Serra é pré-candidato do PSDB

Notícias - 17/01/2002

O ministro da Saúde, José Serra, foi lançado formalmente hoje (17) como pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB durante reunião da Executiva Nacional. A largada para a campanha ocorreu logo após a reunião da Executiva, em cerimônia ocorrida no Espaço Cultural da Câmara dos Deputados. Em seu pronunciamento, José Serra disse que a redução da desigualdade não é um sonho impossível, e lançou, como lema de seu “futuro governo“, a frase “nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade“.
Segundo o ministro, o Brasil já atingiu capacidade produtiva e nível de renda bem superiores aos que tinham as nações asiáticas no início do processo que lhes permitiu reduzir a pobreza absoluta de mais de 60% para menos de 10% da população, no espaço de uma só geração. Ele lembrou que o Brasil moderno foi construído sob a liderança de homens que juntaram a esperança, a vontade e a competência, citando Getúlio Vargas, que sonhou com um Brasil industrializado, e Juscelino Kubitschek, que trouxe para o Brasil investimentos estrangeiros para impulsionar a indústria automobilística brasileira. Serra lembrou ainda de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Franco Montoro, que combateram a ditadura recuperando a democracia.
Ele disse também que muitos brasileiros tiveram a esperança de acabar com a inflação, mas que isso só aconteceu no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
 O pré-candidato do PSDB à Presidência da República citou ainda a luta do governo brasileiro para quebrar, “em circunstâncias justificadas“, patentes de remédios considerados essenciais. Ele disse que os críticos falavam ser “impossível“ conseguir isso, porque o governo americano não permitiria e porque a Organização Mundial do Comércio (OMC) derrubaria a medida, alegando que Brasil está inserido em um mundo globalizado. O ministro afirmou que esse “impossível“ é companheiro do “fica para depois“, que foi usado por décadas para retardar a produção de medicamentos genéricos no Brasil. Segundo ele, foi possível a quebra de patentes graças à obstinação e competência negociadora do Brasil, com a ajuda da opnião pública nacional, organizações não-governamentais, dos 150 países da OMC e do entendimento do governo dos Estados Unidos. O ministro afirmou ainda a que o Brasil não pode perder tempo discutindo se deve ou não participar do processo de globalização. “Esse debate é falso. O problema real é outro: quais são nossas verdades e certezas, quais são nossos interesses como nação.“
Para o ministro José Serra, a globalização não acaba com o conceito de “localidade“, e ressaltou que o mundo continua sendo formado por nações poderosas, com interesses diferentes. “Países que seguiram ou foram obrigados a seguir as certezas dos outros pagaram caro pelas más escolhas“, afirmou ao lembrar que esse foi o caso da Argentina. “Uma certeza, talvez uma conveniência, dos outros (de que o peso valia um dólar), levou o nosso país-irmão às dificuldades que atravessa e das quais espero sinceramente que logo se liberte.“
O ministro afirmou ainda que, para haver progresso, é necessária a redução das desigualdades regionais.
 Ao encerrar seu discurso de pré-candidato, Serra acenou para o diálogo com os outros partidos da base governista. “Não hesitaremos em buscar o diálogo com outros partidos, movimentos sociais e personalidades públicas. Tenho consciência de que uma ampla convergência de vontades políticas é importante para a vitória e essencial para a vida democrática e o êxito da ação governamental.“ Serra disse isso depois de apresentar seu currículo, salientando que foi o primeiro “não médico“ a assumir o Ministério da Saúde. Em seguida, afirmou: “Não compartilho a tese fácil, cômoda, de que a política é apenas a arte do possível. Para mim, política é a arte de ampliar os limites do possível. Ampliá-los ao máximo, até o limite de nosso engenho e nossa tenacidade.“
Estiveram presentes ao evento de formalização da pré-candidatura do ministro governadores, ministros, parlamentares e militantes tucanos, entre eles os governadores Tasso Jereissati, do Ceará, Almir Gabriel, do Pará, Marconi Perillo, de Goiás, Albano Franco, de Sergipe, Geraldo Alckimin, de São Paulo, e Dante de Oliveira, de Mato Grosso. Presentes ainda Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações, o presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (MG), e o presidente nacional do Partido, deputado José Aníbal (SP). Renata Covas, filha do ex-governador Mário Covas, compareceu representando a família do ex-governador.
 José Aníbal abriu a solenidade afirmando que o Partido não se preocupa em antecipar a campanha eleitoral, pois quer fazer um “bom embate de idéias como fez em 1994 e 1998 e fará vitoriosamente em 2002“. Enfatizou que a candidatura do PSDB se intensificará após 24 de fevereiro, data da convenção do Partido. Segundo José Aníbal, a campanha se dará em situação nacional de estabilidade econômica e política graças ao trabalho do presidente Fernando Henrique. Ele ressaltou o trabalho do ministro à frente do Ministério da Saúde e afirmou que, “pela primeira vez, a ação do ministro da Saúde chega ao cidadão“.
Aníbal observou que Serra é de São Paulo, mas que ele se tornou “cidadão do Brasil, não agora, mas de antes, de quando se tornou presidente da União Nacional dos Estudantes“. Ele agradeceu os tucanos que desistiram da candidatura à Presidência, governadores Tasso Jereissati (CE) e Dante de Oliveira (MT), e o ex-ministro Paulo Renato. Ele afirmou ainda que, se vivos estivessem, o ex-ministro Sergio e Motta e o ex-governador Franco Montoro estariam hoje e aqui compartilhando conosco todo o entusiasmo“.
Em seguida, José Aníbal passou a palavra ao presidente da Câmara e anfitrião, Aécio Neves. Segundo Aécio, José Serra tem todas as qualidades para ganhar as eleições por sua “história política e inquestionável honestidade“.

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17/01/2002