Rodrigo Maia terá o apoio do PSDB, diz Aécio Neves
Entrevista do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves
Belo Horizonte – 24-01-17
Assuntos: encontro com Rodrigo Maia, eleições Câmara dos Deputados, ajuste fiscal, sucessão no STF
Esse encontro fechou questão em nome do deputado Rodrigo Maia à reeleição?
Em primeiro lugar, quero agradecer e muito a presença hoje do meu amigo deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, e dos vários companheiros que aqui estiveram de vários partidos, não apenas do PSDB, no momento em que a Câmara caminha para tomar uma decisão que não diz respeito apenas aos seus interesses, ao seu funcionamento. Diz respeito aos interesses do país. Já havia desde a eleição de Rodrigo Maia, ano passado, dito que ele poderia ser a possibilidade de um reinício para a Câmara dos Deputados, de reencontro da Câmara com a sociedade que ela representa. E isso ocorreu. A Câmara avançou em uma pauta que não foi simples, uma pauta reformista, e o Rodrigo se credenciou a ser o nosso candidato agora na eleição do dia 2. O PSDB converge para o seu nome. Conversava hoje com o líder Imbassahy, com o novo líder Tripoli da nossa bancada, que irá formalizar nos próximos dias o apoio a Rodrigo.
Já posso aqui antecipar: ele terá sim o apoio do PSDB, como vem tendo o apoio de várias outras forças políticas, não apenas da base governista, mas também setores da oposição, o que demonstra que ele se credenciou pela sua seriedade, pelo seu trabalho, pela sua retidão, a conduzir a Câmara em um momento crucial para o país. Portanto, a vinda dele a Minas Gerais é realmente uma deferência também aos companheiros de vários partidos que aqui estão representados. Obviamente, não falo por esses partidos, mas tenho um sentimento que Rodrigo sairá com uma vitória avassaladora de Minas Gerais.
A reunião oficializa o apoio do PSDB ou ainda não?
A decisão do PSDB, obviamente, tem de ser formalizada pela bancada, pelos seus líderes. Mas desde o início, desde a primeira manifestação do deputado Rodrigo, já havia um sentimento no PSDB, que inclusive tinha nomes colocados para esta eleição, houve um convencimento do PSDB que para o Brasil nesse instante, para o próprio avanço do governo Michel, porque convergia mais a base, o nome do Rodrigo era o nome mais natural. Portanto, sem usurpar prerrogativas que não são minhas, mas a palavra que tive hoje dos líderes da nossa bancada é de que Rodrigo Maia será o candidato do PSDB e, espero, da ampla maioria da Câmara dos Deputados.
Vai haver uma cobrança para que haja votação de matérias importantes na Câmara em 2017? Porque em 2016 e 2015 foram anos praticamente perdidos.
O segundo semestre do ano de 2016, mesmo tendo eleição, foi um ano muito importante. Avançamos na reforma com a PEC do teto, algo inimaginável em qualquer outro cenário político recente. Iniciou-se a discussão da Reforma da Previdência, que terá continuidade agora, segundo palavra do próprio presidente Rodrigo Maia, já no início de fevereiro. A Reforma Política, no que diz respeito especificamente à questão de coligações e cláusula de barreira avançou no Senado e deverá avançar também na Câmara. Não acho que tenha sido um ano perdido. São medidas que vão na questão da Reforma Política, na direção do ajuste fiscal. O Rodrigo se credenciou porque teve lado. O lado dele foi o Brasil, o lado dele foi o das reformas, ele não omitiu isso em momento algum. Isso faz com que ele tenha, se não o apoio, o respeito, inclusive da oposição. Isso é fundamental para o bom andamento dos trabalhos na Câmara Federal.
O momento é de muito pessimismo. Vivemos nesses últimos anos um momento dramático na história do Brasil. A profundidade da crise conduzida, criada pelos governos sucessivos do PT e agravada no processo eleitoral, faz com que todos nós tenhamos que ter nesse momento enorme responsabilidade. O PSDB está com o Rodrigo por responsabilidade com o país, porque vemos nele a condição de agregar as forças necessárias a dar continuidade a esta agenda. Portanto, acho que em 2017 teremos um ambiente econômico um pouco mais oxigenado para que o Brasil retome a capacidade de crescer, de recuperar os empregos. É o que todos nós queremos. Portanto, estou muito feliz de receber aqui o Rodrigo e desejo a ele toda boa sorte na sua caminhada.
Com relação ao ajuste fiscal o que o senhor espera?
Espero que haja uma clareza na agenda que está sendo não apenas apresentada pelo governo, mas boa parte dela gerada dentro do próprio Congresso Nacional. A PEC do teto foi uma etapa muito importante que terá continuidade com a reforma da previdência, que pode ter avanços com a negociação de um novo pacto nas relações trabalhistas no Brasil. Acho que o Rodrigo poderá ser lembrado no futuro como o presidente reformista, um presidente que não teve receio de comunicar-se com a sociedade e colocar na pauta uma agenda que não é mais uma opção do Brasil, é uma necessidade imperativa. Ou o Brasil caminha no avanço do equilíbrio das contas públicas para que, a partir daí, haja novamente confiança daqueles que investem e, em decorrência disso, os empregos voltem a ser gerados no país, ou teremos a crise se agravando. Estamos vivendo – e isso não é pouca coisa – a maior recessão, o maior ciclo recessivo da história brasileira desde a proclamação da República. Essa é a verdadeira herança do governo do PT, esse mesmo partido que combate agora essas medidas. Então temos que ter clareza em relação à necessidade dessas reformas. O governo Temer tem um período curto. Nós do PSDB estamos apoiando o governo Temer, mais uma vez, também por responsabilidade para com o país, por mais que tenhamos o nosso projeto e vamos estar em condições de apresentá-lo ao país no momento certo. Nessa hora, a nossa responsabilidade para com o país nos obriga não apenas a apoiar o governo Temer, mas a liderar boa parte dessa pauta de reformas.
O PSDB vai aceitar a Secretaria de Governo na chapa da porteira fechada ou na porteira aberta também pode?
Acho isso uma grande bobagem. Vi essa notícia nos jornais hoje. Talvez uma manifestação de pessoas preocupadas em perder o seu emprego. Isso é uma questão menor. O PSDB, quando o presidente Temer assume, e o PSDB como foi o partido que liderou, ao lado do Democratas, o processo de afastamento da presidente da República, seria extremamente incoerente se ele não se dispusesse a contribuir com o governo. O PSDB colocou seus quadros à disposição do presidente Temer e é isso que continua a ocorrer hoje. Se o presidente quiser buscar no PSDB, nos qualificadíssimos quadros do PSDB, outros nomes que possam ajudá-lo nesse governo de transição – como dizia o presidente Fernando Henrique, esse governo de salvação nacional -, o PSDB estará à disposição para ajudá-lo. Mas o nosso apoio independe de qualquer outra participação no governo. Nosso apoio depende do cumprimento do compromisso com essa agenda de reformas. Quero aqui registrar que o presidente Temer tem sido firme, tem sido claro na defesa dessa agenda, indo até além em determinadas questões que não estavam nem previstas no início do seu governo, como questões relativas ainda à reforma tributária, a esse pacto na questão trabalhista. Esperamos que ele possa ter sucesso nessa agenda.
Nos bastidores da política, há a informação que o PSDB, o sr. estaria apoiando o nome do ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que é do PSDB, para ser indicado pelo presidente Temer como novo ministro do Supremo no lugar do ministro falecido Teori Zavascki. Tem esse apoio mesmo?
O ministro Alexandre é um homem extremamente qualificado, um jurista extremamente respeitado, tem todas as qualidades para ser ministro do Supremo Tribunal Federal, mas essa não é uma questão partidária. É um equívoco grave buscarmos apoios em partidos políticos para o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal. Tenho confiança absoluta que o presidente Michel Temer, com o conhecimento que tem, com a experiência que tem, com as relações que construiu ao longo de sua vida, escolherá o melhor nome para compor o Supremo, principalmente com a responsabilidade de substituir alguém da dimensão que tomou o ministro Teori. Não é correto partidos políticos, nesse momento, se movimentarem para apoiar A, B ou C. O PSDB não indica nomes para o STF, o PSDB confia que o presidente da República indicará um nome à altura das responsabilidades do momento.
E o João Noronha?
É outro quadro qualificadíssimo, conterrâneo nosso, ministro do STJ, de densa formação jurídica, é um nome também à altura desse desafio. São nomes altamente qualificados, mas no momento em que eu, como presidente de um partido político, passo a externar posições em relação a preferências, acho que isso não ajuda. Isso pode inclusive comprometer a indicação que deve ser feita a partir de critérios técnicos, e esses nomes têm qualidade como outros também têm. O perfil tem que ser alguém qualificado do ponto de vista técnico, alguém com experiência no setor público, em especial no campo jurídico. Acho que as opções são várias e o presidente Michel Temer, no tempo certo, sem pressões descabidas, irá tomar a melhor decisão. Repito: partidos políticos não indicam ministro para o Supremo Tribunal Federal.
Sobre a indicação de um nome para substituir o ministro Teori
Acho que isso é o tempo do presidente. Acho que existe uma questão mais momentânea, que vai ser resolvida pelo próprio Supremo Tribunal, que é a sucessão dos casos cuidados pelo ministro Teori, e o presidente Michel fará, a meu ver, a indicação correta no momento correto, sem açodamento.