GO: Na vanguarda no tratamento de microcefalia

Saúde - 13/06/2017

O Centro de Reabilitação e Readaptação Henrique Santillo (Crer), em Goiânia, transformou-se em referência no país e com apoio do Ministério da Saúde no atendimento de crianças diagnosticadas com microcefalia. A unidade registrou que os atendimentos e terapias focadas na estimulação precoce de pacientes com comprometimento cerebral tiveram aumento de 70%, chegando a ser oferecidos diariamente na unidade, nos dois turnos, matutino e vespertino.

Atualmente, 55 crianças com microcefalia são atendidas por essa equipe, que desenvolveu três passos como protocolo de atendimento. Primeiramente, ao chegar à unidade a criança é encaminhada para o Grupo de Atenção Continuada (GAC), que o acolhe imediatamente.

Com 15 anos de existência, o centro se dedica ao tratamento de pacientes com comprometimentos cerebrais. A Secretaria de Saúde instituiu um Comitê de acompanhamento dos casos e inseriu dentre seus integrantes representantes do Crer. No boletim da microcefalia já foram notificados 269 casos em Goiás desde 2015, quando passaram a ser acompanhados de perto pelo poder público.

A iniciativa conta com apoio do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Segundo explica o médico fisiatra, Maurício Rassi Carneiro, que ocupa a gerência de Reabilitação do Crer, os casos de microcefalia são pré-existentes ao Zica Vírus e podem ser originários de doenças como toxoplasmose, rubéola, sífilis e demais doenças congênitas, contraídas pela mãe durante a gestação.

“O Zica Vírus só ampliou a ocorrência da síndrome. Hoje se sabe que 1% das gestantes que contraem Zica Vírus vão desenvolver a microcefalia nos seus filhos. Portanto ter contraído Zica pode ou não levar ao desenvolvimento da microcefalia”, explica Maurício.

Um fator que despertou a atenção dos médicos que lidam com gestantes Zica positivo é que mesmo bebês que nascem sem o crânio reduzido estão demonstrando, em alguns casos, comprometimentos nos campos visual e auditivo. Portanto, criou-se um protocolo de acompanhamento para todas as crianças nascidas de mães que contraíram zica, elas tendo ou não a microcefalia.

“Hoje é obrigatório às gestantes que apresentarem os sintomas da Zica como vermelhidão no corpo associada à coceira, que passem pelo exame que detecta o contágio por zica vírus. Assim, seu bebê automaticamente é encaminhado ao CRER após o nascimento para acompanharmos se ele não apresenta comprometimentos visuais ou auditivos”, explica Maurício.

Diagnóstico

Os casos de microcefalia são observados pontualmente pois dependem do grau de acometimento de cada um. “Não dá para falar que todos os pacientes terão os mesmos problemas. Cada caso é um novo desafio para nós”, afirma o médico Maurício Rassi. “É preciso analisar o tamanho dessa calota craniana, se ela está comprimindo o cérebro, o que pode acarretar em paralisia cerebral, ou demais seqüelas. ”

Diante do desafio de tratar cada um dos pacientes com as suas especificidades, o Crer formou uma equipe multidisciplinar composta por fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo e odontólogo, que acompanha diretamente a trajetória desse paciente na unidade. Há, ainda,  neurologistas, fisiatras, otorrinolaringologista e oftalmologista acionados para  análises mais pormenorizadas de cada caso.

“Não temos uma criança na lista de espera por atendimento. Todas que chegam até nós são imediatamente atendidas”, explica o fisioterapeuta Rogério de Castro. O GAC acontece por meio de atendimentos quinzenais.

Em seguida, a criança é direcionada à estimulação precoce, onde uma vez por semana recebe atendimento da equipe multidisciplinar. E após um ano ela conquista uma vaga para as terapias individuais, onde passa a ter acompanhamento até duas vezes por semana, de forma particularizada.

Tal metodologia de atendimento tem chamado a atenção de demais unidades de saúde que também se empenham em conferir melhor qualidade de vida aos pacientes com microcefalia. Portanto, o Crer foi acionado pelo Ministério da Saúde para contribuir com o desenvolvimento dessa cadeia de amparo a pessoas com a síndrome em todo o Brasil.

“Somos um centro de reabilitação tido como referência em todo o país. Naturalmente o governo quis que participássemos mais diretamente desse processo ao levarmos nossa experiência adquirida pelo grande volume de atendimentos que já oferecíamos a pessoas com comprometimentos cerebrais. Com isso, ficamos na vanguarda dessa capacitação”, explica Rogério de Castro.

Tanto o Crer tem enviado profissionais às unidades de saúde para explicar os protocolos de atendimento adotados, como tem recebido equipes interessadas em conferir in loco como tal atendimento foi sistematizado.

Em outra ponta, o pesquisador Heitor Rosa, gastroenterologista que integra o corpo clínico do Crer tem mapeado os dados coletados sobre a evolução dos pacientes com microcefalia para traçar um estudo que visa mapear sua evolução com as técnicas aplicadas. “Contamos com a expertise do doutor Heitor Rosa que está fazendo a avaliação das crianças antes e depois para medirmos os avanços conquistados”, explica Rogério de Castro.

Atendimento

Além das crianças com microcefalia, o Crer estendeu o atendimento psicológico aos pais responsáveis por aprender a lidar com as dificuldades enfrentadas pelos seus filhos. Amparar a família que sofre diretamente o impacto de criar um filho com comprometimentos cerebrais é fundamental para a evolução do tratamento, concluíram os especialistas envolvidos.

Esse é o caso de Cybele Tomaz de Oliveira, 39 anos, que há sete meses trata da microcefalia, desde que sua filha Marcela nasceu com a síndrome. Mãe também da pequena Ana Luíza, de 4 anos, Cybele se depara pela primeira vez com os desafios de um bebê com tal comprometimento.

Quando estava com dois meses de gestação, Cybele contraiu o Zica Vírus e passou a fazer um acompanhamento gestacional pormenorizado desde então. Foi por meio do ultrassom morfológico que ficou constatada a alteração craniana de Marcela, com cinco meses gestacionais. “Você sente medo pelo que sua filha vai passar, como a sociedade vai tratá-la. Portanto, eu iniciei a preparação pela sua chegada desde cedo com a irmãzinha dela”, recorda.

Desde que deixou a maternidade, a pequena Marcela foi encaminhada ao Crer e tem sido acompanhada diretamente. “Sou muito grata a todos da equipe que nos acolheram com tanta dedicação e carinho”, finaliza.

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13/06/2017