Proibida reportagem com denúncias contra Garotinho
Ex-governador do Rio entra com ação na Justiça e impede a revista CartaCapital de publicar revelações sobre suas campanhas políticas
A edição de CartaCapital desta semana não publicará, como havia programado, a entrevista com Guilherme Freire, que diz ter sido caixa e freqüente doador de campanhas políticas do ex-governador do Rio de Janeiro e pré-candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho. Segundo a revista, Garotinho recorreu à Justiça para embargar a reportagem produzida a partir de revelações feitas por Freire. Diante disso, CartaCapital decidiu publicar os bastidores da apuração da matéria e conseqüente proibição para veiculá-la.
”O leitor deveria ler nesta e nas próximas páginas uma outra história. A que envolve o pré-candidato à Presidência da República pelo PSB, Anthony Garotinho, e Guilherme Freire, cidadão que declarou em entrevista ter sido caixa e freqüente doador de campanhas políticas do agora presidenciável”, informa o texto de abertura da reportagem.
De acordo com a revista, assessores de Garotinho foram informados de que CartaCapital não publicaria o conteúdo de fitas, ”mas sim uma entrevista com quem contava, inclusive, porque gravou conversas de e com o ex-amigo, buscou na Justiça o embargo à reportagem”.
A revista relata que no último dia 24 de abril conversou pela primeira vez, por telefone, com Freire, que afirmava ter denúncias, e provas, contra Garotinho. Ele garantiu à CartaCapital ter provas também de seu passado como caixa de campanha do presidenciável.
Três dias depois, aconteceu, no Rio, o primeiro encontro do editor Flávio Lobo com o empresário. ”No dia 1º Maio, o editor encontrou-se com Freire em São Paulo. A conversa se esticou das sete da manhã às cinco da tarde. Foi gravada uma entrevista. Presente o subeditor Sérgio Lírio, que se encontraria outra vez com Freire em Campos, no Rio de Janeiro, já nos dias 7 e 8 deste Maio”.
Na segunda-feira, 13, prossegue o texto de CartaCapital, Sérgio Lírio encontrou-se rapidamente com o presidenciável na redação do jornalismo da rede de tevê Bandeirantes, em São Paulo, onde Garotinho gravaria uma entrevista. O subeditor descreveu para Garotinho o cerne do que seria a reportagem e pediu-lhe uma entrevista. ”Não falo sobre bandidos”, respondeu o ex-governador respondeu, mesmo saber dos detalhes da investigação da revista.
Liminar
Na mesma noite, Sérgio Lírio insistiu com Paulo Fona, um dos assessores de imprensa do presidenciável, para obter a entrevista. Discorreu sobre os fatos em questão e quanto à necessidade de ouvir o pré-candidato. ”No dia seguinte, terça-feira, 14, Fona telefonou para a redação e informou que Garotinho não falaria. Na quarta-feira, 15, por volta das 19 horas, o redator-chefe, Bob Fernandes, insistia com os assessores Fona e Peninha para ouvir o ex-governador.”
Enquanto a entrevista era negociada, chegou à redação de CartaCapital uma liminar expedida pelo juiz Marcelo Oliveira da Silva, da 21ªVara Cível, com ação indenizatória contra a revista. No despacho, Oliveira adianta: ”ficando desde já, INTIMADA de que deverá abster-se publicamente, perante a imprensa e falada, e ainda pela Internet, o conteúdo de quaisquer gravações ou fitas, ou ainda transcrições ou escritos, relativos a interceptações de ligações telefônica dos autores”. Na liminar, informa a revista, o juiz estipulava uma multa de R$ 100 mil por dia em caso da divulgação.
Depois de nova investida, Sérgio Lírio conversou com o assessor Peninha. Ele informou que estava com o presidenciável a caminho da Paraíba e pediu que a revista enviasse perguntas detalhadas por escrito que o ex-governador iria responder. ”Dez perguntas foram enviadas, às 23h19 para o hotel Tambaú, em João Pessoa (PB). A recepção confirmou a chegada do fax em perfeitas condições.” Mas as respostas não chegaram.
Em vez das explicações de Garotinho, CartaCapital recebeu foi um telefonema de uma pessoas se identificando como o escrivão Benedito, da 21ªVara Cível. Ele informou que o juiz havia expedido um outro mandado. Pouco depois, chegou à redação, via fax, a petição dos advogados de Garotinho e o despacho do juiz, parte dele escrito de próprio punho, no qual ele proibiu a publicação da matéria com Freire e estipulou multa de R$ 500 mil em caso de descumprimento de sua ordem, que deveria se estender à gráfica e às distribuidoras.
Ontem à noite, o Correio procurou a assessoria de Garotinho, mas não conseguiu localizar nenhum dos jornalistas que trabalham com o pré-candidato.