Discurso do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na cerimônia de inauguração da expansão da fábrica da Toyota
Indaiatuba -SP
Senhor Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,
Senhor Vice-Presidente Mundial da Toyota,
Senhor Prefeito de Indaiatuba,
Senhores Ministros,
Parlamentares,
Senhor Diretor dessa unidade,
Senhoras e senhores,
Realmente, o Governador Geraldo Alckmin, numa síntese, como ele costuma fazer, muito adequada, curta e brilhante, explicou o significado que ultrapassa até mesmo o fato de estarmos juntos, hoje, aqui, inaugurando a Toyota. Queria insistir primeiro na Toyota. É uma é realização muito singular, porque significa a escolha de um caminho, que tem algumas características importantes. Uma é da qualidade, a qualidade Toyota. A Toyota desenvolveu um sistema de produção. O senhor Toyota era um homem extraordinário, com capacidade imaginativa, inventiva. Outra é não dar nunca o passo maior do que a perna. A empresa cresce, mas cresce com previsão e gradualmente. Isso não é habitual, principalmente nos dias que correm, quando as oportunidades de realização, às vezes, aparecem como se fossem quase que um milagre. Todo mundo se joga num empreendimento e, um pouco depois, cadê o empreendimento? Desapareceu. Não teve condições de se manter. Não é assim a Toyota. A Toyota está tomando os passos que ela sabe que pode dar. Tem uma previsão para dentro de alguns anos ter 10% da participação do mercado na nossa região. E vai pouco a pouco alcançando.
Por que me refiro a Toyota e às suas especificidades? Porque é preciso tirar os exemplos da Toyota para um conjunto mais amplo e para o nosso próprio país. O importante, hoje, é nós termos qualidade, termos objetivos, mantermos o rumo e não darmos o passo maior do que a perna. Irmos construindo com firmeza, com perseverança um caminho melhor para o nosso povo.
A Toyota nos inspira, portanto, porque ela está realizando isso aqui. E tudo o que a Toyota se comprometeu com o Governo, ela cumpriu. Estamos, hoje, inaugurando uma unidade, uma extensão que vai permitir duplicar a produção, exportar mais. O Governo, também, se comprometeu. E continua comprometido. A Toyota não está pensando apenas no nosso mercado doméstico, embora o nosso mercado seja bastante amplo. Mas, no mundo moderno, uma empresa também moderna, não pensa apenas num mercado, tem que pensar na expansão do mercado. A Toyota vem casada com o Mercosul. Aqui se aplica ao Mercosul o que disse, há pouco, o Governador Geraldo Alckmin, sobre a situação no Brasil: muita diferença. A turbulência do Mercosul foi grande. Mas o Mercosul é uma realidade, que não se vai esvair, não vai desaparecer, não vai do dia para a noite deixar de existir, nós temos compromisso com o Mercosul.
O Ministro de Indústria e Comércio, Sérgio Amaral, aqui presente, prepara os acordos automotivos com o Mercosul. Mas mais do que o Mercosul. Tanto o presidente mundial da Toyota, como o local, mencionaram a importância do mercado da América Latina e do Caribe. Pois bem, o Brasil assinou já um acordo de comércio com o Chile, estamos por assinar um acordo com o México. Espero que, na visita do Presidente do México ao Brasil, nos primeiros dias de julho, nós possamos concretizar esse acerto que incluiu um acordo automotivo importante. Ou seja, assim como a Toyota cumpre os seus compromissos e avança progressivamente no sentido de tornar-se uma empresa capacitada para ocupar uma fatia importante do mercado, o Governo do Brasil se preocupa em ampliar o mercado para os produtos fabricados no Brasil.
Estamos, portanto, como bem disse, também, o Governador, independentemente de uma eventual disputa no Campeonato Mundial de Futebol, estamos no mesmo time, efetivamente. Esse time tem tudo para ganhar. Tem tudo para ganhar pelas características que já mencionei.
Eu queria acrescentar umas poucas considerações. Estou no meu sétimo ano de Governo, sete anos e meio de Governo. É verdade que, um pouquinho antes, tinha algumas responsabilidades que eram bastante amplas, no Brasil, como Ministro do Governo Itamar Franco. Mas, quando assumi o Governo, e é só para datar, em 1995, nós produzíamos automóveis em São Paulo e havia uma fábrica em Minas. Nada mais. Hoje, as fábricas paulistas foram ampliadas, todas se expandiram. Nós produzimos automóveis, motores no Paraná. Nós produzimos no Rio Grande do Sul. Nós produzimos em Goiás, em Catalão. Nós produzimos no Rio de Janeiro, onde foi criada uma base de produção, ao redor de Porto Real e Rezende. Nós produzimos mais automóveis em Minas. Nós produzimos na Bahia.
E não são só automóveis mas também o que vem junto. É o desenvolvimento da mão-de-obra, é a qualificação do pessoal, é acesso a uma formação melhor, portanto salários que vão ser melhores, também. A expansão dessa base de produção automotiva foi feita em sete anos e meio. Estou me referindo a fatos ocorridos nesses sete anos e meio. Já não sei o número de inaugurações que presenciei de fábricas no Brasil. Isso mostra que, realmente, nós criamos, aqui, uma base da produção automotiva de porte mundial. Nós podemos produzir 3 milhões de unidades por ano. Falta-nos o consumo, não só aqui, mas na região, e nós temos que expandir o consumo, para que isso possa se consolidar e possa avançar mais.
E fosse apenas no setor automotivo e nós já teríamos visto, nesses últimos anos, uma grande transformação de qualidade da nossa base de produção industrial. Não é só quantidade, é qualidade. Deu-se um salto qualitativo. Hoje, o que se produz aqui, tem qualidade “standard“ global, é da mesma maneira como se produz em qualquer outra parte do mundo, inclusive no Japão. Porque é preciso para exportar, é preciso que haja essa estandardização e a qualidade global.
Pois bem. Isso não ocorre apenas, no que diz respeito ao setor automotivo. Se nós formos olhar os investimentos produtivos, que se têm realizado no Brasil nesses últimos anos, são realmente bastante fortes. No sistema de telecomunicações, uma transformação radical. Não preciso nem me referir aos números, porque são conhecidos, não apenas da expansão do telefone e do celular, mas também da produção do equipamento.
No que diz respeito a outros setores, como por exemplo o energético, petróleo é uma transformação radical. O pipeline de investimentos continua avançando. Mesmo no setor de energia, onde sofremos uma crise neste momento nós estamos construindo 26 usinas hidrelétricas. Vinte e seis é o conjunto das obras de hidroeletricidade, não me refiro a termoeletricidade, onde há mais do que isso, ao mesmo tempo, no Brasil todo.
O Governador mencionou o porto de Santos. Pois bem, quando nós formos olhar a infra-estrutura, que é importante para a exportação, para a importação, para a velocidade do processo produtivo, veremos que houve uma transformação imensa em todo o sistema portuário brasileiro. Alguns novos portos importantes foram criados. Cito três: Suape, Pecém e Sepetiba. Sendo que Sepetiba é um porto de grandes proporções. Houve uma modernização dos portos do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Paranaguá, do Rio Grande e por aí vai. Houve, portanto, um avanço importante nessa região.
Para facilitar os transportes, houve aproveitamento, por enquanto, ainda não na magnitude que se requer, do uso dos rios. A hidrovia passou a ser, de novo, um programa do Ministério dos Transportes. Aqui está o Ministro presente, que pode testemunhar também que isto é assim. Pelo menos algumas hidrovias, como a hidrovia do Tietê, aqui, do Paraná, e a hidrovia do Madeira, são, hoje, hidrovias que funcionam perfeitamente. E se outras ainda não funcionam, é porque há questões ambientais. E como nós respeitamos, e muito – porque é preciso – os requisitos ambientais, é sempre mais lento o processo de licenciamento para utilização de hidrovias. Mas nós modificamos as bases de infra-estrutura para permitir que haja, realmente, uma expansão maior do setor produtivo direto, como é o caso do setor automotivo.
Então, a Toyota vem, aqui, neste momento, como que sinalizar para todos nós, brasileiros, uma vez mais – e é preciso que se sinalize mais e mais e mais – que há, sim, condições, firmes, do Brasil avançar, que o setor produtivo brasileiro está avançando, que as bases da nossa economia, no que diz respeito à base física e a parte propriamente produtiva está absolutamente sólida. E quem olhar, como eu olho, diariamente, o fluxo de investimentos diretos, no Brasil, há de ver que esse fluxo tem tido uma continuidade que até surpreende, mesmo nos momentos de crise, como foi o ano passado.
Quando eu era Ministro da Fazenda, nós recebíamos, no Brasil, entre um e dois bilhões de dólares de investimento produtivo, direto, por ano. Nós temos recebido uma média de 2 bilhões de dólares por mês, nesses últimos anos. Depois da crise do ano passado, de 11 de setembro, houve uma certa redução, ainda assim, ano passado, recebemos mais de 20 bilhões. E quem olhar o que está acontecendo nesses primeiros quatro meses, vai ver que nós estamos nos aproximando dos primeiros quatro meses de 7 bilhões de dólares. E quem olhar o que aconteceu em maio, vai ver que, de novo, houve investimento. E quem olhar, como eu olho, diariamente, o fluxo de investimento, vai se ver que, em junho, continuam os investimentos.
Não se trata apenas do grande investimento da privatização, quando alguma companhia estrangeira compra um ativo no Brasil e transfere um bilhão de dólares. Não. Hoje, o investimento, vem pingado: 20 milhões, 30, 50, 10, 40. É a expansão do parque produtivo. É a expansão e é o início da penetração, na pequena empresa, na empresa média, de fluxos de capital também, o que vai propiciar um desenvolvimento tecnológico.
É esse o Brasil no qual nós temos que acreditar. É por isso que, quando o governador disse há pouco, referindo-se às recentes turbulências financeiras, como eu disse ontem, que é preciso dar um calmante, é preciso que essa gente saia dos seus gabinetes de especulação e ande pelo Brasil, para ver o Brasil que trabalha, o trabalhador brasileiro sério, competente, que está dando o melhor de si, o engenheiro, o gerente, o homem do comércio, para ver que existe um Brasil real, que é um Brasil que está avançando mais, mais e mais, e que é lastro verdadeiro da nossa capacidade de crescer, da nossa capacidade de desenvolvimento.
Há, portanto, razões de sobra para todos nós, reunidos aqui, nessa região tão simbólica do que é novo Brasil, que é Indaiatuba, Campinas e toda essa área para estarmos aqui comemorando. E comemorando, celebrando mesmo o fato de a Toyota ter avançado, cumprido suas metas.
E quero terminar dizendo que eu tenho certeza, como brasileiro e como Presidente do Brasil, de que com o apoio de investimentos produtivos, como esse da Toyota,com a capacidade de todos nós, juntos, de que o roteiro traçado pelo Brasil, aqui neste século que se inicia agora, nós possamos ter uma sociedade melhor, em que povo viva melhor, em que haja mais empregos, em que haja um governo mais capaz de atender as necessidades sociais. Esse roteiro está traçado. É só continuar. Vendo-os, tão numerosos, aqui, para beberem no exemplo da Toyota, eu tenho a convicção de que nós não temos nada a temer, a não ser ficarmos paralisados pelas incertezas e pelo medo, que sempre são más companhias. Temos que ter crença, confiança, seriedade, perseverança e acreditar muito no que nós estamos fazendo e no nosso país.