Petrobras faz “privatização envergonhada” de seu setor elétrico, diz Elena Landau

Acompanhe - 11/02/2016

usina_termeletrica_petronoticiascombrCom uma dívida superior a meio trilhão de reais e vivendo graves dificuldades para captar novos recursos, a Petrobras decidiu abandonar o setor elétrico e colocou à venda suas 21 usinas térmicas, terminais de regaseificação e gasodutos. A estatal planeja arrecadar, com a venda dos ativos, US$ 57,7 bilhões, de acordo com matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo nesta quinta-feira (11). Mas na visão economista, Elena Landau, o alto valor esperado não deve ser atingido por conta da desorganização com que o negócio está sendo conduzido.

“Eu não acho que [a privatização] seja equivocada. Acho que é absolutamente perfeito a Petrobras tentar se concentrar naquilo que é o seu negócio principal. O que está errado é a forma como está sendo feito, porque você teria que fazer um planejamento do que você quer que seja a Petrobras e usar a venda – seja de Gaspetro, seja de térmica, seja de terminais – para uma reestruturação do setor de gás e óleo. Do jeito que ela está fazendo, é muito desorganizado, é quase uma venda de saldão. Isso afasta o investidor. O preço que ela vai arrecadar é muito menor do que o que ela poderia arrecadar”, analisou Elena.

Os dados corroboram a opinião da presidente do ITV-RJ. Até agora, a Petrobras só conseguiu vender 49% da Gaspetro, uma de suas subsidiárias de distribuição de gás, por R$ 1,9 bilhão. Ainda segundo o Estadão, também estão sendo negociadas uma fatia da petroquímica Braskem, concessões para a exploração e produção de petróleo e gás, parcerias na BR Distribuidora, e fábricas de fertilizantes, terminais, dutos e navios, além das usinas térmicas, construídas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Além da má condução do plano de vendas, outro problema que deve dificultar a meta de arrecadação com a privatização do setor elétrico são as limitações regulatórias existentes no Brasil. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) define que a operação dos gasodutos deve ser feita pela estatal, o que afasta empresas privadas de possíveis compras. Um executivo de uma grande companhia ouvido pela Agência Estado afirmou que, apesar de ter interesse nas usinas, gasodutos e terminais de regaseificação, não fechará o acordo se o governo não garantir que sua empresa poderá operar os gasodutos.

Para Elena Landau, tais indefinições acontecem porque o governo não tem coragem para assumir que está privatizando parte da estatal, o que faz com que a venda dos ativos seja feita “de forma envergonhada”, sem que haja um plano para recuperar a petrolífera. “Se ela [presidente] tivesse a coragem de assumir: ‘estou privatizando e estou reestruturando a Petrobras’, ela poderia fazer isso de uma forma organizada. Como ela tem que fingir que não está privatizando, está fazendo dessa forma, é uma coisa para atender somente o caixa, ela não tem uma filosofia do impacto, do que ela quer, do que o pais precisa para o setor de óleo e gás”, destacou.

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11/02/2016