Governança mais rígida na Petrobras será “fundamental” para a retomada de confiança e credibilidade, diz Adriano Pires
Brasília (DF) – Em meio a um processo de reorganização interna após os inúmeros escândalos de corrupção durante o governo da presidente afastada Dilma Rousseff, a Petrobras estuda agora ingressar no Programa de Governança das Estatais, lançado no ano passado pela BM&FBovespa. Com isso, a estatal teria de adotar regras de gestão ainda mais rígidas do que as já previstas em lei. O diretor de Governança, Risco e Conformidade da estatal, João Elek, afirmou nesta terça-feira (19) ao jornal O Estado de S. Paulo que o objetivo da medida é fazer com que a companhia ganhe a confiança do público estratégico depois de passada a “má experiência” dos últimos anos.
Segundo a matéria do Estadão, Elek chegou à empresa no início do ano passado encarando os questionamentos provocados pelo desenrolar da Operação Lava Jato, que colocaram em xeque a credibilidade da companhia. O executivo disse que processos internos mudaram e que o diálogo com o conselho de administração da empresa se intensificou. Na avaliação dele, um dos principais desafios tem sido lidar com os empregados, que tiveram a reputação manchada por conta das denúncias de corrupção que envolveram a companhia. Apesar dessa reação, no entanto, hoje a percepção já começa a mudar e já vem sendo identificada uma melhora no otimismo do corpo de trabalho da empresa.
Para o economista e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, o processo de aprimoramento da governança é um passo “fundamental” na retomada de confiança e credibilidade da estatal. “A recuperação da Petrobras passa pela necessidade de a estatal ter uma governança semelhante a de grandes empresas do setor. Na gestão do PT, essa governança foi totalmente perdida. Em escândalos como o da refinaria de Pasadena, o Conselho falou que não tinha nada a ver com aquilo. Ou seja, há um bate-cabeça enorme entre Conselho e diretoria executiva que deve acabar. Essa rigidez maior será essencial para isso”, explicou.
Lei das Estatais
Entre as mudanças em curso, segundo Elek, está o fim de uso político na escolha de nomes para o conselho de administração. Nesse contexto e em meio ao debate iniciado com a Lava Jato, foi sancionada no início do mês a Lei de Responsabilidade das Estatais, proposta pelo PSDB. Segundo Pires, a nova lei vem no sentido de ajudar a mudança de governança na Petrobras a ser ainda mais profunda.
“Para melhorar a condução interna da empresa, é necessário um conjunto de mudanças. Melhorar a governança é uma das coisas fundamentais para a estatal voltar a ter credibilidade, mas não é isso só que basta. A empresa tem que estar preocupada em produzir e vender petróleo, por exemplo, sua atividade-fim. Essa retomada deve ser feita de uma maneira inteligente, sem negligenciar nada”, afirmou.