“Problema central do Brasil é recomeçar a andar para frente”, diz Fernando Henrique no Programa do Jô

Acompanhe - 18/05/2016

Evento internacional discute política sobre drogasBrasília (DF) – O conturbado momento político brasileiro foi um dos assuntos discutidos pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso em entrevista veiculada na madrugada desta quarta-feira (18), no Programa do Jô. Para o tucano, o grande desafio que o Brasil tem pela frente é recomeçar a andar para frente. Ele destacou que nunca na história do país houve tal retrocesso econômico e social, e cabe agora ao presidente em exercício Michel Temer (PMDB) reverter esse quadro e marcar o seu “papel na história”.

“O problema central do Brasil é recomeçar a andar para frente: nós andamos para trás, nesses últimos dois anos, oito pontos do PIB [Produto Interno Bruto]. Nunca houve isso na nossa história, um retrocesso de tal tamanho. Nós nunca tivemos essa dificuldade que nós temos hoje de acreditar que o Brasil vai engatar de novo no mundo”, afirmou.

“O governo Temer tem que fazer uma composição de ministérios atendendo às forças políticas. Tem que responder os anseios imediatos do país, tomar medidas para recobrar a economia, tem que fazer com que o Brasil tenha voz no mundo”, disse. “Se ele fizer isso que eu acabei de dizer, se ele puser a economia para funcionar melhor, se ele deixar, como ele tem que deixar, a Lava Jato continuar, se ele começar a reorganizar o governo brasileiro, ele tem um papel na história.”

O presidente de honra do PSDB rechaçou a comparação entre os processos de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, e da petista Dilma Rousseff. Ele explicou que o momento histórico é outro: enquanto a democracia tinha sido recém-instaurada em 1992, e Collor era o seu primeiro presidente eleito, hoje a democracia está consolidada. “Tão consolidada que as pessoas já nem se assustam quando um juiz manda prender um parlamentar, coisa que no passado seria impensável”, exemplificou.

Fernando Henrique rebateu o discurso reproduzido à exaustão pelo governo petista, de que o impeachment de Dilma seria um “golpe político”. “Inventaram que é um golpe e espalham isso mundo afora. Isso é uma narrativa, uma propaganda, dizer que é golpe para justificar”, considerou.

O ex-presidente destacou que o impeachment é uma prerrogativa prevista na Constituição, que autoriza o afastamento de um governante caso certas normas não sejam seguidas. “Ela [Dilma] não seguiu algumas prescrições da Constituição, na questão do orçamento, na questão das pedaladas fiscais, do uso excessivo do que o governo não dispunha”, apontou.

Para FHC, é difícil que o afastamento da presidente Dilma Rousseff seja revertido, já que a ampla maioria de parlamentares na Câmara e no Senado que votaram pela admissibilidade do processo de impeachment demonstra que a gestão petista perdeu força política e a condição de governar.

“O que está por trás? A situação econômica vai muito mal, a situação social, 11 milhões de desempregados, isso cria um clima desfavorável. E sobretudo, a corrupção”, avaliou. “Teve uma característica especial a partir do governo anterior [do ex-presidente Lula]. Não se trata daquela corrupção que dizem que já existe sempre, e provavelmente é verdade: a falta de conduta pessoal. Aqui não. Houve uma organização com uma mínima conivência de quem manda, porque as pessoas estão lá, e que usa o dinheiro para financiar partidos, financiar eleições, sustentar o poder. Isso é mais grave ainda do que a corrupção de gente que apenas pegou o dinheiro para si, o que já é errado”, completou.

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18/05/2016