Escassez na abundância

Em artigo, senadora Lúcia Vânia alerta para o apagão no abastecimento d´água no País

Notícias - 25/04/2011

Em artigo, senadora Lúcia Vânia alerta para o apagão no abastecimento d´água no País

O título que adoto neste artigo é paradoxal, porque a problemática de que trataremos é, igualmente, paradoxal.
Há de se pensar, ainda, nos grandes eventos que o Brasil vai sediar: Copa do Mundo e Olimpíadas. O primeiro paradoxo é que o Brasil possui o maior potencial hídrico do planeta, ou seja, 12% da água doce superficial do planeta. Pela lógica, portanto, o nosso país deveria, literalmente, dormir em berço esplêndido em relação ao seu abastecimento futuro de água.

O segundo paradoxo é que, pelo diagnóstico publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA), o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, o país corre o risco de chegar a 2015 com sérios problemas de abastecimento de água em mais da metade dos seus municípios. Todos os 5.565 municípios brasileiros foram mapeados: 55% deles correm risco de desabastecimento de água nos próximos anos.

Grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e Distrito Federal estão em situação de risco. Esses centros urbanos representam 71% da população urbana do país, ou seja, 125 milhões de pessoas, já considerado o aumento demográfico.

Os paradoxos continuam quando olhamos as regiões brasileiras. A Amazônia concentra 81% do potencial hídrico do país, mas menos de 14% de sua população urbana é atendida por adequados sistemas de abastecimento.

Para evitar a escassez nos 3.059, ou 55% dos municípios, será necessário um conjunto de obras para o aproveitamento de novos mananciais, além de adequações no sistema de produção de água. O montante de recursos necessário é de R$ 22,2 bilhões para o mínimo necessário. Se concluídas até 2015 as obras garantirão um abastecimento até 2025.

Dos R$ 22,2 bilhões requeridos para o Brasil, o Centro Oeste requer R$ 1,7 bilhão. Desde total, o Distrito Federal, que congrega 30 regiões administrativas, e Goiás, concentram 85% de todos os recursos a serem investidos na região, ou R$ 1,5 bilhão.

Especificamente, o Estado de Goiás precisa investir cerca de R$ 700 milhões até 2015 para garantir o abastecimento de água a 80% da população até 2025.

Segundo a empresa de Saneamento de Goiás (Saneago), 113 dos 224 municípios atendidos por ela necessitam de várias intervenções, tais como adequações, ampliações e indicação de novos mananciais.

Esses municípios representam 46% dos municípios do Estado os quais, recebendo o investimento devido, teriam a sua situação amenizada, sobretudo nos períodos de seca.

Pelo Atlas Brasil, atualmente 20% da população de Goiás, ou mais de 1,2 milhão de habitantes, não têm água tratada em seus domicílios. Por outro lado, o investimento necessário para universalizar o acesso de água no Estado é de R$ 1,5 bilhão.

Como alerta às autoridades essa situação vem se mantendo ao longo dos anos, sem que providências sejam tomadas.

O quadro crítico do Estado está na região do Entorno de Brasília, na região metropolitana de Goiânia e em Anápolis.

A região metropolitana de Goiânia é privilegiada nesse contexto, porque tem o seu abastecimento garantido até 2025 pela barragem do ribeirão João Leite, que é considerada uma das maiores obras de saneamento do Brasil. Hoje tenho o prazer de ter apresentado emenda ao Orçamento da União, compondo os primeiros recursos para a construção da obra, que teve um investimento total de R$ 188 milhões, incluindo as desapropriações e 34 projetos ambientais.

Para que a água chegue a Aparecida de Goiânia e arredores será necessária a ampliação do sistema de distribuição, que exigirá investimentos de mais cerca de R$ 272 milhões de reais.

Já o Entorno da cidade de Brasília será atendido pelo manancial resultante da represa de Corumbá IV.

Dentro da problemática da água, até como educação ambiental para todos nós, temos que abordar o desperdício, tanto na engenharia de distribuição, quanto no uso pela população. No primeiro caso há uma perda de 40% da água desde a saída do líquido dos mananciais até o consumidor final. No caso do consumidor vivemos numa verdadeira cultura do desperdício. Gastamos água em nossas casas como se não houvesse nenhum risco de escassez.

Acresce-se a isso o lançamento de esgotos in natura nos rios e mananciais.

Por falta de espaço não posso analisar outros aspectos como a importância da água tratada para a saúde da população, para a indústria, para a agricultura e para a economia de um modo geral.

Há de se pensar, ainda, nos grandes eventos que o Brasil vai sediar: Copa do Mundo e Olimpíadas.

Portanto, no meio da abundância de 12% dos recursos hídricos vivemos na iminência de uma escassez de abastecimento para a população brasileira, a menos que o poder público gerencie de forma competente a questão.

Fonte: Jornal Diário da Manhã de Goiânia

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25/04/2011