“Se fosse pela vontade do governo, nós já seríamos uma Venezuela”, diz Nárcio sobre defesa que Dilma faz do país vizinho
Brasília (DF) – A presidente da República Dilma Rousseff rejeitou a proposta do presidente eleito argentino, Mauricio Macri, de utilizar a cláusula democrática do Mercosul contra a Venezuela para excluir o país do bloco, por sua “perseguição aos opositores e à liberdade de expressão. As informações são de reportagem publicada nesta terça-feira (1/12) pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Para a petista, a cláusula democrática existe, mas seu uso é limitado. “Para usar a cláusula democrática, não pode usar com hipóteses. É preciso qualificar o fato”, justificou Dilma, em resposta a um jornalista estrangeiro em Paris.
“Se fosse pela vontade do governo, nós já seríamos uma Venezuela. O que tem segurado isso são as instituições, que são sólidas no Brasil, e a oposição, que tem segurado esses desmandos na medida do possível”, avaliou o deputado federal Caio Nárcio (PSDB-MG).
O parlamentar afirmou que a postura do novo presidente argentino é a mesma que se esperava do governo brasileiro. “O Brasil não tem demonstrado a nossa posição a favor dos preceitos democráticos, e acho que é lamentável o Brasil não se posicionar de forma clara com relação a isso. O presidente da Argentina se posicionando dessa maneira dá um exemplo para a América Latina, na verdade, e toma um protagonismo que o Brasil deveria ter”, disse.
No dia seguinte às declarações de Macri de que o Brasil deveria rever sua posição de apoio à Venezuela, o Palácio do Planalto foi cauteloso ao argumentar que as primeiras falas do argentino como presidente eleito ainda poderiam estar sob influência do calor da campanha eleitoral.
Conivência
Para Nárcio, a gestão da presidente Dilma Rousseff não só é conivente com as políticas totalitárias do país vizinho, mas tem tentado replicá-las em solo brasileiro.
“Nosso governo não é só conivente, é mais que isso. Ele tem implementado, e tentado implementar também, medidas parecidas aqui. Se a gente lembrar do direcionamento do PT, estava lá o controle da imprensa, dos direitos democráticos. Há uma tentativa recorrente do Partido dos Trabalhadores de estar afrontando os preceitos democráticos. Então, não é só esse problema de não falar nada e não defender nada. Também se tem essa situação das tentativas de fazer o mesmo aqui no Brasil”, destacou o tucano.
Falta de cortesia
A cortesia demonstrada pelo governo brasileiro não parece se espelhar nas atitudes do governo do presidente Nicolás Maduro. O venezuelano não se posicionou oficialmente, por exemplo, acerca do veto do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano ao nome do ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Nelson Jobim, que comandaria uma missão de observadores da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Por conta das restrições impostas pelas autoridades venezuelanas, o TSE acabou desistindo de fazer um acompanhamento técnico das eleições legislativas que acontecem neste domingo.