Empresários negros têm pedido de crédito negado três vezes mais do que os brancos no Brasil

Apesar de terem elevado sua participação entre os proprietários de negócios, os empresários negros possuem seu pedido de crédito negado três vezes mais que os brancos no Brasil. A constatação foi feita por Eugene Cornelius Junior, chefe do escritório de comércio internacional da Small Business Administration, agência do governo dos Estados Unidos que oferece serviços de apoio à pequena e média empresa. O executivo esteve no Brasil para participar de evento sobre afro-empreendedorismo, e verificou que há um abismo no tratamento desses profissionais. Segundo Cornelius, além de não ocuparem posições de gerenciamento e cargos executivos, os negros sofrem limitações no mundo dos negócios, especialmente no acesso ao crédito.
Para o Secretário Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo, essa é mais uma prova de que a discriminação racial permeia diversos segmentos da sociedade.
“Não há outro motivo para essa discrepância no acesso ao crédito que não a questão da discriminação racial. Houve um crescimento muito grande de empreendedores negros, mas ainda assim há essa dificuldade de acesso ao crédito, resquícios de uma escravidão que “acabou” a 129 anos, mas que não garante ao negro os mesmos espaços que outros possuem. A falta de oportunidades iguais reflete nessa dificuldade de o negro ascender no Brasil.”
Além de representarem uma fatia importante da sociedade brasileira, já que correspondem a 54% da população, os negros também já são maioria entre os empreendedores. Levantamento feito pelo Sebrae entre os anos de 2002 e 2012 mostra que 50% dos donos de negócios no país são afrodescendentes, 49% são brancos e 1% pertencem a outros grupos populacionais. Diante desse cenário, Juvenal concorda que as dificuldades impostas aos negros prejudicam a economia nacional.
“É por isso que nós temos que trabalhar para evitar a negação e a neutralidade de determinados setores sobre a existência do racismo. É um importante passo para a inserção efetiva da população negra no mercado de trabalho.”
Para iniciar uma mudança nesse cenário, Cornelius afirma que é preciso, antes de tudo, elevar a confiança da população negra sobre sua capacidade, confiando a eles posições-chave e cargos de decisão.