Lentidão nas obras de transposição pode levar Fortaleza ao colapso hídrico em 2017
A conclusão da transposição do rio São Francisco paralisada pelo PT pode ser a única alternativa para solucionar a crise
A lentidão e a falta de compromisso das gestões do PT com o projeto de transposição do rio São Francisco poderá prejudicar o abastecimento hídrico de fortaleza em 2017. Com mais de 3,5 milhões de habitantes, a capital cearense sofre com o quinto ano consecutivo de seca no Nordeste e poderá depender unicamente da conclusão das obras de transposição para atender a demanda de água da população.
Segundo O Valor, a situação preocupa o governo do Ceará que teme não haver tempo hábil para aguardar por uma nova licitação a fim de substituir a empreiteira Mendes Júnior, que abandonou as obras no trecho que levará água a Jati (CE), na divisa com Pernambuco. A atual crise econômica herdada do governo Dilma prejudicou a conclusão do trecho. Segundo o jornal, ainda faltam 10% do canal para a obra ser finalizada.
A previsão atual do Ministério da Integração é de que o trecho norte, que inclui a parte da Mendes Júnior, só fique pronto no segundo semestre de 2017. Devido à urgência da situação, o governo fez três propostas: a dispensa de licitação para a contratação de uma empreiteira que já estivesse em ação em outro trecho da obra, um leilão reverso ou uma intervenção do Exército.
O presidente da frente parlamentar do São Francisco, deputado estadual Carlos Matos (PSDB), não é a favor da dispensa de licitação e criticou a forma como o PT conduziu as obras até o momento. “Fazer obra sem licitação é um estilo petista de governar que gerou a Lava Jato. Gerou escândalos atrás de escândalos. Porque parece que é para dar velocidade, mas na verdade, uma dispensa de licitação está, muitas vezes, escondendo um modelo de corrupção. A dispensa de licitação é muito perigosa e nessa altura não faria muita diferença porque a licitação já está em andamento. É preciso acelerar o ritmo de trabalho”, disse.
O tucano participa de reunião nesta sexta-feira (11) com técnicos do Ministério da Integração Nacional para discutir as soluções mais rápidas para o problema. “Fortaleza vai entrar em colapso. O setor produtivo cearense pode entrar em colapso. Não podemos deixar isso acontecer. O governador teve um discurso muito político para tirar a responsabilidade do Estado e transferir para o governo federal. Na reunião com o presidente na semana passada, essa versão caiu por terra. O governo federal tem feito muito mais do que estava sendo feito no governo passado”, afirmou.
Matos atribuiu o caos hídrico vivido pela região Nordeste à falta de planejamento e seriedade com que os ex-presidentes Dilma e Lula trataram a questão da transposição. “Esse investimento da transposição do São Francisco ficou uma obra gigantesca sem ter os canais para chegar até aqui [Fortaleza]. Foram investidos R$ 11 bilhões até aqui e os canais que fariam a água chegar até o principal reservatório do Ceará, que é o Castanhão, não foram feitos. Não estão planejados e não estão no orçamento. Fica evidente a falta de planejamento. Fica evidente que a forma que o PT trabalha é de jogar para a plateia sem pensar na consequência”, lamentou.
O governo do Ceará tem adotado iniciativas para reduzir o consumo de água nas cidades grandes, com aplicação de elevadas multas a consumidores que extrapolarem limites pré-estabelecidos e a construção de poços e adutoras, mas ainda não foi adotado racionamento.
“Faltou por parte do PT uma política mais ampla, mais do que a própria transposição. Nós não tivemos nenhuma inciativa de uso eficiente da água no Nordeste. Então nós continuamos, por exemplo, com um desperdício muito elevado de água. Aqui em Fortaleza nós estamos com um sistema de multa e o consumo foi reduzido a 5% apenas. Nós precisamos também incentivar o reuso de água. Fortaleza perde 25% de sua água para o mar sem reutilizar nada”, explicou Carlos Matos.
A obra da transposição do Rio São Francisco foi orçada inicialmente em R$ 4 bilhões, mas a obra não deverá sair por menos de R$ 9,6 bilhões, de acordo com o governo federal. Já foram investidos R$ 8,4 bilhões, dos quais R$ 1,75 bilhão só em 2015. Este ano já soma gastos de R$ 1 bilhão.