PF no rastro do bicheiro Turcão

Polícia investiga se parte dos R$ 1,7 milhão para compra do dossiê veio das bancas de jogo de Antônio Kalil, que atua no Rio

Notícias - 18/10/2006

Brasília (18 de outubro) – A Polícia Federal investiga no Rio de Janeiro pessoas ligadas a Antônio Petrus Kalil para tentar desvendar a origem do dinheiro que seria usado para a compra do dossiê contra integrantes do PSDB. Conhecido como Turcão, Kalil é apontado pela polícia como um dos mais atuantes empresários do jogo do bicho naquela cidade. Passados 32 dias da apreensão do dinheiro em poder dos petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos num hotel em São Paulo, essa é a principal linha de investigação da PF no que se refere aos R$ 1,1 milhão encontrados com a dupla, além dos US$ 248,8 mil(totalizando R$ 1,7 milhão).

Os investigadores do caso encontraram indícios de que parte dos recursos arrecadados pelo grupo petista, antes de chegar às mãos de Valdebran e Gedimar, transitou pelas bancas do jogo do bicho atribuídas a Kalil. De acordo com um dos policiais, o suposto bicheiro movimenta grandes quantias na capital carioca. E suas bancas atuariam como uma espécie de câmara de compensação, abastecendo outras bancas do jogo do bicho. Para levantar as provas que sustentem a hipótese, foram realizadas ontem no Rio buscas e apreensões em endereços comerciais de pessoas ligadas a ele.

As suspeitas sobre dinheiro do jogo do bicho foram levantadas pela polícia a partir da forma como a parte dos recursos em reais foi encontrado: cédulas velhas, amassados e de valores pequenos R$ 5 e R$ 10. Duas tiras de papel encontradas chamaram a atenção dos investigadores. Elas trazem anotações de valores e fazem referência a duas localidades no Rio: Caxias e Campo Grande. Ao lado de cada nome, havia ainda um número que a polícia acreditava se referir a bancos (118 e 119, respectivamente). Após realizar uma pesquisa na rede bancária, a PF constatou que não existem tais números. Com isso, ganhou força entre os policiais a tese de que o dinheiro tenha origem no jogo do bicho.

Escândalo

Em Cuiabá, cidade onde estão centralizadas as investigações do escândalo do dossiê, o superintendente regional da Polícia Federal, Daniel Lorenz de Azevedo, admitiu a hipótese de que parte do dinheiro seja proveniente do jogo do bicho. “Estamos conseguindo comprovar uma tese”, afirmou o policial. Lorenz confirmou a realização de diligências para tentar levantar as provas que possam confirmar as suspeitas. Integrantes da CPI dos Sanguessugas que tiveram na capital matogrossense na semana passada para se informar sobre o andamento da apuração também confirmaram essa possibilidade, depois de conversar com o delegado Diógenes Curado, responsável pelo inquérito.

O rastreamento do dinheiro apreendido com Valdebran Padilha e Gedimar Passos obrigou a polícia a levantar milhares de operações financeiras realizadas nos 30 dias que antecederam a prisão dos dois petistas. Não se descarta que uma parcela tenha transitado pela rede bancária, já que informações encontradas no pacote do dinheiro indicam que saques em pelo menos três instituições bancárias: Bradesco, Safra e BankBoston. A PF também investiga operações no Banco do Brasil.

Em relação aos dólares (US$ 248,8 mil), o universo de pesquisa supera um total de 200 mil operações realizadas a partir de um lote de US$ 29 milhões que entraram legalmente no país por intermédio do banco Sofisa, de São Paulo. Os policiais identificaram US$ 110 mil em série, mas, por falta de controle no país das numeração de cédulas distribuídas entre instituições bancárias, casas de câmbio e agências de turismo, ainda não foi possível chegar aos compradores finais.

O dinheiro foi distribuído pela instituição em pelo menos quatro praças: Rio, São Paulo, Curitiba e Santa Catarina. A Polícia Federal está realizando uma operação pente-fino em 30 casas de câmbio e de turismo localizadas nessas cidades.

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18/10/2006