Missão científica

Notícias - 28/11/2001

“O sistema brasileiro de pesquisa cientifica é invejado por todos os países em desenvolvimento. Nos últimos dez anos, passamos de 0,4% para 1,3% da produção do conhecimento científico mundial. E, nesse período, a ciência mundial produziu muito“, diz Carlos Américo Pacheco, secretário-executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia. Crescemos a 12% ao ano, quando o mundo cresce a 9%.

Pacheco diz isso a propósito do recém-concluído Relatório Tundisi. Esse relatório foi feito por uma equipe de 72 especialistas, a partir de um núcleo de dez cientistas chefiados pelo ex-presidente do CNPq José Galiza Tundisi. Desde maio do ano passado, eles visitaram e avaliaram os 22 institutos de pesquisa que dependem do ministério, com o objetivo de propor missões determinadas para cada unidade e sua adequação ao conjunto do sistema de ciência e tecnologia nacional, em função dos objetivos estratégicos do país nos próximos dez anos

Os 22 institutos de pesquisa do ministério foram criados em épocas diferentes e com objetivos diversos. O mais antigo é o Observatório Nacional, criado há 174 anos por dom Pedro I com o objetivo, entre outros, de estabelecer a hora oficial. O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, que reuniu a nata dos físicos da época, nasceu em 1947 como uma entidade privada, fundado pelo almirante Álvaro Alberto e por João Alberto Lins e Barros, o mais versátil revolucionário de 1930. Os tempos passaram, o Ministério da Ciência e Tecnologia foi fundado há 15 anos e nele perduram até hoje as marcas do primeiro ministro a chefiá-lo, Renato Archer, que criou programas de dez anos de maturação, como o Laboratório Sinclotron, em Campinas, e o Centro de Previsão do Tempo e do Clima, de Cachoeira Paulista. Archer deu ainda a partida para a construção do satélite sino-brasileiro, que está em órbita, enviando as informações que só a nos interessam.

Os institutos de pesquisa, que estavam sob a responsabilidade do CNPq, passaram para o ministério, mas, segundo Pacheco, faltavam-lhes uma política e a definição clara de suas missões. Além disso, deixavam a descoberto algumas áreas essenciais de pesquisa, como o mar, o semi-árido nordestino e a Amazônia. A distribuição geográfica dos institutos também reflete as circunstâncias históricas: não há um único instituto no Sul ou no Nordeste. Há nove no Rio e quatro em São Paulo.

Além dos institutos do Ministério da Ciência e Tecnologia, outros ministérios também têm os seus, alguns muito importantes, como a Fiocruz, do Ministério da Saúde; a Embrapa, do Ministério da Agricultura, que é o maior conjunto de pesquisas do país, com mais funcionários e um orçamento maior que a soma das unidades do Ministério da Ciência e Tecnologia; o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), de São José dos Campos, do Ministério da Defesa; o Ipea, do Ministério do Planejamento; o Inmetro, do Ministério do Desenvolvimento.

Os avaliadores, que promoveram debates com as equipes de cada unidade de pesquisa, dividiram o trabalho em seis blocos, cada um com afinidades entre os seus institutos, como os três da Amazônia, os que têm foco na ciência, como o CBPQ, e o Impa (Instituto de Matemática Aplicada), que é dos menores e, apesar de ter somente 30 pesquisadores, é também dos de maior reconhecimento internacional. Há nisso uma contradição: apesar de a matemática brasileira ser das mais avançadas do mundo, o ensino de matemática nas escolas de ensino médio é muito ruim. A intenção do MCT é induzir o Impa a procurar impactar o sistema nacional de ensino médio, produzindo livros didáticos, aumentando o treinamento de professores nos seus cursos de verão e promovendo um maior número de olimpíadas de matemática.

As universidades são a grande matriz da pesquisa, produzindo 85% do conhecimento novo do país. Os seus cursos de pós-graduação, anualmente avaliados pela Capes, diplomam seis mil doutores e 19 mil mestres por ano. O ritmo de crescimento é de 10% ao ano. Nesse cenário, a participação das universidades paulistas é arrasadora. As três universidades estaduais empregam 25,5% dos doutores da academia brasileira. Só para comparar: a UFRJ, a maior universidade federal, emprega 6%, menos de metade da USP.

Os institutos de pesquisa do MCT respondem por apenas 5% do conhecimento novo, mas essa participação tende a aumentar, com seus 4.600 bolsistas.

Outra razão para essa expectativa é o aumento dos investimentos em ciência e tecnologia. Em um ano esses investimentos passaram de R$ 900 milhões para R$ 1,3 bilhão. Com o aporte pleno dos 14 fundos de desenvolvimento científico criados no atual governo, o crescimento será maior ainda. Restará ultrapassar o obstáculo maior: como levar novas descobertas ao setor produtivo? Por enquanto, só a Embrapa faz isso com rapidez e eficiência.

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28/11/2001