Nosso maior acerto no combate à pandemia foi ouvir a saúde, afirma Bruno Covas

Notícias - 19/08/2020

“Não vai ser feeling do prefeito nem pressão de sindicato que vai reabrir as escolas”, afirma o prefeito Bruno Covas à Folha de S.Paulo. Em entrevista, ele falou sobre os acertos da gestão para conter a pandemia do coronavírus na capital paulista e sobre a retomada das atividades na cidade.

Leia alguns trechos:

O que o senhor tem a dizer dessa marca de 100 mil mortos que a gente superou? Como a gente chegou nesse ponto no Brasil e de quem é a culpa de o Brasil ser um dos piores países do mundo no controle da pandemia?
Não é hora de apontar culpados, devemos lembrar que a pandemia ainda não acabou, o esforço precisa continuar a ser feito, vamos deixar a fase de apontar os dedos para o momento seguinte.

Ainda é o momento para a gente lembrar as pessoas que, apesar de toda a flexibilização que a gente está vivendo, as pessoas precisam continuar respeitando os protocolos sanitários, evitar sair de casa ao máximo, usar máscara, evitar aglomeração.

Ainda é o momento de enfrentamento da pandemia, a gente segue aqui administrando e verificando a ocupação de leitos por UTI, continuamos com o programa São Paulo Cidade Solidária para poder distribuir alimentação à população mais carente, a gente segue preocupado com a evolução dos números embora a gente já tenha uma redução do número de óbitos na cidade de São Paulo em relação ao que foi o pico no final de maio, começo de junho.

A preocupação de apontar culpados, acho que não é o momento, ainda mais como prefeito da cidade, a preocupação é com a saúde dos 12 milhões de paulistanos.

Qual o balanço que o senhor faz da reabertura da cidade?
Até agora tem sido positiva, até agora conseguimos reabrir evitando segundo pico da doença, conseguimos retomar grande parte da atividade econômica sem ter de retroceder nas semanas subsequentes, a gente tem visto grande parte dos estabelecimentos respeitando, embora a fiscalização continue a interditar alguns estabelecimentos que têm deixado de cumprir uns protocolos sanitários, a população em sua grande parte tem entendido o recado que, apesar da flexibilização, a pandemia ainda não acabou. Então, a gente tem conseguido colher bons resultados dessa iniciativa, a gente espera ir evoluindo cada vez mais no Plano São Paulo porque isso significa contenção da pandemia e redução do número de mortos.

O senhor vê mais algum evento que São Paulo tenha de cancelar por conta da pandemia em um futuro próximo?
No curto prazo, estão praticamente todos resolvidos, único grande evento que ainda não definiu o que vai fazer com antecedência devida é a São Silvestre, um evento privado. Com as regras atuais, ele não poderia ocorrer.

A organização privada ainda não decidiu se vai correr o risco de manter o evento para esperar em que fase nós estaremos no dia 31 de dezembro ou se já vai cancelar desde já.

No médio prazo, que já exigiria algum tipo de dedicação e recurso da Prefeitura, como é o caso da organização do Carnaval, do Réveillon, e outros privados como a marcha e a parada, a gente já tomou a decisão em relação à postergação ou o cancelamento. Outros eventos ainda estão muito no médio para longo prazo, ainda podem esperar um pouco mais a evolução da doença para tomar qualquer tipo de decisão.

Para o senhor, qual foi seu grande acerto no controle da pandemia em São Paulo?
O grande acerto foi ter apostado na ciência, apostado na saúde, ter colocado em primeiro lugar a vigilância sanitária, ter, de alguma forma, aguentado as críticas daqueles outros setores que, às vezes, se sentiram prejudicados, mas que num momento como esse acabaram sendo preteridos porque o que orientou as ações da prefeitura foram as orientações da área da saúde

Acho que o grande acerto aqui na cidade foi ter sempre seguido a área da saúde.

O senhor acha que falhou em algum ponto, prefeito? Poderia ter feito melhor, poderia ter tomado alguma medida com impacto diferente?
Ser engenheiro de obra pronta é fácil, passar por uma pandemia sem ter um manual de como passar por uma pandemia é que é difícil.

A gente pode ter acertado, pode ter errado, mas o que não pode chamar é de omisso. Em nenhum momento nos omitimos sobre a nossa responsabilidade da saúde de 12 milhões de pessoas, em nenhum momento deixamos de tomar as decisões, por mais duras e difíceis que elas fossem, a gente não deixou de tomar a decisão necessária, essa é uma avaliação que, com mais tempo e com mais prazo, a gente vai poder retomar.

Você pegava a entrevista de alguns epidemiologistas, eles diziam em janeiro desse ano, quando a gente já discutia coronavírus e já estava capacitando os servidores para enfrentar isso, mas alguns diziam que esse era um vírus de inverno e que nem chegaria no Brasil.

A gente teve de ir aprendendo como o vírus evoluía e se comportava ao longo da pandemia.

Logo no início, a questão mais importante e que inclusive gerou uma correria às farmácias era a cotização de álcool em gel. Claro que álcool em gel continua sendo importante, mas se verificou que o uso da máscara é ainda mais importante. A gente foi aprendendo ao longo do tempo a evolução da doença e, com as informações que a gente tinha em cada momento, a gente sempre foi tomando a decisão orientada pela área da saúde.

O senhor acha que é possível que as escolas públicas voltem a funcionar em 2020? O senhor mesmo disse que elas não conseguem nem controlar piolho direito. Por que não anunciar desde já, como algumas outras cidades do estado, que as aulas só vão voltar em 2021, por exemplo?
Primeiro que as falas do que eu disse não são só para escola pública, elas são para escola como um todo, seja ela pública ou privada. Não há nenhum tipo de tratamento diferenciado aqui pela prefeitura em relação à pública e privada, os prazos serão os momentos.

O que eu posso dizer é que o preparo da escola pública já está sendo tomado, inclusive com a aprovação de uma lei municipal que autoriza tomar as medidas necessárias para se for o caso retomar.

Mas vamos tomar a medida assim que tivermos tranquilidade da decisão a ser tomada, não vai ser pressão de grupo político A, de sindicato B, do político C que vai definir a volta às aulas aqui.

Assim que a gente tiver tranquilidade da decisão, inclusive a partir de um inquérito sorológico que estamos fazendo com 6 mil crianças na cidade de São Paulo, vamos tomar a decisão e dar a maior previsibilidade possível aos pais.

Agora também não adianta só para dar a maior previsibilidade possível tomar uma decisão muito precipitada e ter que mudar lá na frente.

O senhor acha que tem chance de que volte esse ano?
Essa é uma questão da área da saúde, eles que vão dizer, não vai ser feeling do prefeito, não vai ser sentimento ‘acho que tem de voltar, acho que não tem de voltar’, vai ser a área da saúde que vai definir.

O governo de São Paulo anunciou a possibilidade de reabrir as escolas para atividade de reforço, acolhimento a partir de 8 de setembro. A prefeitura vai aderir?
Ainda estamos avaliando, a gente espera em breve inclusive com resultado desse inquérito sorológico poder tomar uma decisão se isso vai valer dentro da cidade de São Paulo.

O senhor está fazendo tratamento contra o câncer, e agora está na fase da imunoterapia. Como o senhor está se sentindo?
Descobri o câncer em outubro do ano passado, passei por oito sessões de quimioterapia, que atuaram e fizeram reduzir ao máximo dois dos três tumores que eu tinha, o da cárdia, que era o principal, e o do fígado.

Persistiu o tumor nos linfonodos, razão pela qual eu iniciei um outro tratamento, um tratamento da imunoterapia. Já passei por oito sessões de imunoterapia, nessa última sexta-feira (7), passei de novo por uma bateria de exames para avaliar o tratamento.

A bateria de exames mostra que a imunoterapia está surtindo efeito sobre o tumor nos linfonodos, ele está regredindo com esse tipo de tratamento.

Agora na quarta-feira (19) vou passar pela nona sessão de imunoterapia de um total de 13 que estão previstas.

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19/08/2020