Discurso do Ministro Celso Lafer na Cerimônia de Inauguração do Centro de Desenvolvimento Empresarial, Formação Profissional e Promoção Social Brasil – Timor Leste

Notícias - 21/05/2002

“Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação, Cultura, Juventude e Desporto de Timor Leste, Dr. Armindo Maia,

Excelentíssimos Senhores integrantes da Delegação brasileira, Autoridades timorenses presentes,

Senhores representantes de organismos e agências internacionais, e, em especial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

Senhores representantes do Programa Alfabetização Solidária e do Programa de Educação à Distância da Fundação Roberto Marinho,

Senhores técnicos do SENAI e da ABC,

Demais pessoas que contribuíram para o estabelecimento deste Centro,

Senhoras e Senhores,

É com especial prazer que represento o Governo brasileiro na presente cerimônia de inauguração do “Centro de Desenvolvimento Empresarial, Formação Profissional e Promoção Social Brasil – Timor Leste”. As obras do Centro foram iniciadas por ocasião da visita do Presidente Fernando Henrique Cardoso a Timor Leste, há pouco mais de um ano.

Naquela oportunidade, o Presidente salientou que “em um país com as dimensões do Brasil, raros são os eventos além-fronteiras que chegam a capturar a imaginação popular. No entanto, a luta do povo timorense por sua liberdade marcou vivamente a opinião pública brasileira. Apesar da distância, apesar das diferenças, os brasileiros têm os timorenses na conta de um povo irmão. Algumas das tarefas prioritárias são as mesmas com as quais nos defrontamos no Brasil:

a da educação, condição imprescindível para assegurar a cada um o exercício da cidadania e as condições de inserção na economia;

a da saúde, direito social fundamental de todos os cidadãos em uma democracia;

a estruturação de um serviço público eficiente e eficaz, capaz de atender às demandas da sociedade;

e o estabelecimento das condições para que o Estado timorense desempenhe a contento as funções básicas da soberania, como defesa e relações exteriores.

Em todas estas áreas o Brasil já vem cooperando com o Timor Leste. Cada uma delas é importante, mas a cooperação brasileira em Timor Leste terá a mesma prioridade que o meu Governo adota no Brasil: a educação, o combate ao analfabetismo, o treinamento de professores, a formação profissional.

Senhoras e Senhores,

Hoje, estamos presenciando a concretização, os resultados da prioridade conferida pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso a Timor Leste. As obras deste Centro se revestem, portanto, de importante caráter emblemático, uma vez que materializam desejo de meu Governo em apoiar e promover o novo Estado em sua inserção no concerto de Nações livres. A importância de Timor Leste para a política exterior brasileira não está unicamente vinculada à dimensão cultural, mas também se insere em nossos desejos de uma ordem econômica mais justa e equânime, de um sistema internacional mais democrático e, sobretudo, de uma realidade de maior justiça social.

A construção deste Centro, promovida pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores, contou com a colaboração direta do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), e com o apoio do PNUD. Não posso, nesta oportunidade, deixar de referir-me à inestimável contribuição prestada pelos dirigentes e pelo grupo técnico do SENAI e manifestar meu reconhecimento pelo excelente trabalho e pelas pesquisas que a entidade vem realizando no ramo da formação profissional, tema de excepcional relevância e oportunidade. O SENAI inscreve-se, hoje em dia, dentre as instituições de excelência no Brasil, com um valioso inventário de atividades e pesquisas em áreas de capital importância socioeconômica para nossas populações. Testemunho adicional da importância que o SENAI atribui à cooperação com Timor Leste e a visita do Presidente da FIESP, Dr. Horácio Lafer Piva, a este país, ocasião em que pôde visitar este grande projeto bilateral que hoje inauguramos.

Senhoras e Senhores,

O Centro, hoje aberto, tem por objetivo a formação de profissionais na áreas de construção civil, eletricidade, costura industrial, marcenaria, informática, panificação e confeitaria, numa primeira fase, e, posteriormente, mecânica, fabricação de mobiliários e confecções em couro, numa segunda fase do projeto. Os cursos que serão aqui ministrados contemplam temas de grande impacto socioeconômico em nossos países e afetam significativas parcelas de nossas populações. A transferência de experiências e de conhecimentos, objetivo maior da cooperação técnica, e que materializa o sentimento de solidariedade recíproco entre nossos povos, certamente beneficiará a todos de maneira global. Os alunos aqui formados serão agentes de inovação e conhecimento e estarão habilitados, ao concluírem o curso, a disseminar seus conhecimentos a outros nacionais.

O Centro representa, também, o esforço de muitos profissionais e entidades envolvidas neste projeto, e demonstra que, havendo disposição e vontade política, sempre é possível, mesmo em épocas de dificuldades financeiras e econômicas, realizarem-se projetos de elevado conteúdo socioeconômico e humano. Estou seguro de que, por meio de projetos de cooperação técnica como o presente, soluções comuns poderão ser buscadas e encontradas. A cooperação técnica tem-se mostrado eficiente instrumento, não apenas para aproximar os povos, sobretudo nossos irmãos, com quem comungamos imenso patrimônio histórico, cultural e étnico, mas também para promover o desenvolvimento sustentado, que inclui crescimento econômico, bem-estar social e proteção ambiental.

O Brasil tem feito da cooperação entre países em desenvolvimento pedra angular de sua política de cooperação técnica no exterior. Apesar de nossos limitados recursos, temos buscado maximizar os meios disponíveis, humanos e materiais, em benefício de cada um e de todos os nossos parceiros. Estou seguro de que, a exemplo do que vemos todos hoje em Díli, que nossos esforços têm frutificado.

Gostaria, ainda nesta oportunidade, de tecer breves considerações sobre a importância de outros projetos de cooperação técnica prestada pelo Brasil e em execução atualmente em Timor Leste. São referências de caráter apenas geral, mas que não posso deixar de registrar nesta cerimônia. São eles:

o projeto de Alfabetização Solidária em Timor Leste, que contou com um exitoso projeto piloto em Díli e pôde ser ampliado a todos os 13 distritos do país, contemplando 141 salas de aula e 3.550 alunos e que tem por objetivo a alfabetização de jovens e adultos utilizando a metodologia do exitoso Programa Alfabetização Solidária do Brasil;

o projeto de Formação de Professores e Alunos com Recurso da Educação à Distância – Telecurso, que conta com o apoio da Fundação Roberto Marinho e tem por objetivo a formação nos níveis fundamental e médio de jovens e adultos recém-alfabetizados, e que já apresentou significativos resultados tais como a implantação de 20 telessalas e o atendimento a mais de 450 alunos;

o projeto Transferência de Técnicas Cafeeiras, assinado há poucos dias pelo Diretor-Geral da ABC, Embaixador Marco Cesar Meira Naslausky, e o Diretor Geral da Agricultura e Pesca, Senhor César José da Cruz, que visa a aumentar a produtividade da cultura cafeeira em Timor Leste.

Todos esses projetos, além dos que serão desenvolvidos bilateralmente e no âmbito da CPLP, revestem-se de ampliado conteúdo social e abrangem numerosas populações, com acesso democrático e igualitário. Representam, também, a confiança de meu Governo na consolidação e aprofundamento da cooperação técnica prestada pelo Brasil, com espírito de solidaridade e sem objetivos comerciais.

Ao Governo timorense desejo expressar a esperança do Governo brasileiro de que esse Centro possa representar um importante passo adicional para a aproximação crescente entre nossos povos e instrumento indispensável ao desenvolvimento deste já tão querido país.

Muito obrigado.”

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21/05/2002