Promover igualdade racial é essencial para aumentar número de negros no Congresso, diz Juvenal
O número de deputados negros (soma de pardos e pretos) cresceu quase 5% na eleição de 2018 na comparação com 2014. Apesar do leve crescimento, o número ainda é muito baixo e o grupo continua sub-representado na Câmara dos Deputados em relação ao tamanho da população. Do total de 513 parlamentares eleitos no último domingo (7), apenas 21 (4,09%) se declaram pretos.
Reportagem da Agência Brasil mostra que a grande maioria – 385 deputados (75%) – se reconhece como branco, enquanto o número total de negros na Casa representa somente 24,36%.
Na avaliação do presidente nacional do Tucanafro, Juvenal Araújo, a falta de criação e fortalecimento de políticas que promovam a igualdade racial é a única forma de mudar esse cenário de baixa representatividade.
“A única forma de eliminarmos o racismo no Brasil é por meio de políticas públicas de promoção da igualdade racial de uma forma efetiva e permanente. Essa política implantada é realizada por órgãos e conselhos de promoção da igualdade. A questão no quadro do Legislativo mostra essa necessidade de se enfrentar o racismo de uma forma com que tenhamos mais negros em toda a política brasileira”, afirmou.
Em 2014, dos 513 deputados eleitos, 410 se autodeclaravam brancos (79,92%), 81 se diziam pardos (15,78%) e 22 pretos (4,28%). Os negros representavam, portanto, 20,06% dos deputados.
O tucano chamou atenção para o fato de que, dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 58 possuem órgãos e conselhos de promoção da igualdade funcionando, com adesão ao sistema nacional de promoção da igualdade racial. “Menos de 1% dos municípios do Brasil. Isso mostra que não há uma prioridade com a política de promoção da igualdade no enfrentamento do racismo. Onde não há política implantada, não há uma forma de se enfrentar esse racismo”, advertiu.
Segundo a reportagem, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada em novembro do ano passado, mostrava que, em 2016, os brancos representavam 44,2% da população brasileira enquanto a soma de pretos e pardos representava a maior parte da população (54,9%). A cor é autodeclarada pelo entrevistado.
Candidaturas negras
De um total de 442 candidatos a deputado federal em todo o país que se declararam pretos, apenas 21 conseguiram se eleger. O estado da Bahia despontou como o que mais contribuiu para aumentar essa representatividade na Câmara.
O presidente do Tucanafro lamentou o cenário e destacou as dificuldades ainda enfrentadas pelos negros para entrar na vida política.
“É muito difícil conseguir recursos para entrar em uma campanha eleitoral. Vejo essa notícia com muita indignação por saber das dificuldades que o negro ainda tem para sequer botar o nome dele à disposição e ter condições de competir de igual para igual com a pessoa não negra que se candidata. Os partidos políticos, em sua maioria, têm dificuldade em investir em uma pessoa negra”, lamentou.
Ainda segundo ele, a não implantação da política de igualdade racial no país é que faz com que se tenha uma maioria populacional, mas uma minoria política.
“Isso se reflete nos três poderes: legislativo, judiciário e executivo. Pouquíssimos negros e negras nos cargos de poder. Os negros não têm padrinhos políticos, não são filhos de pessoas com poder aquisitivo alto, então não têm investimento em suas candidaturas como geralmente a maioria dos não negros têm”, avaliou.