariedade de quem atua, participa, engaja-se, divide o poder e concorda com isso e ainda assim reconhece e reafirma a sua necessidade de lhe trazer essa solidariedade. Solidariedade não é um risco do IBOPE, solidariedade é um traço de caráter e isso não me falta. (Palmas)
Creio que é de São Mateus a afirmativa de que aqueles que trabalharem pelos menores de Deus estarão trabalhando pelo mesmo Deus. Pois acho que nós todos estamos aqui hoje para afirmar, se não fosse isso, quase uma heresia, de tão humana que é a afirmativa, que desta data em diante e inversamente quem atacar o nosso maior vai receber de nós a resposta devida. (Palmas)
Àqueles que o fizerem de má-fé, nós vamos plagiar a excepcional criação de Augusto Boal e de Edu Lobo, “Arena contra zumbi”. Onde se diz ao mal, vamos responder com a maldade. (Palmas)
Sr. Presidente, é quase uma heresia dizer o que vou dizer na sua frente e na frente de autoridades como Cândido Mendes, que acaba de, generosamente, me oferecer o livro que escreveu, mas racionem um pouco com a simplicidade com que o povo raciocina. Tenho para mim, mesmo correndo o risco da heresia, dizer que acho que o mundo hoje se divide, realmente, do ponto de vista ideológico, entre duas vertentes apenas: há os que apostam no homem e há os que apostam no mercado. Isso não significa que quem crê no homem deva descrer no mercado. Não conheço país ou regime no mundo que não queira ter um orçamento justo, que não queira ter uma moeda que não roube do trabalhador e dos mais pobres, que não queira ter estabilidade, mas que faça isso exatamente para que o objetivo maior, que é o povo, possa ser satisfeito nas suas necessidades. Essa é a conduta deste Governo, esse é o objetivo deste Governo! No mundo novo, que tem desafios extraordinários, desafios cuja feição ainda não é nítida hoje, o que significará o futuro da telecomunicação, da informática, de tantas ciências novas que tenham coisas como a Internet, nas quais hoje o cidadão navega como os antigos navegadores fizeram na era dos descobrimentos, que trazem extraordinários cenários e, ao mesmo tempo, profundos perigos. O que fará um governo ditatorial de propriedade desse instrumental no futuro? Isso nos obriga a desvendar mundos novos, o mundo da fluência dos capitais, que é capaz de roubar o trabalho de anos de milhares de trabalhadores em cerca de quinze minutos com um grupo de pessoas em volta de uma bateria de computadores. Por isso, os desafios se renovam, Sr. Presidente, mas o Partido quer lhe dizer que o medo não vai nos imobilizar. Nós teremos a audácia de ousar, não porque queremos dar a tônica da personalidade própria, mas porque queremos dar o recado para o qual constituímos esta agremiação cujo compromisso é com o povo brasileiro. Continuaremos a ser tolerantes com as críticas, até compreensivos com a ignorância, mas seremos incapazes, e não aceitaremos de maneira nenhuma, o preconceito. Contra esse nós continuaremos a brigar, venha de onde vier, porque esta é a melhor paralisia para que o povo possa alcançar os seus objetivos.
Aqui está a sua tripulação. Ela quer vê-lo continuar no comando do leme. As pequenas marolas que passarem pelo convés não nos farão acorrer imediatamente à busca do salva-vidas ou a subir nos escaleres. Nós estaremos juntos, dia a dia, e se amanhã outros não estiverem, o Presidente da República sabe que conta com os seus companheiros na sua luta e na sua trajetória através do povo brasileiro. (Palmas)
Presidente, lia outro dia, de um Jornalista chamado Bob Woodward, um livro referente ao Governo Bill Clinton, e ele transmite uma reunião feita no Estado Maior, onde analisava as razões pelas quais o povo tinha votado pela segunda vez em Clinton. E há um instante em que o Presidente americano faz uma referência a duas palavras e examina as suas diferenças. As palavras eram esperança e oportunidade. A esperança é uma espécie de fé, a fé que anima milhões de brasileiros nas ruas, nas praças, incapazes de se abater, mesmo com a adversidade a tolhê-los; a oportunidade é aquilo que hoje nos é dado criar. Todos nós temos a confiança no que V. Exª fará. Nós não o desertaremos, nós estaremos juntos, reafirmando aquilo de que V. Exª é seguramente um dos maiores e mais significativos representantes: de um lado o interesse do povo brasileiro, de outro lado a insofismável, a inatacável seriedade, honestidade e ética com que tem se conduzido.
A trajetória apenas começou. Vamos lá “tucanada”, vamos repetir o grito de quando este Partido foi criado, vamos afiar o bico e vamos lá. O povo brasileiro espera, e vai ter, de parte do PSDB, aquilo a que ele tem direito! (Palmas)