Um palácio em reforma

Notícias - 28/07/2004

Paredes serão quebradas, pisos arrancados e tetos rebaixados. Ao todo, o projeto de reforma do Palácio da Alvorada, que deve ser iniciado nos próximos dias, altera 14 pontos do prédio, entre eles a modernização de elevadores, a substituição da tubulação de água e a instalação de sistema de ar-condicionado. A revitalização da moradia presidencial atinge a 1,05 mil m² de piso em granito, 1,8 mil m² de revestimento em madeira e 1,1 mil m² de cômodos acarpetados. Se tudo correr como espera o arquiteto Oscar Niemeyer, autor do projeto original, a reforma no Palácio da Alvorada será invisível.

 O projeto que orientará as obras de reestruturação foi obtido com exclusividade pelo Correio. O documento elaborado por arquitetos da confiança e amizade de Oscar Niemeyer revela uma profunda mudança programada para ser imperceptível. Ele foi elaborado há três anos, a pedido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na época, o projeto foi intermediado pela Fundação Banco do Brasil, mas não foi implementado por falta de orçamento. Há alguns meses, a equipe de arquitetos do Palácio da Alvorada resgatou o projeto e promete colocá-lo em prática, com o patrocínio de empresários ligados à Associação Brasileira das Indústrias de Base (Abdib). A previsão de gastos é de R$ 16 milhões.

 O principal objetivo da reforma que deve ser iniciada assim que o presidente Lula retornar da África, é reparar os danos causados ao palácio pelo ação do tempo. Providências como: recuperar o brilho do mármore desbotado pelo sol, acelerar elevadores, e juntar as peças de madeira, afastadas por causa das diferenças de temperatura. Em um dos salões do Alvorada, há baldes de plástico espalhados para evitar que os pingos d’água de infiltrações, provocadas por vazamentos no sistema hidráulico, estraguem o piso.

 Uma observação aparece em quase todos os 26 capítulos que compõem o projeto assinado pela equipe de Niemeyer: trocar só o que for necessário e sempre respeitando o desenho original. Cor, textura, polimento e alinhamento devem seguir os padrões originais de quando o palácio foi construído, há 46 anos. A preferência sempre é por restaurar. A substituição só é pensada quando o material já não suporta ser recuperado ou quando a estrutura do prédio for comprometida.

 Uma das mudanças que Lula e dona Marisa vão desfrutar com a reforma é o conforto de controlar a temperatura do ar. Serão instalados dois aparelhos de ar-condicionado nos principais salões do Alvorada, o de Estado, onde o presidente recebe as visitas, e o de banquetes, onde são servidos os jantares para convidados ilustres. Também será instalado um aparelho na capela do Alvorada. Por conta desta obra, algumas paredes serão quebradas, mas a ordem é que tudo fique como era antes.

 A previsão é que Lula e dona Marisa se mudem para a Granja do Torto enquanto o palácio estiver em obras, que devem durar pelo menos seis meses.

As obras no Alvorada

Instalação de ar-condicionado

 O sistema de ar-condicionado será instalado em três ambientes do Palácio da Alvorada: no salão de banquete, onde são oferecidos os almoços e jantares em dias de comemorações e no salão de Estado, a sala de visitas do presidente Lula. Nesses dois locais o sistema será independente, do tipo fancoil, que funciona à base de água gelada. Também será instalada uma unidade na capela do Alvorada, mas o aparelho será o mais simples (split), que resfria o ambiente por meio da troca de ar.

Reforma da portaria

 A laje que cobre a secretaria, a copa, o sanitário, o alojamento de plantão de imprensa e a torre de caixa d’água com sanitários públicos será ampliada com o objetivo de reforçar a proteção do acesso principal à residência. Também será criada uma entrada específica de serviço, que terá uma guarita de controle. Hoje, o trânsito dos veículos de serviço é o mesmo por onde passa a comitiva presidencial. O aumento da laje será feito por meio de uma estrutura metálica revestida em mármore.

Recuperação dos pisos das varandas

 Algumas peças dos 1.058 m2 de varanda do Alvorada estão trincadas e queimadas pelo sol. O projeto de reforma prevê a substituição apenas das que estiverem em pior estado, sem condição de serem restauradas. O piso da varanda é de granito Tijuca preto, medindo aproximadamente 50×50 e com dois centímetros de espessura. Uma empresa especializada em limpeza de pedras será contratada para dar o polimento no piso.

Recuperação dos pisos em madeira

 Os pisos do segundo andar, em tábua corrida, serão mantidos, por estarem bem conservados na avaliação dos arquitetos. Eles ocupam 430m2. No térreo, onde o piso é de Jacarandá da Bahia há sinais de desgaste, como desbotamento causado pelo sol nos locais onde não há tapetes persas. Algumas partes do piso, que ocupa 1.365 m2 no térreo, têm peças de madeira apodrecidas. O estrago foi causado por vazamento na esquadria. Também foram identificadas peças de madeira com manchas, causadas pelo uso inadequado de solventes. Nesses locais, o projeto de reforma proposto por Oscar Niemeyer sugere a lixação, calafetagem (vedar as fendas entre uma tábua e outra com um tipo de massa) e enceramento geral.

Recuperação do piso em carpetes

 Todo o carpete da casa será trocado, mas a qualidade, a espessura e a cor do novo carpete serão as mesmas do que foi retirado. Os cômodos acarpetados somam 1.120 m2.

Reforma das copas e banheiros

 Essa é a parte considerada mais complicada pela equipe que elaborou o projeto de recuperação do Alvorada. As instalações hidráulicas serão trocadas o que comprometerá também o acabamento em granito e mármore, que apesar de ter boa conservação, terá de ser destruído para a reforma na tubulação de água. Os arquitetos responsáveis pela reforma descartaram a possibilidade da substituição parcial das peças por julgarem que a providência poderia prejudicar a unidade arquitetônica da obra de Oscar Niemeyer. Uma das exigências é a de que as peças para reposição sejam as mesmas que foram retiradas para a reforma hidráulica. O granito usado será o preto Tijuca e o mármore o branco Paraná e o rosa Imperial.

Alvenaria

 Na avaliação dos arquitetos que colaboram com o projeto de Oscar Niemeyer, as paredes do Alvorada estão bem conservadas e não precisariam de nenhuma reforma não fosse a necessidade de quebrá-las para a instalação do ar-condicionado e para a substituição das tubulações de água. Nesse caso, algumas das recomendações da equipe de Niemeyer são de que se use tijolos de cerâmica de ”1ª categoria”, que as juntas tenham espessura máxima de 15mm e que o ”prumo e o alinhamento sejam rigorosos”.

Pintura

 A pintura do interior da casa respeitará o projeto inicial. As paredes e tetos serão pintados em PVA branco neve e as portas terão a mesma cor, porém, em esmalte sintético. Nas copas, paredes e tetos levam pintura acrílica.

Lambris de madeiras

 Os lambris de madeira são frisos usados para acabamento em parede de madeira, usadas em alguns ambientes. No Alvorada, eles são feitos de jacarandá da Bahia e pau-marfim. A instalação dos aparelhos de ar-condicionado vai comprometer algumas dessas estruturas, que deverão ser substituídas por peças idênticas.

Azulejos

 As paredes revestidas com azulejos ficam na copa principal, no térreo do Palácio da Alvorada, na cozinha e nos banheiros. Só serão retocados se forem danificados por conta da reforma da parte hidráulica. Nesse caso, serão substituídos por peças brancas, de 1ª qualidade, segundo especifica o relatório da reforma, de esmalte liso e vitrificação homogênea. A paginação existente será preservada.

Tetos

 Os tetos dos banheiros no térreo serão rebaixados para a instalação dos aparelhos de ar-condicionado. A laje existente será substituída por outra, metálica, com acabamento em gesso.

Impermeabilização

 Apenas a capela e a casa de máquinas da piscina serão submetidas ao processo de impermeabilização, em que serão substituídos os rejuntes das pedras que compõem o ambiente. Nos lugares onde houver piso em madeira, o projeto de reforma sugere a calafetação, ou seja, substituição do material usado para vedar o espaço entre uma peça e outra.

Esquadrias

 As esquadrias atuais são de alumínio natural. Em alguns lugares das fachadas norte e sul do Palácio da Alvorada, em que não há a proteção da varanda, as esquadrias estão danificadas. Na parte leste e oeste da casa, são os rodapés que estão danificados. A substituição das peças deverá obedecer ao projeto original.

Modernização dos elevadores

 Os sistemas de fiação e controle dos elevadores e monta pratos (usados para transportar refeições de um andar para outro) serão substituídos por sistemas mais rápidos do que o que existe hoje. A estrutura das cabines dos elevadores será mantida, mas a do monta prato serão alteradas. O sistema deixará de ser manual e passará a contar com um comando eletromecânico e o acabamento será em aço inoxidável.

O valor

R$ 16 milhões

é dinheiro suficiente para a construção de mais de 2.600 moradias para a população de baixa renda, de acordo com o preço médio considerado para os programas habitacionais do governo, que é de aproximadamente R$ 6.000

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28/07/2004