Horizontes incertos
Que consequências , no terreno econômico, poderão resultar para o país, caso um candidato de oposição assuma o poder no início de 2003?
Uma resposta fechada seria um exercício temerário, pois não podemos adivinhar os desdobramentos de vários fatores, como a contração mundial em curso, a crise da Argentina e a crise energética.
Não quero insistir nas especulações em torno de Itamar e Ciro. Na opinião de muita gente, entre as quais me incluo, a vitória de um ou de outro representaria um grave retrocesso, como espero em outra oportunidade ressaltar. Fico na candidatura de Lula, principalmente porque sua indicação nasce de um partido que realizou uma significativa trajetória de crescimento, tendo ressonância em setores ponderáveis da sociedade brasileira.
Não obstante, uma eventual vitória do candidato petista preocupa, por várias razões. Em primeiro lugar, pela incapacidade de enfrentar as questões essenciais da economia, ficando sempre em generalidades retóricas.
Quando, recentemente, já não era mais possível manter-se nessa postura, produziu-se um documento que é dúbio e muitas vezes contraditório na concepção de um “modelo alternativo“. Recusa o calote e faz juras de respeito aos contratos, ao mesmo tempo em que defende a adoção de um limite para o pagamento dos juros da dívida pública; apregoa a responsabilidade fiscal e reconhece tardiamente a importância fundamental da estabilidade monetária, ao mesmo tempo em que se compromete com um enorme aumento de gasto público; identifica corretamente a necessidade de acelerar o desenvolvimento tecnológico do país, ao mesmo tempo em que enxerga por um prisma marcadamente negativo a abertura da economia brasileira.
Mesmo esse documento temperado, embora mal cozido, sofreu a crítica interna dos setores radicais do PT que não são nada desprezíveis. Qual o peso que eles teriam na neutralização dos setores mais responsáveis do partido, quando a gritaria crescesse em defesa da ruptura com o atual “modelo econômico“, o que significaria, na prática, a tentativa desastrosa de isolar-se de um mundo interdependente?
Está na hora também de lembrar a figura de Lula, um ícone do PT que, certamente, não seria na Presidência da República um personagem decorativo. O candidato petista mostra que até hoje não desceu do palanque e não há indícios de que algum dia irá descer. Não é apenas uma questão de estilo, mas de conteúdo.
Vão aqui uns poucos exemplos: quem em vez de discutir alternativas viáveis limita-se a chamar Pedro Malan de “boneco do FMI“, diante dos esforços do ministro no sentido de proteger o Brasil da tempestade argentina; quem chega a olhar com nostalgia aspectos do regime militar (a política industrial do general Geisel, as rasteiras, imaginárias ou reais, aplicadas pelo ministro Delfim ao FMI), quem chama Tony Blair de blefe, quando o primeiro ministro britânico abre uma fresta de critica à política protecionista agrícola européia, deixa no mínimo sérias dúvidas sobre o conteúdo de suas ações, caso venha a alcançar o poder.
Enfim, se tudo isso não é de morrer de medo, é causa de muita preocupação.