Mudança na Lei de Cotas incentiva o jovem com deficiência a “passar do ensino médio”, ressalta Mara Gabrilli

Imprensa - 10/02/2017

mara-gabrilli-foto-george-gianni-psdbUma das mais atuantes defensoras dos direitos das pessoas com deficiência no Congresso Nacional, a deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP) acredita que o país ainda não conseguiu solucionar os principais problemas que impedem que milhões de jovens deficientes do país imaginem um futuro melhor para suas vidas por meio do acesso a uma educação de qualidade.

Seja pelos problemas relativos à acessibilidade, seja pela falta de um currículo escolar adaptado às necessidades desses alunos ou até mesmo por questões mais amplas, como as carências no sistema de saúde, Mara considera que as crianças com deficiência de todo o país têm poucos estímulos para continuar os estudos na vida adulta após tantos obstáculos enfrentados já nos anos iniciais de escola. Mas, para a tucana, esse cenário deve mudar a partir de 2017, com a lei que estende o acesso a Lei de Cotas aos estudantes deficientes, resultado de um projeto do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).

Tetraplégica há mais de 20 anos, a deputada tucana crê que a nova legislação, ao incluir as pessoas com deficiência na relação de candidatos com vagas reservadas nas universidades federais, estimula os jovens estudantes deficientes de todo o país a continuarem lutando por seus sonhos. “Hoje, para uma pessoa com deficiência conseguir estudar no Brasil, é um desafio muito grande. Quando ela é criança, se ela tiver uma deficiência física e precisar de uma cadeira de rodas, ela tem que esperar uns quatro, cinco anos para o SUS entregar essa cadeira para ela conseguir chegar na escola. Mas digamos que ela conseguiu chegar na escola – aí, vai ver que só 21% das escolas de ensino básico no Brasil têm acessibilidade”, lamentou a deputada.

“Então ela tem cadeira, pode ir, mas será que vai chegar? Será que ela tem transporte? Aí ela chega, e será que a escola é acessível? Então pensando assim, se já é tão difícil chegar no ensino fundamental, você pode imaginar a dificuldade de chegar no ensino superior. Por isso, pelo fato de ter cotas, com esse projeto do senador Cássio, acho que a gente vai conseguir dar um upgrade, num curso superior, das pessoas com deficiência, e por consequência melhorar a empregabilidade e conseguir contratar mais gente na lei de cotas”, analisou a tucana, em referência à legislação que determina a contratação de pessoas com deficiência por empresas.

Segundo a parlamentar, do total de estudantes nas salas de aula das universidades brasileiras, apenas 0,3% são deficientes, número muito inferior à presença do contingente com deficiência na população geral, que é de 23,9%, de acordo com o Censo de 2010. Mara Gabrilli afirma “ter certeza” de que a nova lei de cotas equilibrará essa proporção, permitindo que, em futuro próximo, as pessoas com deficiência sejam muito mais bem representadas nos campi universitários brasileiros.

“Um projeto desse impulsiona mais profundamente, ao incentivar o jovem com deficiência a passar do ensino médio. Eu acho que é um super estímulo e que com certeza vai contribuir muito”, celebrou a tucana. “O fato de a gente tratar uma cota joga uma estrelinha de esperança no fim do túnel, porque depois de toda a dificuldade que ele [estudante com deficiência] pode passar para conseguir terminar o ensino médio, ele vai ter a recompensa de ter a possibilidade do ensino superior”, disse.

Ensino básico

Apesar do impulso dado pelas mudanças na Lei de Cotas, Mara Gabrilli ressalta que o país ainda deve avançar muito para garantir uma maior integração das pessoas com deficiência ao ambiente escolar. Na avaliação da parlamentar, até mesmo à frente de questões como falta de acessibilidade, o maior obstáculo encarado por esses estudantes é a falta de adaptação do conteúdo escolar às suas necessidades. “Acho que um problema maior do que acessibilidade física é acessibilidade ao conteúdo. Uma criança cadeirante vai passar por toda essa dificuldade do SUS, do transporte e da infraestrutura da escola, mas a criança surda, a criança cega e a criança com deficiência intelectual, essas vão sofrer a falta de acessibilidade no conteúdo curricular”, argumentou a deputada paulista, salientando ainda a importância de uma melhor preparação dos docentes em relação ao trabalho com crianças deficientes.

“Se você tem um professor preparado para ensinar um aluno surdo, um aluno autista, esse aluno tem toda a capacidade de aprender. O problema é quando o professor não tem a capacidade de ensinar um aluno que tenha características diferentes da maioria, e isso acontece muito na nossa educação. A falta de preparo dos professores, o medo de receber o primeiro aluno com deficiência. A escola tem que estar preparada. Acho que o que falta muito hoje é esse preparo dos professores, essa qualificação e uma adaptação ao currículo escolar para aqueles que precisam de uma certa acessibilidade”, advertiu.

De acordo com a deputada tucana, a falta de ações voltadas para estudantes com deficiências que não sejam físicas traz prejuízos educacionais gravíssimos aos deficientes auditivos, visuais e intelectuais.
“Hoje, no Brasil, muitos surdos brasileiros não sabem ler ou escrever o português. Então se um deles chega numa delegacia, num hospital, não adianta dar um papel e uma caneta na mão dele, se você não consegue se comunicar com o surdo porque ele não sabe o português por despreparo educacional”, observou.

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10/02/2017