PT faz ‘jogo de cena’ para evitar responsabilidade por desvios de seus candidatos, avalia Betinho Gomes
“O PT expõe os seus próprios militantes, mostrando que é um partido que não se preocupa com a legalidade de seus atos”
Brasília (DF) – Ligado diretamente a diversos esquemas de corrupção e com dois de seus tesoureiros presos, o Partido dos Trabalhadores decidiu implementar já nas eleições de 2016 uma medida que vai responsabilizar os candidatos, e não o partido, no caso de eventuais desvios em arrecadações de campanha. O deputado federal Betinho Gomes (PSDB-PE) avalia a atitude como “jogo de cena”.
“Me parece uma decisão inócua porque os candidatos já são responsáveis por suas contas arrecadadas durante a campanha. Trata-se de um jogo de cena. O partido resolveu fazer um movimento para dizer que não vai ter nenhum tipo de responsabilidade nas campanhas de seus filiados, e assim ficar livre das implicações e de possíveis denúncias”, afirmou.
Segundo reportagem publicada nesta quarta-feira (27/01) pelo jornal Folha de S. Paulo, o PT definiu, em reunião da Executiva Nacional realizada na terça (26), que uma cláusula de responsabilidade será incluída na “carta compromisso” dos candidatos. Eles deverão se responsabilizar por todas as suas contas de campanha.
“Não é desconfiança de ninguém”, disse ao jornal o presidente do PT, Rui Falcão. “Mas, como muitas vezes há um erro, um deslize, não queremos que haja nenhuma responsabilização do partido”.
Vale lembrar que após as investigações que levaram à prisão os tesoureiros Delúbio Soares, por envolvimento no mensalão, e João Vaccari Neto, por participação no esquema de corrupção da Petrobras, o PT vetou o recebimento de doações empresariais, o que tem dificultado o pagamento de dívidas adquiridas durante a campanha de 2014.
O financiamento privado de campanha foi proibido para todos os candidatos e partidos no final do ano passado.
Filiados à própria sorte
Betinho Gomes destacou que a medida expõe os filiados do partido à “desconfiança generalizada”, deixando-os “à própria sorte”.
“O PT expõe os seus próprios militantes, mostrando que é um partido que não se preocupa com a legalidade de seus atos na tentativa de jogar a responsabilidade direta para terceiros”, apontou o tucano.
“Acabam jogando uma desconfiança generalizada em cima de seus próprios filiados, como se pensassem ‘todos se envolvem em coisas erradas, em arrecadação irregular. Temos que deixar essas pessoas expostas, à própria sorte”, completou.
O deputado ressaltou ainda que a medida, “um apelo para a opinião pública para tirar da Direção Nacional qualquer tipo de responsabilidade pelos escândalos de corrupção”, parece esquecer que a própria cúpula petista esteve diretamente envolvida em grande parte desses escândalos. Um exemplo foi o mensalão, que teve a participação de parlamentares e do próprio ministro da Casa Civil, José Dirceu, então braço direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.