Polícia Federal intercepta conversas telefônicas com ameaças à ministra do STF Cármen Lúcia
A ministra, que será a próxima presidente da Suprema Corte, também é a relatora do processo da Operação Zelotes
Brasília (DF) – A Polícia Federal está em alerta após interceptar conversas telefônicas em que o assunto principal era a ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia. Para os agentes, as ligações continham um certo ar de ameaça. Por conta disso, a segurança na casa da ministra foi reforçada 24 horas por dia. As informações são da coluna Expresso, publicada na revista Época desta semana.
Vale lembrar que Cármen Lúcia, que será a próxima presidente da Suprema Corte, também é a relatora do processo da Operação Zelotes, que investiga um dos maiores esquemas de sonegação fiscal já descobertos no Brasil. A suspeita é de que quadrilhas atuavam junto ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) do Ministério da Fazenda, anulando e revertendo multas. As apurações também envolvem lobbys em grandes empresas.
Na mais recente fase da operação, a PF realizou buscas na empresa LFT Marketing Esportivo, do filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário Luís Cláudio Lula da Silva. A empresa teria recebido repasses da Marcondes & Mautoni, firma de lobistas suspeita de comprar medidas provisórias em favor da indústria automobilística.
Para o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), as ameaças à ministra Cármen Lúcia são “condenáveis e devem ser investigadas”.
“A apuração é imprescindível para responsabilizar os autores dessa ameaça. Fica difícil, inclusive, acreditar que alguém possa ameaçar uma ministra do Supremo Tribunal Federal simplesmente porque repercutiu um anseio da população brasileira. Portanto, cabe sim à Polícia Federal, sobretudo nesta hora, investigar responsáveis por esse tipo de ameaça, que deve ser prontamente repudiada. É uma ameaça que tem que ser repudiada por todos que desejam realmente a prevalência da Justiça sobre a impunidade nesse país”, afirmou.
‘Crime não vencerá a Justiça’
Em sessão que decidiu pela prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), ex-líder do governo Dilma, por tentativa de obstruir as investigações sobre esquema de desvio de dinheiro na Petrobras, a ministra Cármen Lúcia fez um discurso contundente, comparando o esquema do Petrolão ao mensalão petista.
“Na história recente de nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote de que a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o cinismo venceu a esperança. E agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. Quero avisar que o crime não vencerá a Justiça. A decepção não pode vencer a vontade de acertar no espaço público. Não se confunde imunidade com impunidade. A Constituição não permite a impunidade a quem quer que seja”, disse.
O senador Alvaro Dias acredita que as declarações da ministra atendem às expectativas do povo brasileiro.
“É o que deseja a nossa sociedade, que o Supremo Tribunal Federal atue de forma implacável contra a corrupção e os corruptos, punindo rigorosamente os envolvidos nesse escândalo, sobretudo esse escândalo do Petrolão, que a Operação Lava Jato vem apurando. O pronunciamento dela atende a uma expectativa da sociedade e recupera, de certa forma, a esperança de muitos que desacreditam na atitude do Supremo Tribunal Federal. É um pronunciamento para recuperar a esperança”, completou o parlamentar.