Governo Lula está disposto a aceitar o Hamas
Correio Braziliense (3 de fevereiro) – O Brasil não prega o isolamento do recém-eleito governo palestino liderado pelo Hamas e dá sinais de que reconhecerá a liderança do grupo radical, conquistada com 60% dos votos no último dia 25. Mas o chanceler Celso Amorim advertiu ontem que o governo brasileiro só dará legitimidade à organização se ela buscar a paz e reconhecer o Estado de Israel. Num tom otimista, o ministro ressaltou que “se eles escolheram a via eleitoral, estão demostrando que preferem a política a outros meios”. Amorim disse não ter recebido, por parte do Hamas, um pedido de apoio formal do Brasil à nova liderança da Autoridade Palestina (AP).
O sentimento dominante no Itamaraty é de que a escolha do povo palestino deve ser respeitada. Em conversas com a reportagem, diplomatas brasileiros alegam que a eleição foi transparente e incontestável. Alguns até acolhem com entusiasmo a renovação no cenário político palestino, lembrando o desgaste do Fatah, partido rival. Um dia depois do pleito, que teve participação de observadores brasileiros, o Ministério divulgou nota qualificando a votação de “marco decisivo para a consolidação da democracia”, sem fazer menção alguma ao Hamas. Entre os palestinos, o comunicado é considerado um sinal implícito de apoio e reconhecimento.
Em plena ofensiva diplomática para isolar o Hamas e pressionar os financiadores da Autoridade Palestina a suspender a ajuda ao territórios, autoridades israelenses esperam que o Brasil seja mais firme na condenação aos princípios do grupo radical, que prega a destruição de Israel. A embaixadora israelense em Brasília, Tzipora Rimon, passou ontem quase duas horas no Itamaraty. Na véspera, ela disse ao Correio que busca “compartilhar com o Brasil a preocupação de que nem eleições democráticas podem legitimar uma organização terrorista que nega Israel”.
As preocupações israelenses aumentaram com o anúncio, ontem, na imprensa brasileira, de que o Hamas planeja enviar uma missão ao Brasil – possivelmente liderada por Ismail Haniyeh – para pedir apoio político e financeiro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A representação palestina em Brasília negou a informação, e Amorim disse não ter sido comunicado sobre o fato. A hipótese, no entanto, não está descartada, pois o Hamas aposta alto que o Brasil manterá seu tradicional bom relacionamento com os árabes.
Colaborou Claudio Dantas Sequeira