O parecer favorável à admissão do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi finalmente aprovado pelo Conselho de Ética da Casa, depois de sete sessões nas quais aliados do parlamentar conseguiram, com manobras, protelar a votação. Os deputados do PSDB no colegiado votaram pela admissibilidade do pedido para que sejam apuradas as denúncias que pesam contra o peemedebista.
O deputado Nelson Marchezan Júnior (RS) disse que a admissão do processo foi um importante primeiro passo, no sentido de dar uma resposta à opinião pública. O parecer foi votado nesta terça-feira (15), após a leitura da complementação de voto feita pelo novo relator do caso, deputado Marcos Rogério (PDT-RO).
“Foi constrangedor demorar tanto para votarmos isso. Esse é ainda um passo tão curto no sentido de investigar diante de tantas denúncias”, destacou o deputado. Para ele, o atual cenário é péssimo para o país e para todos os brasileiros, pois o alto escalão da República está sob a mira da Justiça por acusações de corrupção. “O Conselho deu um primeiro passo em uma das questões que precisam ser investigadas”, disse.
O processo que pede a cassação do mandato de Eduardo Cunha é originado de um pedido do Psol e da Rede. O parlamentar é acusado de ter mentido na CPI da Petrobras, quando disse não possuir contas no exterior. Meses depois, autoridades suíças enviaram ao Brasil comprovantes de que Cunha matinha contas no país europeu. Os recursos seriam de origem ilícita, desviados do petrolão, conforme relataram à Justiça delatores da Operação Lava Jato.
“O cenário que a gente vive é realmente horrível para todos aqueles que têm uma vida pública, pois acaba levando todos à vala comum. Mas o PSDB está fora disso e defende que as investigações sejam levadas até as últimas consequências”, disse Marchezan.
Segundo o tucano, o avanço da PF é ótimo para as investigações, mas é uma lástima que o Brasil precise passar por isso. O parlamentar avalia que a mesma quadrilha que, durante mais de uma década, saqueou em conjunto as estruturas federais, agora briga entre si, como ficou comprovado nos embates travados no Conselho de Ética nos últimos dias. “É a quadrilha da Dilma e a quadrilha do Cunha”, esbravejou, durante a votação.
Erros podem atrasar processo
Apesar de comemorar que o processo contra Cunha finalmente tenha sido aberto, Marchezan alertou, porém, que erros cometidos pelo Conselho de Ética podem acabar causando nova protelação. Aliados de Cunha apresentaram questão de ordem e avisaram que vão recorrer da decisão do colegiado. Eles alegam que a decisão do 1º vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que destituiu Fausto Pinato (PRB-SP) da relatoria do processo anula todos os atos por ele praticados. Ou seja, Marcos Rogério não poderia fazer uma complementação de voto, mas teria que apresentar novo relatório.
O deputado do PSDB disse que o recurso seria muito prejudicial tanto para a investigação sobre Cunha quanto para o próprio Conselho de Ética, que está se desmoralizando perante a sociedade. “Se essa questão de ordem for aceita, teremos mais uma semana de atraso no processo e, consequentemente, todo o período do recesso”, alertou.
O tucano havia defendido que todos os parlamentares entrassem num consenso para votar a admissibilidade da ação na quarta-feira (16) sob o compromisso de que não haveria questões de ordem ou pedidos de afastamento de Cunha, como alguns parlamentares defendiam. “É importante que tenhamos votado. Era o que todo o país queria. Mas temo que isso acabe voltando para a estaca zero novamente”, disse.
Antes da votação, o deputado Rossoni (PR), que substituiu Betinho Gomes (PE) – afastado por problemas de saúde –, sugeriu que o Conselho desse prosseguimento aos trabalhos “sem baixarias”. “Nós fomos motivo de chacota nacional. Eu me senti envergonhado com tudo o que aconteceu aqui. Somos o espelho do Congresso e o povo brasileiro não merece ver todas essas cenas com personagens do Parlamento”, afirmou. O tucano fazia referência aos sucessivos adiamentos da votação e aos embates ocorridos entre deputados pró e contra Cunha, com agressões verbais e até físicas.
Operação da PF
A Polícia Federal cumpriu na manhã desta terça-feira (15) mandado de busca e apreensão na residência oficial do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em Brasília, e também na casa e um dos escritórios de Cunha no Rio de Janeiro. O peemedebista teve três celulares, um tablet e um laptop apreendidos pela polícia. Outras lideranças do PMDB também foram alvo da Operação Catilinária.
Na avaliação do deputado Luiz Carlos Hauly (PR), essa era uma tragédia anunciada diante da postergação de uma decisão do Legislativo em relação ao afastamento de Cunha da presidência da Câmara e do impeachment da presidente Dilma. “A corrupção está toda no governo federal. Espero que a Câmara afaste rapidamente o presidente Eduardo Cunha da presidência da Casa. A lama da Dilma, do PT, do Lula, do Eduardo Cunha e dos seus asseclas compromete o Parlamento e a política brasileira”, reprovou.
Do PSDB na Câmara