Lula é vaiado por estudantes em Alagoas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vaiado ontem à tarde por um grupo de 30 estudantes universitários enquanto discursava na solenidade de lançamento da pedra fundamental do Memorial da República, em Maceió. Lula reagiu falando de improviso no evento que marcou os 115 anos da proclamação da República e foi assistida por cerca de duas mil pessoas.
– O Brasil avançou tanto, a democracia avançou tanto, que até nossos companheiros conquistaram o direito de vir protestar. Acho isso de um significado extraordinário. Acho que isso demonstra que a democracia no Brasil veio para ficar. Como gritei a vida inteira em todos os palcos do mundo, nunca vou achar ruim que as pessoas gritem. Apenas quero dizer que muitas vezes as pessoas gritam até sem saber por que estão gritando – disse Lula.
Manifestantes jogaram ovos e tomates contra Lula
Em meio aos gritos de “traidor” e às vaias dos estudantes, o presidente emendou:
– Se esses meninos que estão gritando aí fossem representantes da oligarquia de Alagoas, poderiam me chamar de qualquer coisa. Porque se fossem trabalhadores, iriam reconhecer que nunca na história do Brasil os trabalhadores chegaram a tão alto patamar de participação politica. E nunca participaram tanto das decisões.
Os estudantes da Universidade Federal de Alagoas protestavam em nome do movimento “Na luta para barrar a reforma universitária” e pediam por uma universidade pública e ensino de qualidade. Os manifestantes jogaram ovos e tomates em direção do presidente, que não foi atingido.
Cerca de 25 policiais militares isolaram o grupo. Lula, o governador Ronaldo Lessa e as demais autoridades não esconderam o constrangimento. O evento estava marcado para acabar às 17 h, mas o presidente saiu 40 minutos antes do previsto. Durante o discurso, os cerca de 30 estudantes exibiam faixas com a inscrição “Não à reforma privatista” e gritavam palavras de ordem como “1, 2, 3, 4, 5 mil, parem a reforma ou paramos o Brasil”.
– O presidente Lula está traindo os interesses dos estudantes e trabalhadores. O maior exemplo disso é a reforma universitária. O governo não está conversando com os estudantes sobre esta proposta – disse Larissa Paes, coordenadora do DCE e uma das líderes do grupo.
Esse não foi o único protesto que o presidente enfrentou ontem. De forma pacífica, cerca de 60 trabalhadores do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL) foram até o local pedir mais agilidade no processo de reforma agrária e a desapropriação da fazenda Belo Horizonte, no município de Novo Lino, que pertence ao ex-governador Geraldo Bulhões. Com bandeiras, eles ficaram em frente onde Lula estava discursando. Tentaram, sem sucesso, entregar uma carta ao presidente.
– Entendo até que Lula está há pouco no governo, mas o programa de reforma agrária está quase parado – disse o coordenador regional do MTL, Manoel Sebastião Oliveira.
No discurso, Lula condenou a concentração de renda no país. Afirmou que a desigualdade social é um problema que, mesmo após 115 anos da proclamação da República, ainda não foi resolvido.
– Nossa desigualdade não desconcerta apenas pela magnitude, mas pela persistência. O Brasil foi injusto na decadência do Império e, apesar de algumas conquistas populares importantes, atravessou, ainda injusto, 115 anos de República.
Em seguida, Lula seguiu para o bairro do Jaraguá onde recebeu a Medalha do Mérito da República Marechal Deodoro. Também receberam a comenda o vice José Alencar, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, os governadores Vilma Farias (Rio Grande do Norte), Jorge Viana (Acre) e personalidades como o ex-deputado Vladimir Palmeira, o empresário Odej Grajew e o locutor da TV Globo Galvão Bueno.
Depois de assistir ao desfile de tropas, Lula lançou a pedra fundamental do Memorial da República e depositou flores no busto do Marechal Deodoro da Fonseca, natural da Alagoas. O presidente chegou a Alagoas sob protesto da população de Marechal Deodoro, que esperava a visita de Lula ontem pela manhã. Ele foi representado pelo ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.