Curitiba (PR) – O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), destacou nesta sexta-feira (27) que o partido promove os encontros regionais para ouvir a sociedade e buscar alternativas que funcionem como contraponto às ações do atual governo.
O PSDB, em conjunto com o Instituto Teotônio Vilela (ITV), realiza neste sábado (28), em Curitiba (PR), o Encontro Regional do Sul, do qual participarão lideranças do Paraná, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, além de nomes de destaque nacional.
“O PSDB iniciou, na semana passada, uma série de reuniões que possibilitarão um reencontro com a agenda do Brasil”, disse o senador, em entrevista coletiva. “[Desde o governo do ex-presidente] Fernando Henrique, de lá para cá do ponto de vista estruturante, poucas coisas ocorreram”, acrescentou.
Aécio disse que a prioridade do PSDB é ouvir a população. “A prioridade do PSDB é falar mais com a sociedade brasileira, mais do que buscar alianças partidárias”, destacou. “[Esses encontros regionais] nos permitirão iniciar a discussão daquelas que serão as principais propostas que o PSDB levará, no ano que vem, como contraponto aos desgovernos que vêm ocorrendo.”
Também participaram da entrevista coletiva o governador do Paraná, Beto Richa, secretário-geral do PSDB, Mendes Thame (SP), senadores Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Paulo Bauer (SC), o deputado Alfredo Kaefer (PR), além do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Valdir Rossoni, e o secretário da Fazenda do Paraná, e Luiz Carlos Hauly (PR)
Durante a entrevista coletiva o senador respondeu a questões políticas e econômicas nacionais e relativas ao Paraná. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Sobre o encontro em Curitiba
O PSDB iniciou na semana passada um conjunto de eventos, reuniões e seminários, que vai nos possibilitar o encontro com agenda do Brasil. A agenda que ainda está em curso hoje foi a agenda proposta pelo PSDB lá atrás, nos tempos do governo Fernando Henrique. De lá para cá, do ponto de vista estruturante, poucas coisas ocorreram.
O objetivo desta reunião é nós encontrarmos com os companheiros de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e, obviamente, aqui no Paraná, com todos os companheiros do Estado, me permitirá construir desde já ou iniciar a construção daquelas que serão as principais propostas que o PSDB levará no ano que vem em contraponto ao desgoverno que hoje rege o país. Portanto, quero inicialmente fazer este agradecimento.
Sobre ausência de investimentos federais no Paraná
Esta é uma preocupação de todos nós do PSDB e não apenas da oposição. Todos aqueles que prezam a conduta republicana. A grande verdade, digo isso aqui como presidente nacional do PSDB, o sentimento de todos os tucanos e de muitos outros representantes de vários partidos, tem havido, ao longo dos últimos anos, uma claríssima discriminação do governo federal em relação aos interesses do Paraná. Se o objetivo é, eventualmente, discriminar um governo eleito democraticamente como governador de oposição, o tiro acerta o alvo errado. Acerta a população do estado do Paraná.
Não é digno, não é correto, não é aceitável que o Paraná continue, por exemplo, tendo tantas dificuldades para obter os empréstimos internacionais, enquanto outros estados, inclusive com situação fiscal muito mais grave que a do Paraná, não tem tido os mesmos obstáculos. É a oportunidade de nós, de forma muito clara, deixarmos aqui nossa palavra de indignação porque a prática republicana pressupõe respeito sobretudo ao resultado das urnas, ao resultado que a democracia nos permite ter. Tenho acompanhado o esforço do governador Beto Richa na busca desses financiamentos diretos são muito poucos. As promessas são muitas, mas os investimentos efetivos são muito poucos.
E mesmo os financiamentos, que serão de responsabilidade do estado amanhã pagar, o estado não vem obtendo. Estamos acompanhando isso, o líder Aloysio em especial, teve a oportunidade de se manifestar sobre isso no Senado. Estamos acompanhando atentamente. Vamos ter nos próximos dias mais um adiamento, depois de tantos que já ocorreram. Repito aqui: é algo para ser denunciado, algo para ser cobrado, porque não é legítimo, não é respeitoso, sequer, com a população do estado do Paraná.
Sobre resultados da pesquisa Ibope
Com absoluta naturalidade. Acho que neste momento, os índices de intenção de voto quando eles colocam como opções com situação distintas, pessoas com conhecimento distinto, uns que já disputaram eleição presidencial e outras e não, obviamente, os números vão privilegiar aqueles onde há maior conhecimento. Mas eu respeito os números de pesquisa. Não questiono as pesquisas. Um dado que me parece relevante, neste instante, até porque é você encontra em todas as pesquisas, é de que entre 60 e 65% da população brasileira não quer votar na atual presidente da República. Todas as pesquisas você vai encontrar o dado nesta faixa, inclusive nas que são melhores para a atual presidente. Mesmo ela tendo 100% do conhecimento, com uma mídia permanente, uma exposição diária para todos os brasileiros. Somado a uma propaganda governamental bilionária, quase que uma lavagem cerebral todos os dias nas televisões.
Mesmo assim, mais de 60% da população brasileira não quer votar na atual presidente. O que percebo hoje, esse é um sentimento que divido com vários companheiros, inclusive de outras visões políticas – é de que o candidato que chegar no segundo turno vai vencer as eleições. Porque o ciclo do PT, em benefício do Brasil, precisa ser encerrado.
Sobre os novos partidos autorizados pelo TSE
Me permita deixar uma posição muito clara, que é a minha, é do PSDB, em relação ao processo de criação de partidos. Sempre fomos contra a portabilidade, a possibilidade de ir para outro partido e levar consigo a sua proporção de fundo partidário ou sua proporção correspondente do tempo de televisão. Sempre defendemos inclusive, lá atrás, e que infelizmente também foi derrubada pelo STF, aquilo que se costumou chamar de cláusula de barreira, ou como alguns chamavam, cláusula de desempenho, onde os partidos, para terem funcionamento parlamentar, precisavam ter o mínimo de conexão com a sociedade. Os partidos precisam representar um segmento de pensamento na sociedade, se pensar alguma coisa. É assim que funcionam as democracias mais sólidas do mundo. Infelizmente a interpretação do Supremo, por outras razões, foi diversa da nossa.
Houve a criação de inúmeros partidos políticos e, a partir dessa interpretação que houve, o governo federal, estimulou a criação de partidos que, de alguma forma, permitia a migração de parlamentares da oposição para a base do governo. O estímulo do governo foi pela desidratação dos partidos de oposição para que se alinhassem ao governo. E no momento seguinte o governo quis, através do apoio do PT a um projeto que tramitou na Câmara e depois chegava ao Senado, impedir que isso continuasse ocorrendo. Aquela velha história, você é dono da bola, vai jogar futebol, pega bola, chuta, faz o gol, acabou o jogo. Pega a bola e leva para casa de novo. O que defendemos, já que houve isso, nessa mesma legislatura, era preciso que houvesse isonomia. Dessa forma foram criados mais esses dois partidos.
Em relação ao partido Rede, esperamos – tenho dado manifestações claras em relação a isso, inclusive impedimos ao lado do PSB e de outros partidos, que esse projeto apoiado pelo PT fosse votado e que impediria esse tratamento isonômico – espero, parece que esta marcado para terça ou quarta-feira da semana que vem, que ela possa alcançar os requisitos legais para que possa estar no jogo político. Acho que o Brasil merece ter uma alternativa como a Marina, como merece ter uma alternativa como o Eduardo, ou quantas outras possam surgir.
O governo é que parece querer ganhar por W.O., porque a truculência que usa para impedir que outras forças se organizem é muito grande, jamais vista antes na história do Brasil. Em relação ao Solidariedade, é o único desse partidos que nasce sem o guarda-chuva do governo. Nasce sem estar estimulado pelo governo ou se aproveitando de espaços do governo, como ocorreu já com outros. Então vamos aguardar o tempo. Não há nenhuma definição ainda. E a prioridade do PSDB hoje é muito mais fazer uma aliança com setores da sociedade brasileira, voltar a falar para as pessoas sobre seu futuro, voltar a falar o que faremos em relação, por exemplo, à Federação, hoje destroçada, aniquilada por esse governo centralizador, do que buscar alianças partidárias.
As alianças virão no tempo certo, a partir da capacidade que tivermos de sermos intérpretes de uma angústia que está levando, hoje, pelo menos um terço dos eleitores a não terem qualquer opção a um ano das eleições. Então, nosso esforço é estar aqui ouvindo o Beto (Richa), nos apropriando – espero devidamente – de algumas das belas experiências do governo Beto Richa. O Beto tem um programa que gostaria de ver estendido para todo Brasil, que é o Mãe Paranaense, que fez com que o Paraná tivesse os menores índices de mortalidade materno-infantil. Existem programas aqui também e no país, com extensa atividade agropecuária, um programa que fizemos em Minas muito parecido com o que o Beto faz aqui, de apoio às estradas vicinais, de apoio ao pequeno e médio produtor rural, dando a ele equipamento, maquinário para que ele possa, enfim, melhorando o escoamento da sua produção, ter um resultado um pouco melhor.
A hora agora é de falar para o Brasil. É falar, por exemplo, que para nós é inaceitável que o governo federal, que quando o PT assumiu gastava 56% de tudo que se investia em saúde pública no Brasil, hoje gaste apenas 45% e não assuma a sua responsabilidade. E olha que o caixa, a receita é crescente na União, não nos estados e municípios. E decresce a participação do governo no financiamento da saúde. Na segurança, que é outro drama hoje no Brasil, sobretudo com o crescimento do tráfico de drogas, está aí o crack, essa epidemia devastando jovens e famílias inteiras, o governo federal, que é responsável pelas fronteiras – aqui no Paraná sabemos o quanto isso é relevante, pelo tráfico de drogas e tráfico de armas –, participa com apenas 13% de tudo que se investe em segurança pública. 87% de tudo que se investe em segurança no Brasil vem dos municípios e dos estados. O PSDB quer refundar a Federação do Brasil. Esse estado centralizado, autoritário, interessa àqueles que não têm vocação democrática. O governo atual, o governo do PT é muito pouco generoso com os municípios e com os estado brasileiros.
Sobre a atuação e intenções de votos da oposição.
Há sempre críticas em relação à oposição, mais contundente, menos contundente, mais dura ou menos dura. O PSDB tem características diferentes do PT. O PT foi contra o Plano Real, a lei de responsabilidade fiscal. O PSDB faz oposição ao governo, de forma absolutamente clara, as questões que são de interesse do Brasil, que nós lá atrás defendíamos, nós não fazemos oposição.
O governo do PT só avança quando copia o receituário do PT, quando é o PT antigo, ele erra. Esse processo de concessão feito agora às pressas. O governo do PT conseguiu jogar fora, aquele que tenha talvez tenha sido a principal conquista, que foi a credibilidade conquistada pelo Brasil. Há hoje uma grande dúvida de se investir no Brasil. Hoje há uma grande dúvida sobre se investir no Brasil. Estarei em Nova York, convidado por um grande banco. Ninguém mais investe porque o governo não respeita contratos. A presidente esteve em N.Y., na última semana, depois de sua fala na ONU, para dizer ‘o brasileiro respeita contratos’. Eu falo com a indignação do cidadão brasileiro: não dá mais para assistir passivamente o caminho que o Brasil está percorrendo. No ano passado, crescemos mais que o Paraguai. Este ano será apenas mais do que a Venezuela. Isso não se justifica. No final do mandato da presidente Dilma, o governo terá crescido apenas um terça da média da América do Sul.
Nas próximas eleições, o PSDB representará o novo, o velho são eles. As pessoas vão conhecer as propostas e os candidatos. O dado relevante nesta pesquisa é que mais de 60% da população brasileira não quer mais o PT.
Estou em campanha para que o PSDB construa esse projeto. É meu papel como presidente nacional do PSDB, seria estranho e não o fizesse. Estou aqui, estaremos no Norte dentro de poucas semanas. Temos estado sempre em São Paulo, vamos estar também em um grande evento no Centro-Oeste dentro de mais algumas semanas. A preocupação, a intenção do PSDB, é colocar-se como contraponto ao que está aí.
Enquanto vemos o Estado aparelhado pela militância partidária, vamos defender a meritocracia na administração pública. Enquanto vemos nossa política externa submetida a um viés ideológico e o Brasil sendo alijado do comércio exterior, já participamos com mais de 2% do total do comércio exterior, hoje participamos com 1,3%, em 10 anos será menos de 1% se continuarmos nessa rota, o PSDB quer uma integração do Brasil, das suas empresas, nas principais cadeias produtivas globais. Enquanto o governo do PT demoniza o setor privado, acho que é concorrente ou adversário, queremos a parceria do setor privado. Feito às claras, com concessões, com investimentos nas áreas que o Estado não pode enfrentar.
Enquanto o PT quer um Estado unitário, com cada vez menos recursos para municípios e estados, os queremos mais fortalecidos. Mais recurso para a saúde, defendemos 10% das receitas brutas. Queremos uma gradualidade que nos permita chegar a 10% do PIB na educação, enquanto o PT tira essa agenda da sua frente. O debate vai ser muito bom. O PSDB está se preparando para ele e indicadores de pesquisa nesse momento não tem, na minha avaliação, qualquer significado. Na hora certa, tenho certeza que o PSDB se colocará muito competitivo.
Sobre o ex-governador José Serra.
É um privilégio para o PSDB ter um quadro como José Serra. Qualquer partido no Brasil ou mesmo fora do Brasil gostaria de ter um quadro com a história política de José Serra, com sua qualidade, com sua visão de pais. Que bom que ele está no PSDB e no que depender de nós continuará é absolutamente legítima qualquer postulação, seja presidencial ou outra. O partido tem que respeitá-la. Minha confiança é de que estaremos juntos na frete.
Dados do PNAD sobre analfabetismo e desigualdade.
Mostra o equívoco na compreensão do PT sobre a eficácia das políticas de transferência de renda. PT se contenta na administração da pobreza e se preocupa pouco com sua superação. Não houve nenhum passo além. No governo do PSDB o Bolsa-Família não vai acabar, a diferença fundamental para nós é que o Bolsa-Família é um ponto de partida, para o PT o de chegada. Temos que permitir que os beneficiários tenham a possibilidade de transitar para o mercado formal.
Sistema tributário brasileiro.
Precisamos simplificar o nosso sistema tributário em curto período de tempo, outras medidas demandam algum tempo para acontecer. O que acontece é que os pilares fundamentais que nos levaram à estabilidade da moeda e foram constituídos no governo do presidente Fernando Henrique foram sendo flexibilizados. O PT nunca focou no centro da meta de inflação. A inflação de alimentos nos últimos 2 anos sempre esteve acima de 10%. Resgatar esses fundamentos da macroeconomia, ser inflexível na luta contra a inflação e, sobretudo, dar credibilidade ao Brasil através da clareza dos dados fiscais, o que existe hoje é uma manipulação vergonhosa. Política econômica passa por credibilidade e transparência. Foi assim que o PSDB entregou e infelizmente não será assim que irá receber, espero eu, em 2014.