Em pólos opostos

Notícias - 27/05/2002

Depois de três dias reunido num hotel em Embu, na Grande São Paulo, o comando da campanha do senador José Serra à Presidência decidiu que a estratégia tucana será polarizar a disputa eleitoral entre Serra e o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva e deixar em segundo plano os outros pré-candidatos: o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PSB) e o ex-ministro Ciro Gomes (PPS). Garotinho está empatado tecnicamente com Serra em segundo lugar nas pesquisas de opinião e Ciro está em quarto.

– Não se trata de nenhum ataque e sim de uma disputa ideológica. O PT está querendo chegar onde nós estamos. Hoje, eles defendem o Real e a estabilidade fiscal, só que com oito anos de atraso. Imagina o que será um governo do PT? A gente vai ter de ficar esperando eles descobrirem o caminho que nós já sabemos há muito tempo? – perguntou o presidente do PSDB, José Aníbal.

Aníbal: Garotinho não está no páreo

Aníbal menospreza os demais adversários. Para ele, a disputa de Serra não será com Ciro, “que está em quarto lugar”, e tampouco com Garotinho, que segundo ele, tem ” telhado de vidro” e “uma candidatura frágil”.

– A discussão vai ser entre o governo e a oposição – afirmou o presidente do PSDB a respeito da estratégia da campanha de Serra.

Em seguida, Aníbal voltou aos ataques ao partido de Lula:

– O Mercadante (deputado Aloizio Mercadante) enche a boca para dizer que a dívida interna aumentou dez vezes no atual governo. Mas ele não esclarece que 60% dela era dos estados e dos municípios. A União assumiu isso numa repactuação importante para criar as condições do equilíbrio fiscal.

Coordenador do programa de governo da candidatura tucana, o prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas, diz que a campanha não lançará mão do terrorismo ideológico com objetivo de criar medo na população a um possível governo do PT. Mas afirmou que a estabilidade econômica corre riscos.

– O risco de crise cambial e retrocesso das conquistas do governo Fernando Henrique existe. E não se pode chamar isso de terrorismo. Existe em todo o mundo e a estabilidade não é algo irreversível – disse.

FH vai entrar na campanha, diz Nizan

O próprio publicitário da campanha, Nizan Guanaes, tomou a dianteira na estratégia de polarizar com o PT. Em entrevista ao GLOBO publicada ontem, ele criticou os petistas pela suposta incoerência entre o que prega Lula e o comportamento do seu partido nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso. Nizan disse ainda que vai explorar a falta de experiência administrativa do candidato.

Outro trunfo de Nizan será a participação de Fernando Henrique na campanha. O próprio presidente, segundo Nizan, saberá os momentos em que deverá aparecer ou intervir na campanha.

– O presidente é tucano. Evidentemente em determinados momentos ele vai aparecer – disse ontem Nizan, que também participou do encontro em Embu.

De acordo com Nizan, os próximos programas de TV do PSDB no horário eleitoral, que estarão no ar de amanhã até o dia 4, dedicarão 70% do tempo para apresentar o candidato e 30%, ao debate político. Os programas, segundo ele, não citam diretamente o PT, mas criticarão as contradições do partido.

– O PT fica tentando provar que o governo não fez nada nesses últimos oito anos e nós vamos questionar essa maturidade repentina, essa mudança de posicionamento.

O publicitário voltou a afirmar que a campanha de Serra enfocará a razão enquanto a de Lula pretende atingir o lado emocional do eleitor. Segundo ele, o PT vai lembrar o que não foi feito pelo governo e a campanha de Serra vai mostrar o que foi feito e o quanto o país avançou.

– A única coisa que a gente não vai deixar é o PT dizer que é uma simples alternância de poder. Do ponto de vista democrático é uma alternância respeitável de poder, mas que não vai ser a mesma coisa, não vai porque não é a mesma teoria, não é a mesma prática, não são as mesmas pessoas, não é a mesma filosofia – disse.

Nizan prevê que a campanha deste ano será quente porque do outro lado ele enfrentará o colega Duda Mendonça, publicitário de Lula que, conforme avalia, está conduzindo o trabalho de forma brilhante. No “clima quente”, explicou ele, não inclui ataques pessoais ou baixarias.

– Eu também amadureci – ironizou o publicitário.

Já Duda Mendonça avisou ontem que não vai polemizar com Nizan. O comando da campanha petista pretende evitar ao máximo a exposição da equipe de marketing e deixar o debate político a cargo de Lula e dos outros candidatos do partido.

– Eu estou muito decepcionado com Nizan que era uma pessoa por quem eu tinha admiração. Ele já falou demais e está fazendo o jogo sujo de só atacar. Mas nós vamos polarizar é com esse modelo econômico que está aí e não com seu Nizan – respondeu o deputado José Genoino (PT-SP), pré-candidato do PT ao governo de São Paulo.

A pré-candidata a vice-presidente na chapa de Serra, deputada Rita Camata (PMDB-ES), chega hoje a Embu para participar do último dia de reuniões do comando da campanha. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), também participou da reunião no fim de semana.

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27/05/2002