Tucanafro MG comemora o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

Tucanafro premiou mulheres cuja trajetória e os trabalhos realizados melhor representam luta e superação

Acompanhe - 27/07/2015

Centenas de pessoas participaram, na última sexta-feira (24), das comemorações do Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, oficialmente celebrado no dia 25 de julho (sábado). O evento foi organizado pelo secretariado da militância negra do PSDB, o Tucanafro, e aconteceu na sede do diretório do PSDB de Belo Horizonte, onde foram premiadas oito mulheres cuja trajetória e os trabalhos realizados melhor representam a luta e a superação das mulheres negras do Brasil.

Mulheres como a professora de história do ensino médio e fundamental da rede pública de educação do município de São João del-Rei, Denice Nascimento. Ela desenvolve com seus alunos um trabalho de conscientização e promoção da igualdade racial. No último mês de maio — por exemplo — em comemoração à abolição da escravatura no Brasil (13/5), ela envolveu cerca de 1400 alunos em um concurso de redação, cujo tema era a “inserção do negro na sociedade atual”. Os alunos autores das cinco melhores redações foram homenageados na Academia de Letras de São João del-Rei. “Fiquei muito feliz com a homenagem. Vivemos numa sociedade onde as condições de ascensão social são mais difíceis para os negros e como professora não poderia deixar de fazer minha parte na luta pela promoção da igualdade racial”, agradeceu.

Histórias de perseverança e mérito também foram agraciadas, como a da também professora Rachel Souza. Ela lecionou 34 anos na rede pública de educação, tanto pelo governo do estado de Minas Gerais como pela Prefeitura de Belo Horizonte. Ela é formada em Matemática, Física e Química. Pós-graduou-se em Matemática pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Química e em Formas Alternativas de Energia pela Universidade Federal de Lavras. Também publicou o livro de poesia “O Brasil contado em versos”. “Sinto-me honrada por ter sido lembrada na homenagem”, emocionou-se.

As outras homenageadas foram Cida da Silva Santos, proprietária da loja Nêga Badu, Moda e Acessórios; Edneia Eloisa da Silva, uma das funcionárias mais antigas do partido; Anna Paola Frade Pimenta da Veiga, jornalista e editora de revista especializada em projetos estratégicos voltados para os segmentos imobiliários e da construção civil, parceira incondicional do Tucanafro e aguerrida militante da promoção da igualdade racial; a matriarca do quilombo Manzo Ngunzo Kaiango (reconhecido pela Fundação Palmares e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – Iepha – como o primeiro quilombo urbano de Belo Horizonte) dona Efigênia Maria da Conceição; Cida Morena Nascente, cabeleireira e líder comunitária, reconhecida pelos trabalhos sociais na região do bairro Suzana em Belo Horizonte, e Luislinda Valois, a primeira magistrada negra do país, que veio da Bahia só para participar da solenidade.

O presidente nacional do Tucanafro, Juvenal Araujo, explicou que a homenagem busca evidenciar a luta da mulher negra que precisa enfrentar diariamente o racismo e o preconceito. “Premiamos mulheres que venceram obstáculos e hoje são referências para outras mulheres negras. Toda mulher sofre discriminação, sexismo, por exemplo, no mercado de trabalho, mas com a mulher negra é ainda pior”.

Araujo refletiu ainda sobre as barreiras e aprovações das negras brasileiras, mencionando os dados do “Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que ponta que as mulheres negras constituem 53% da linha de pobreza, sendo a parte da população mais vulnerável socialmente, entre mulheres e homens brancos e negros.

“Devemos refletir e conscientizar a sociedade da importância da mulher negra, elas precisam de mais respeito. Elas sofrem diariamente violências preconceituosas que uma fração da sociedade ainda vê como banais. No mercado de trabalho, 71% das mulheres negras estão nas ocupações precárias e informais. Temos de tomar consciência disso”, destacou.

Ainda mencionando o estudo do Ipea, Juvenal destacou que o mercado de trabalho é considerado pelos cientistas sociais um espaço privilegiado de análise das desigualdades, já que, para acessá-lo, etapas particularmente importantes na trajetória socioeconômica dos indivíduos entram em cena. “Mulheres das classes mais pobres, cuja maioria são negras, acabam ficando com os empregos domésticos, de prestação de serviços e os também ligados à produção na indústria. Já as mulheres de classe média, graças às maiores oportunidades educacionais, tendem, a trabalhar com prestação de serviços, em áreas administrativas, na educação ou na saúde”, denunciou.

O evento contou com a presença de várias autoridades partidárias, entre elas, o presidente estadual da Juventude do PSDB, Reinaldo Belli, do presidente do PSDB Sindical, Rogério Fernandes, representando o PSDB mulher, Sônia Fernandes, do vice-presidente do PSDB de Contagem, Marius Carvalho e da primeira juíza negra do Brasil, Luislinda Valois, que também figurou entre as homenageadas.

Marius Carvalho, que também é presidente municipal do Instituto Teotônio Vilela, núcleo de formação política do PSDB, concluiu falando da importância do evento. “Ações afirmativas como essa, que envolvem dezenas de pessoas, de diferentes raças e classes sociais, atestam a principal premissa que norteia os trabalhos do Tucanafro, de que a luta não é só do negro, mas de todos nós. Aqui, estamos todos reunidos na luta pela promoção da igualdade racial, devidamente protagonizada pelos negros”, encerrou.

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27/07/2015