Uma candidata à beira de um ataque de nervos
SÃO PAULO. Em terceiro lugar nas pesquisas, a prefeita de São Paulo e candidata à reeleição, Marta Suplicy (PT), irritou-se, reclamou, evitou perguntas, chorou e discutiu com jornalistas – tudo em uma hora e meia, anteontem à noite, no “Roda Viva”, da TV Cultura. No intervalo do programa, a prefeita suspirou várias vezes como que torcendo para que acabasse rapidamente. Ela chegou a reclamar com o jornalista e apresentador Paulo Markun ao ser informada que o tempo de duração do programa – um dos mais tradicionais do gênero no país – seria de uma hora e meia e não uma hora.
Marta foi deselegante com a jornalista Eliane Catanhêde, colunista da “Folha de S. Paulo”, e tentou desqualificá-la por ter feito uma pergunta que desagradou à prefeita. Dando claros sinais de irritação, acusou Eliane de ser eleitora de outro candidato, numa referência velada a José Serra (PSDB), adversário da petista que lidera as pesquisas na disputa pela prefeitura.
A jornalista perguntara se Marta cumprirá os quatro anos de mandato, caso seja eleita, ou deixaria a prefeitura para ser candidata ao governo do estado em 2006.
– O seu candidato tem mais chances de sair para concorrer à Presidência do que eu de sair da prefeitura – respondeu Marta.
– O que a senhora disse? – perguntou a jornalista .
– Isto mesmo, é, o seu candidato – repetiu Marta.
– Prefeita, nós acabamos de falar em arrogância e a senhora vai jogar a sua arrogância para cima de mim? – devolveu Eliane.
– Você fez uma pergunta válida e eu respondi – disse Marta, rindo e encerrando a discussão.
Ao fim da entrevista, Eliane Catanhêde reagiu:
– Obrigada, prefeita. Muita gente em Brasília achava que, por ser mulher, eu seria ligada à senhora ou ao PT. Agora ficou claro que não – disse.
Ao chegar ao estúdio para participar do “Roda Viva”, Marta cumprimentou friamente os jornalistas que compunham a banca entrevistadora. Antes do início do programa, reclamou com o apresentador Paulo Markun do tratamento que recebera da TV Bandeirantes no programa “Canal Livre”, exibido domingo à noite.
– O (Carlos) Nascimento foi desrespeitoso – disse ela, desfiando outros ressentimentos contra a imprensa, que, segundo ela, trata sua administração de forma injusta.
– A imprensa não me trata bem. Acho que por eu ser mulher – reclamou a prefeita.
Em outro momento delicado, quando Markun leu três perguntas de telespectadores sobre o fim de seu casamento com o senador Eduardo Suplicy e a união com Luis Favre, Marta respirou fundo. Uma das perguntas era por que Marta continuava usando o sobrenome do ex-marido.
– Se hoje eu tivesse uma filha diria a ela para não usar o sobrenome do marido. A gente faz a vida profissional com o nome de casada e depois, se há separação, não tem como tirar. O engraçado é que isso não é problema para o Eduardo, nós já conversamos sobre isso. Vivi mais tempo com este nome do que com o de solteira. Durante a inauguração de um CEU, eu inclusive pensei sobre isso. Eu vi na placa escrito Marta Suplicy e achei injusto, faltava o sobrenome do meu pai – afirmou, sem conter as lágrimas.
Perguntada sobre o casamento com Luis Favre, Marta disse que o salário do marido é pago pelo publicitário Duda Mendonça, contratado pelo PT:
– Não há dinheiro público envolvido nisso, o dinheiro é do Partido dos Trabalhadores.
A prefeita também mostrou-se incomodada ao falar sobre o papel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha.
– Espero que ele participe um pouco, apesar da ciumeira – disse ela.