O boicote continua

Notícias - 02/06/2002

Há 13 meses o governo federal reserva mensalmente R$ 2 milhões para complementar a renda das famílias carentes de São Paulo que têm crianças nas escolas, mas esses recursos não são utilizados. O programa Bolsa-Escola poderia estar atendendo a 145.519 crianças pobres da capital, não fosse o comportamento tacanho da administração petista, que não deixa o dinheiro chegar às famílias carentes para não correr o risco de sofrer prejuízo eleitoral.
Desde que o Bolsa-Escola começou a atender, em abril do ano passado, as crianças de 6 a 15 anos de famílias com renda de até meio salário mínimo, a prefeita Marta Suplicy criou vários obstáculos à distribuição desses recursos federais em São Paulo. Primeiro, não aderiu ao programa porque a cor do cartão magnético usado pelas famílias para efetuar as retiradas nos terminais eletrônicos da Caixa Econômica Federal não era do seu agrado. Mais tarde, exigiu que o cartão trouxesse lado a lado os logotipos da Prefeitura de São Paulo e do governo federal, numa clara intenção de confundir o eleitorado sobre a origem da verba. O governo federal se comprometeu a unir a retirada dos programas Bolsa-Escola e Bolsa-Trabalho municipal, fornecendo, contudo, um extrato que discrimina os benefícios recebidos da Prefeitura e do Ministério da Educação.
Como seus caprichos não foram inteiramente atendidos, a prefeita resolveu boicotar o programa. Em mais de um ano, a Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, conduzida por Marcio Pochmann, só cadastrou pouco mais de 5,5 mil das 79.610 famílias que têm direito ao benefício. Essas famílias recebem R$ 108 mil, dos R$ 2 milhões à disposição de São Paulo. A coordenadoria do Bolsa-Escola estima que cada família paulistana cadastrada receberia R$ 30,00 mensais.
A prefeita e o secretário Marcio Pochmann têm a noção exata do quanto esse dinheiro seria útil para as parcelas mais carentes da população. No site da secretaria, foi divulgada pesquisa sobre o desemprego na capital, realizada com 155 mil inscritos no Programa Operação Trabalho. Entre eles, o tempo médio de desemprego atinge 30 meses. O chamado desempregado de longa duração tem 33 anos e renda média familiar per capita diária de US$ 1, valor definido pelo Banco Mundial como limite da linha de pobreza.
Uma administração que se preocupa em conhecer profundamente a população carente da cidade não deveria dispensar o auxílio de R$ 26 milhões, só porque a origem do dinheiro é federal. Impedir que famílias pobres recebam esse dinheiro, apenas para que os adversários políticos do PT não tenham eventuais ganhos eleitorais, é mais que irresponsabilidade – é crueldade.
A administração petista não está tão preocupada com o “social“ como anuncia.
Se estivesse, não boicotaria o programa Bolsa-Escola. Se estivesse, não teria desviado R$ 2,5 milhões do orçamento da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, destinados aos projetos Começar de Novo, Renda Mínima e Bolsa-Trabalho, para gastar em publicidade. A verba que tomou novo rumo atenderia, nos três programas, mais de 21 mil pessoas num mês.
A prefeita está mais interessada em campanhas publicitárias do que em programas sociais. Os R$ 35,6 milhões que a Prefeitura gastará em propaganda, este ano, somados aos recursos dispensados do Bolsa-Escola, equivalem ao dobro do orçamento do Bolsa-Trabalho.

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02/06/2002