Tucano rebate José Eduardo Cardozo: “Quem combateu a corrupção foram as instituições de Estado, não de governo”
Dionízio: “Mérito da Lava Jato é da Polícia Federal e do MPF, órgãos de Estado que antes da Dilma, antes do PT, já existiam”
Brasília (DF) – Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, veiculado nesta segunda-feira (22), o ex-ministro da Justiça e atual advogado da presidente afastada Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, chegou ao cúmulo em sua tentativa de justificar a fama negativa do PT por conta dos escândalos de corrupção. O petista alegou que o partido foi vitimado ao tentar coibir a corrupção, o que, em sua visão distorcida, é um dos principais legados deixados pelo governo Dilma ao país.
“Quando um governo ousa enfrentar a corrupção, ele recebe diretamente o peso e o impacto de seu combate. Quando um governo não barra investigações, não se há engavetadores, como houve no passado, quando ele deixa a coisa fluir, cria leis, ele paga um preço por isso”, afirmou o petista.
A fala de Cardozo foi rebatida pelo deputado federal Elizeu Dionízio (PSDB-MS), que lembrou que o próprio PT é o partido mais citado nos últimos escândalos investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público – o maior deles sendo o Petrolão, apurado pela Operação Lava Jato. Para o tucano, o PT paga o preço por seus próprios atos.
“Não acredito que o PT foi o partido que combateu a corrupção. O PT foi o partido que estava no governo quando as instituições se fortaleceram. Hoje, a Polícia Federal, a Polícia Civil, o Ministério Público Estadual e Federal vêm fazendo um trabalho que desabrochou na administração do PT, mas não é o PT que fez esse combate à corrupção. Quem fez isso foram as instituições de Estado, e não as instituições de governo. Não foi um partido, foram as instituições que o Estado tem. Passa o governo, e elas permanecem”, disse.
O parlamentar criticou ainda a tentativa de José Eduardo Cardozo de tirar a responsabilidade pela atual situação do país das costas da presidente afastada Dilma Rousseff. Além de não admitir o crime de responsabilidade cometido pela petista, o ex-ministro classificou Dilma como uma vítima daqueles insatisfeitos com o avanço das investigações da Lava Jato.
“O que que ela [Dilma] fez de combate à corrupção?”, questionou Dionízio. “Porque, se ela quiser tributar ou quiser creditar os méritos da Lava Jato, vamos questionar. O mérito da Lava Jato é da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, órgãos de Estado que antes da Dilma, antes do PT, já existiam. Não foi nessa ou naquela administração. O órgão tem autonomia e a prerrogativa de fazer a investigação. Ao contrário, se eles tomaram essa medida agora, é porque o volume de corrupção se deu na gestão do PT, e não que o PT combateu”, colocou.
“A situação foi bem outra: o PT foi alvo do empoderamento das instituições de Estado justamente porque ele não respeitou o erário público, não respeitou o regramento da despesa pública, não respeitou nenhuma norma, e aí as instituições de Estado, não ligadas a partido A ou B, fizeram a sua função, e hoje tem um partido querendo tomar para si os méritos. É incabível”, acrescentou o tucano.
Momento de reflexão
A entrevista de José Eduardo Cardozo ao Roda Viva foi permeada, no entanto, por um momento de lucidez. O petista constatou que o Partido dos Trabalhadores precisa fazer uma reflexão, avaliar os seus próprios erros. “O PT precisa, sem mudar de lado, repensar o seu posicionamento na democracia”, destacou.
Essa foi a única declaração de Cardozo com a qual o deputado Elizeu Dionízio concordou: “Acredito que a classe política precisa fazer uma reflexão. O PT, que tem o maior número de pessoas envolvidas, e outras siglas também envolvidas em corrupção. Quem teve essa conduta tem que fazer uma reflexão, porque a velha política morreu. O que está agora, é na sobrevida de poucos”, considerou.
“Sou um deputado de primeiro mandato, venho do discurso da transparência, da probidade, do novo, e acredito que nessa nova política não cabe mais o ‘toma lá, dá cá’, a arrecadação por extorsão, a forma pela qual o PT a institucionalizou, a forma que mantém um grupo político pago por leis para você aprovar os seus projetos. Quer dizer, ninguém vota mais pela matéria, mas vota pelo benefício que está recebendo. Isso tudo tem que ser repensado, tem que ser alvo de reflexão”, completou o parlamentar.