“Penosamente, vamos avançando”, por Alberto Goldman
Eduardo Cunha acaba de ser afastado da presidência da Câmara dos Deputados. Na próxima semana se dará o afastamento da presidente Dilma Rousseff. São afastamentos provisórios. Os respectivos processos ainda demandarão muito tempo até as decisões definitivas.
Tudo muito penoso. Afasta-se um presidente da República acusado de diversos crimes no âmbito administrativo, por crime de responsabilidade, sem prejuízo de outros processos de caráter penal, e afasta-se um presidente da Câmara dos Deputados, eleito pelo plenário, acusado de impedir o normal funcionamento da Casa, inclusive do Conselho de Ética que analisa a sua cassação, e é denunciado por práticas de corrupção.
É um fato inusitado na história política do Brasil. Porém comprova que as nossas instituições democráticas, baseadas na Constituição de 88, funcionam de forma regular.
As consequências imediatas dessas decisões que se dão pela vontade do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, depois de meses de embates e confrontos, produzem efeitos que ainda não estão totalmente dimensionados.
O fato é que, em função de tudo isso, e das origens dessa crise por que passamos, o país está paralisado quanto às suas atividades econômicas e, em consequência, quanto à criação de riquezas que seriam criadas pelo trabalho de milhões de brasileiros. São as dores, inevitáveis, de um processo eleitoral viciado, comandado pelo poder econômico, interessado tão somente em ampliar os seus interesses e seu poder.
Milhões de brasileiros estão sofrendo com a destruição de postos de trabalho, com uma inflação que corrói os ganhos dos que trabalham e com a prestação deficiente de serviços essenciais para o povo. Os processos, no entanto, vão avançando da forma que as nossas leis determinam. Lenta e penosamente.
Eduardo Cunha lutou com denodo para não ser atingido pelas nossas leis, como Dilma Rousseff está lutando para a manutenção de seu mandato que hoje só é defendido por militantes dominados pela cegueira ou por interesses pessoais ou partidários.
O país, no entanto, vai vivendo o seu dia a dia. Como já destaquei anteriormente os crimes cometidos pelos dois dirigentes, e não só por eles, também por outros que em algum momento serão atingidos, estão sendo investigados e os culpados sendo processados e condenados.
Hoje o ministro José Eduardo Cardoso fez a defesa da presidente perante a comissão do Senado que dá o parecer sobre o processo de impeachment aprovado pela Câmara. Patético. Quer anular a decisão da Câmara sob o argumento de que o processo foi conduzido por Cunha durante a sua tramitação. Não tem a menor possibilidade de sucesso. Essa tese vem sendo encampada pelos sectários defensores da presidente como se o andamento do processo tenha sido obra de Cunha. A verdade é que Cunha atrasou o seu andamento ao segurar por três meses a leitura do requerimento que pedia o impeachment tentando negociar, sem sucesso, o apoio do PT. O seu papel foi só a leitura do pedido e, caso optasse pelo arquivamento do pedido, o plenário poderia rejeitar esse arquivamento e impor a tramitação normal.
Ainda vamos sofrer um bom tempo. É inevitável mas mostra o vigor de nossas instituições. Que seja para construir um futuro melhor para o nosso povo.