Órgão do sistema elétrico, ONS gasta dinheiro do consumidor em roupas de grife, restaurantes caros e combustível
Brasília (DF) – Enquanto os brasileiros pagam há meses mais caro pelas contas de luz, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem usado dinheiro público em diversos episódios de desperdício, gastos indiscriminados e exorbitantes. É o que revela um relatório feito pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que passou um pente-fino no orçamento e nos gastos do órgão entre julho de 2013 e junho de 2014. O ONS é o responsável por gerenciar e garantir o abastecimento de energia no Brasil.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo (13/04), que obteve acesso ao relatório, o cruzamento de notas fiscais, relatórios e explicações dadas pelos funcionários da própria instituição mostram despesas além da conta com combustíveis, almoços em restaurantes caros e até mesmo roupas de grife.
Em dezembro de 2013, por exemplo, R$ 26.662,60 foram gastos na compra de terno, calça e camisa social em uma loja. Outros R$ 41.387,72 foram desembolsados nos seis meses seguintes para a compra de sapatos, cintos, suéteres e meias. O ONS tentou justificar que o gasto extra de R$ 68 mil se referia a um suposto “kit uniforme”. O argumento não foi aceito pela Aneel.
Para o líder da minoria na Câmara, deputado federal Miguel Haddad (PSDB-SP), as irregularidades no orçamento dos órgãos públicos no Brasil são, infelizmente, corriqueiras, e fazem parte do DNA do governo da presidente Dilma Rousseff e de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Toda vez que se percebe uma investigação relacionada ao governo federal, às subsidiárias, fundações, autarquias, fundos de pensão, todas as vezes que se investiga, que se fiscaliza, você encontra desvios, encontra ações relacionadas a corrupção propriamente dita ou então a benefícios, que não deixam de ser também um processo de corrupção. São vantagens pessoais, que podem ocorrer via valores ou através desse tipo de ação, nesse caso específico, a compra de ternos, o pagamento de contas em restaurantes de alto padrão, viagens, roupas de marca. Isso é o DNA do governo do PT, um governo que não tem compromisso com o país, um governo que busca apenas atender aos seus integrantes partidários”, afirmou.
O parlamentar destacou que os gastos indiscriminados do ONS eram pagos com o dinheiro do consumidor, já que 97% de seu orçamento é bancado pelas tarifas e apenas 3% pelas empresas do setor. Os brasileiros sofrem com os preços recordes da conta de luz sob a bandeira vermelha – medida implementada por Dilma Rousseff na tentativa de remediar o rombo nos cofres públicos.
“É um país que afunda a cada dia. As perspectivas são de que 12 milhões de pessoas estarão desempregadas até o final do ano, mais de 280 pessoas são demitidas por hora no Brasil nesse momento, o que nos leva a um entrave: a economia que não avança. Tudo isso se deve à falta de uma gestão de qualidade”, ressaltou.
Gastos exagerados
No relatório, a Aneel também apurou o exagero dos gastos do ONS com restaurantes. Segundo o documento, entre maio e junho de 2014, a churrascaria Fogo de Chão foi visitada 15 vezes. Além de outros restaurantes caros e renomados no roteiro, uma única conta na tradicional churrascaria Porcão chegou a R$ 2.503,60. Somente nesses dois meses, os “almoços especiais” consumiram R$ 22.646,25.
A diretoria da ONS também gastou quase R$ 18 mil por mês apenas com lanches e “coffee break”. Entre novembro de 2013 e junho de 2014, foram mais de R$ 51 mil gastos na compra de água, café e leite. A questão é que o gasto foi desnecessário, já que o órgão já oferece esses itens em suas instalações. Outro problema detectado foi o dinheiro gasto com combustível. O rastreamento dos cartões corporativos revelou constantes abastecimentos feitos nas noites de sexta-feira e nas manhãs de segunda-feira, no mesmo fim de semana. Alguns desses abastecimentos foram feitos em quantidade superior à própria capacidade dos carros.
Reforma nas agências reguladoras
Para acabar com os gastos indiscriminados e com a corrupção e incompetência que permeia algumas das grandes agências reguladoras do país, o deputado Miguel Haddad defendeu uma reforma geral, que passe pela profissionalização das empresas, dos cargos, e pela valorização da meritocracia.
“São episódios como esse do ONS que abrem os nossos olhos para a importância de termos a profissionalização das agências reguladoras, das empresas estatais, das fundações. Não é apenas uma vontade, é uma necessidade. Esses exemplos nos mostram que precisamos buscar a excelência, profissionalizar as entidades públicas, valorizar a meritocracia”, completou o parlamentar.