Lula sabia de planilha de propina para o PT, afirma Marcelo Odebrecht
Brasília (DF) – O mantra “eu não sabia”, repetido à exaustão pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na época do mensalão, caiu por terra mais uma vez, agora no âmbito das investigações da Operação Lava Jato. O empresário Marcelo Odebrecht revelou nesta segunda-feira (4), em audiência com o juiz federal Sergio Moro, que o ex-presidente tinha sim conhecimento da planilha de propinas nomeada “Italiano”, com recursos que eram destinados ao PT pelo Setor de Operações Estruturadas da empresa.
As informações são de reportagem publicada nesta terça-feira (5) pelo jornal O Globo. Os pagamentos ao PT eram administrados pelo chamado “departamento de propina” da Odebrecht, e teriam sido sacados em espécie pelo ex-assessor do ex-ministro Antonio Palocci, Branislav Kontic. O destino do dinheiro seria o ex-presidente Lula.
Em depoimento na ação que investiga Lula por ter recebido vantagens indevidas da construtora Odebrecht, entre elas a compra de um terreno em que seria construída a nova sede do Instituto Lula e uma cobertura vizinha ao apartamento em que o petista vive, em São Bernardo do Campo (SP), Marcelo Odebrecht contou que ficou claro para ele que Lula sabia da planilha. Isso porque, em 2010, o empresário pediu que seu pai, Emílio Odebrecht, falasse com o então presidente Lula avisando-o que o valor que o grupo doaria para a campanha petista não seria muito alto, já que os desembolsos para a legenda já haviam começado muito antes, em 2008.
Logo depois, Odebrecht teria sido interpelado por Palocci, que questionou o valor que já havia sido creditado ao Partido dos Trabalhadores. “Ficou claro para mim que o Lula sabia [da planilha]”, afirmou Marcelo Odebrecht, já que o assunto não havia sido tratado com o ex-ministro antes.
Para o deputado federal Geraldo Resende (PSDB-MS), o caso é mais um exemplo da “amnésia seletiva” que tem sido sistematicamente demonstrada pelo ex-presidente Lula a cada nova denúncia a que responde na Justiça.
“Ficou reiterado que o ex-presidente Lula parece que tem uma amnésia seletiva, até porque ele tem, repetidamente, se esquecido de fatos pretéritos, na medida em que já está mais do que comprovado, com todas as provas cabais, que ele era conhecedor de todo esse processo, que aponta que ele, de fato, negociou com o Marcelo Odebrecht, com a Odebrecht Engenharia, para que pudesse receber recursos e construir o Instituto Lula”, avaliou.
As provas, na avaliação do parlamentar, são “bastante robustas”, restando ao petista apenas a preocupação com a sua própria defesa, sem os já tradicionais ataques feitos por ele e pela sua defesa aos delatores, à Operação Lava Jato e ao próprio Ministério Público Federal.
“Não há o que se possa fazer. Certamente ele vai, no momento adequado, pagar por todos os crimes e mal feitos que cometeu no passado”, completou o tucano.
Repasses para Lula
Na planilha “Italiano”, gerenciada por Antonio Palocci, os valores pagos ao PT apareciam como “Programa B”, somando R$ 9 milhões. “Eu tenho certeza, pela dinâmica da planilha, que os três últimos [saques] foram para Lula, porque eles são descontados do saldo da conta ‘Amigo’”, explicou Odebrecht.
Os chamados programas se dividiam em B4, que realizou pagamento de R$ 3 milhões de novembro a dezembro de 2012; B5, de R$ 5 milhões de janeiro a outubro de 2013; e o programa B6, de dezembro de 2013 cujo valor era de R$ 1 milhão. Segundo Odebrecht, todos os repasses eram destinados a Lula, que não quis comentar as novas acusações.