Façam o que eu digo e não o que eu faço
Tornou-se corriqueira a fala das oposições de culpar o Governo Federal por todas as mazelas econômicas, sociais e até políticas do País. É fácil. As injustiças sociais são gritantes, a concentração de renda é perversa, alguns setores ainda mantêm privilégios, inclusive com apoio explícito dessas mesmas oposições. É como se o governo social-democrata do presidente Fernando Henrique governasse o Brasil desde 1500.
A novidade, na última semana, é que o governo norte-americano resolveu endossar essas críticas, sob a mesma ótica irresponsável, fácil e leviana. Em relatório do Departamento de Estado, relaciona o atual salário-mínimo e a má distribuição de renda no Brasil como “violações dos direitos humanos.”
A resposta do presidente Fernando Henrique foi forte, precisa e com endereço certo: “Não podem me cobrar por 500 anos de exploração.” Acusar o atual governo tucano por distorções históricas é desconhecer o muito que já foi feito e as ações protecionistas e nefastas adotadas pelo próprio governo dos Estados Unidos e de países europeus.
É bom lembrar aos desavisados e oportunistas que o povo brasileiro está fazendo um enorme esforço de ajuste fiscal por conta da forte ação especulativa internacional contra o País, que levou à desvalorização cambial. É bom lembrar que nos últimos dois anos o governo dos EUA usou de atos discriminatórios para barrar produtos brasileiros, desde siderúrgicos a suco de laranja. Cabe o ditado popular: “Façam o que eu digo não o que eu faço.”
A globalização é inexorável e o PSDB sempre atacou as teses xenofobistas de alguns partidos esquerdistas. Mas é fundamental que as regras de comércio internacional sejam respeitadas e praticadas por todos e não apenas por aqueles que, historicamente, criaram condições econômicas que lhe dão maior força e poder de barganha.
O tom do relatório norte-americano, diante dessa agressiva realidade econômica internacional, se reveste de hipocrisia quando critica as condições de vida no Brasil como se elas estivessem fora desse duro contexto internacional. Como se os governos norte-americano e europeus não tivessem qualquer responsabilidade sobre as terríveis conseqüências sociais de suas ações restritivas de comércio no Brasil e em toda a América Latina.
Mas, como diz outro ditado, os cães ladram e a caravana passa. O governo social-democrata de Fernando Henrique já retirou 160 mil crianças que trabalhavam no corte de cana-de-açúcar. Noventa e seis por cento das crianças brasileiras estão nas escolas. Cerca de 15 milhões de brasileiros saíram da faixa de miséria. Esses são os fatos. O resto é conversa para americano ver.