Economia brasileira tem que voltar aos patamares alcançados pelo Plano Real, avalia Gustavo Franco
Brasília (DF) – Ex-presidente do Banco Central durante o governo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, o economista Gustavo Franco afirmou, em entrevista publicada pela revista IstoÉ Dinheiro, que a economia brasileira precisa voltar aos mesmos patamares alcançados pelo Plano Real, que a partir de 1993 acabou com a hiperinflação e inaugurou um novo ciclo de desenvolvimento econômico.
“Foi possível fazer em menos de um ano uma bela arrumação da casa, que foi interpretada pela população como um novo projeto econômico que, inclusive, resultou vitorioso nas urnas”, lembrou. “O Brasil venceu a hiperinflação, deixou para trás uma cultura de inflação alta que vinha de várias décadas, fez uma rearrumação institucional, além de reformas que tiveram a sua importância no setor real da economia e no setor social. Isso tudo colocou o País num patamar totalmente diferente de possibilidades de crescimento, com inclusão”, destacou.
Como resultado, o Brasil teve, entre 1998 e 2009, 11 anos de austeridade e superávit primário de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em média. Segundo Franco, durante o período houve crescimento, melhoria na distribuição de renda e acumulo de reservas, o que normalmente não acontece ao mesmo tempo. “Tudo fazia crer que o Brasil tinha convergido em torno de algumas ideias básicas de macroeconomia, que tinham acabado as eras da feitiçaria e do invencionismo. Com a crise de 2008, resolvemos recuar, infelizmente”, contou.
Durante o governo da ex-presidente cassada Dilma Rousseff, boa parte dos avanços econômicos do país se perderam. “Dilma Rousseff, infelizmente, não estava no mesmo nível das lideranças políticas que o Brasil tradicionalmente teve na presidência. Havia uma sensação de sucesso e autossuficiência provocada, talvez, pelos 10 anos de bom desempenho da economia mais a turbinada pela descoberta do pré-sal, que parecia colocar o Brasil na posição de Venezuela ou de membro da Opep (organização dos exportadores de petróleo). Tudo isso combinado produziu uma guinada, na direção errada, que foi se acentuando e teve a Petrobras como centro”, avaliou o economista.
Para o ex-presidente do BC, é preciso que a economia siga nos mesmos rumos estabelecidos pela equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso, convencendo a população de que as medidas como o ajuste fiscal trarão benefícios ao país no longo prazo. “Quem está responsável pela economia tem de ser ambicioso e sempre ter uma visão para onde o Brasil vai nas próximas décadas. É preciso conquistar a confiança das pessoas com o seu plano de vôo”, disse.
Lava Jato
Na entrevista, Gustavo Franco constatou também que a Operação Lava Jato não atrapalha a economia, como alegaram lideranças petistas durante o governo Dilma. De acordo com ele, é preciso que a equipe econômica do governo do presidente Michel Temer aproveite a experiência da Lava Jato e se associe a ela.
“A Lava Jato não atrapalha a economia. O combate à corrupção tem a mesma natureza do combate ao déficit público. Tudo é respeito ao dinheiro público. É preciso convencer as pessoas que estamos do mesmo lado, entendeu? A corrupção e a farra fiscal são duas faces da mesma moeda. Arrumar as contas fiscais e arrumar a corrupção muitas vezes tem a ver com as mesmas medidas”, considerou.
O economista acrescentou ainda que não tem milagre para resolver a situação da economia: é preciso recobrar a sanidade das contas públicas.
“Falando de contas fiscais, eu gostaria de ver, daqui a 20 anos, um Brasil igual ao Chile, quando se trata de endividamento público. A dívida líquida do setor público no Chile, hoje, é igual a zero. A nossa é alguma coisa superior a 50% do PIB. Se conseguirmos chegar, em 20 anos, aonde o Chile está, vamos economizar no pagamento de juros. Imagina o que pode ser a taxa de juros daqui a 20 anos e como será fácil empreender, se alavancar”, completou Franco.
Leia AQUI a íntegra da entrevista de Gustavo Franco para a revista IstoÉ Dinheiro.