Empresários negros têm pedido de crédito negado três vezes mais do que os brancos no Brasil

Notícias - 22/05/2017

Apesar de terem elevado sua participação entre os proprietários de negócios, os empresários negros possuem seu pedido de crédito negado três vezes mais que os brancos no Brasil. A constatação foi feita por Eugene Cornelius Junior, chefe do escritório de comércio internacional da Small Business Administration, agência do governo dos Estados Unidos que oferece serviços de apoio à pequena e média empresa. O executivo esteve no Brasil para participar de evento sobre afro-empreendedorismo, e verificou que há um abismo no tratamento desses profissionais. Segundo Cornelius, além de não ocuparem posições de gerenciamento e cargos executivos, os negros sofrem limitações no mundo dos negócios, especialmente no acesso ao crédito.

Para o Secretário Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo, essa é mais uma prova de que a discriminação racial permeia diversos segmentos da sociedade.

“Não há outro motivo para essa discrepância no acesso ao crédito que não a questão da discriminação racial. Houve um crescimento muito grande de empreendedores negros, mas ainda assim há essa dificuldade de acesso ao crédito, resquícios de uma escravidão que “acabou” a 129 anos, mas que não garante ao negro os mesmos espaços que outros possuem. A falta de oportunidades iguais reflete nessa dificuldade de o negro ascender no Brasil.”

Além de representarem uma fatia importante da sociedade brasileira, já que correspondem a 54% da população, os negros também já são maioria entre os empreendedores. Levantamento feito pelo Sebrae entre os anos de 2002 e 2012 mostra que 50% dos donos de negócios no país são afrodescendentes, 49% são brancos e 1% pertencem a outros grupos populacionais. Diante desse cenário, Juvenal concorda que as dificuldades impostas aos negros prejudicam a economia nacional.

“É por isso que nós temos que trabalhar para evitar a negação e a neutralidade de determinados setores sobre a existência do racismo. É um importante passo para a inserção efetiva da população negra no mercado de trabalho.”

Para iniciar uma mudança nesse cenário, Cornelius afirma que é preciso, antes de tudo, elevar a confiança da população negra sobre sua capacidade, confiando a eles posições-chave e cargos de decisão.

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22/05/2017