Leonel Brizola
No último dia 21 do corrente mês, faleceu, para tristeza do povo brasileiro, o engenheiro Leonel de Moura Brizola.
Homem público obstinado, honrado e coerente, sempre colocou acima de tudo os reais interesses do Brasil. Foi deputado estadual, prefeito de Porto Alegre, deputado federal e três vezes governador de Estado, sendo uma pelo Rio Grande do Sul e duas pelo Rio de Janeiro. Brizola teve participação decisiva na cadeia da legalidade, quando assegurou a democracia, impedindo a realização de um golpe de Estado e garantindo a posse de João Goulart.
Fundou o Partido Democrático Trabalhista (PDT), após ser-lhe tomado, de forma injusta, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Conheci pessoalmente Brizola em 1983. Era êle governador do Rio de janeiro, pela primeira vez, e eu tinha a honra de governar o querido Estado do Ceará. A rigor, não tivemos um relacionamento íntimo, porém muito sincero, respeitoso e estivemos solidários em causas significativas. Em 1986, fomos os dois únicos governadores a tomarem, antecipadamente, posição contra ao fracassado Plano Cruzado. Defendi, como êle, o movimento das “Diretas Já”, apesar de pertencer ao então partido da situação. Tenho a consciência tranquila que não estava sendo incorreto com o meu partido, mas fiel ao povo brasileiro que desejava escolher o seu presidente. Posteriormente, ao lado de Aureliano Chaves, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, José Richa e tantas outras lideranças importantes do País nos engajamos na luta para eleger Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Brizola foi fundamental nesse início do processo de redemocratização brasileira.
Em 1989, tivemos um reencontro. Brizola era candidato à Presidência da República e eu 2º vice – presidente nacional do PTB. Desenvolvi esforços pela união do trabalhismo, ou seja, levar a totalidade do PTB a apoiar a candidatura do PDT. Vários companheiros de então apoiaram Brizola, no entanto, não consegui a desejada coligação. Havia resistência em ambas as siglas, não de Brizola, pois com humildade soube superar as divergências ainda existentes. Acredito que se tivesse havido a coligação Brizola teria ido para o 2º turno e, com certeza, venceria a eleição de Collor.
Brizola partiu, tendo o povo brasileiro a consciência de que êle cumpriu com dedicação, amor, e civismo o seu papel, deixando como herança o exemplo de como deve ser um político honesto, justo, trabalhador e preocupado com os mais humildes.