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“Com PT, Brasil cai para a segundona”, análise do ITV

slide-bolsa-300x200Eram favas contadas. O rebaixamento da nota de crédito do Brasil, anunciado na noite de ontem pela Standard & Poor’s, coroa anos de gestão desastrosa e joga o país num redemoinho de incertezas bem mais agudas do que as experimentadas nos últimos meses. É o alto preço da irresponsabilidade com que o governo do PT tratou o interesse nacional.

A agência é a primeira a considerar os investimentos no Brasil como “grau especulativo”. Isso significa que o país deixa de ser considerado porto seguro para empresas e investidores interessados em aplicar seus recursos. Deixa de ter acesso a montanhas de dinheiro e passa a ser tratado como local de risco – na linguagem crua do mercado, como “lixo” (“junk”).

Além de rebaixar o Brasil, a S&P também pôs a nota de crédito do país em perspectiva negativa, ou seja, o que já está ruim pode piorar ainda mais. Na sequência, as demais instituições de avaliação de crédito (Moody’s e Fitch) também tendem a jogar o Brasil para a segundona.

A decisão da S&P só pegou de “surpresa” – segundo palavras do ministro Nelson Barbosa – o governo do PT. Diante do sinfônico bater de cabeças que a administração do país tem se revelado, o rebaixamento era tragédia anunciada, pedra cantada, destino previsto. Se houve algum espanto, foi apenas no timing do anúncio.

Mudanças de rating costumam demorar um pouco até que maturem. A do Brasil veio a jato, em função do grau acelerado de lambanças ocorridas nas últimas semanas. Há apenas 40 dias a mesma S&P havia posto a nota de crédito do Brasil em perspectiva negativa. A nova alteração num curtíssimo espaço de tempo significa que os erros cometidos pela presidente Dilma Rousseff neste ínterim superaram quaisquer expectativas.

De fato, em menos de seis semanas, a meta fiscal fixada pelo governo brasileiro foi rebaixada duas vezes, até chegar ao inacreditável rombo de R$ 30,5 bilhões oficializado na semana passada. O mesmo orçamento deficitário previu um aumento de R$ 104 bilhões nas despesas do poder central no próximo ano. O governo não dá a mínima pista de como pretende trazer as finanças do país de volta ao equilíbrio. Assim não há boa vontade que persista.

Com o Brasil já na corda bamba, a presidente da República teve a cara dura de propor ao Congresso um orçamento em que as despesas superam as receitas em 0,5% do PIB. Foi como se lavasse as mãos diante do precipício. O orçamento “realista”, fruto da reinação de Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante no governo da petista, acabou se tornando a causa imediata do rebaixamento anunciado ontem, a gota d’água que transborda o caos.

A perspectiva é de o país fechar, por pelo menos três anos, as contas no vermelho. A dívida pública também deve decolar ainda mais, após já ter crescido dez pontos percentuais do PIB desde o início do desgoverno Dilma. A estimativa é de que o indicador, hoje em 63%, alcance 72% até 2017, num crescimento inédito na história recente do país.

Nas palavras da S&P, a situação do Brasil é de “menos convicção” em relação à política fiscal, de “desacordo dentro do governo” sobre a composição e a magnitude de medidas necessárias “para corrigir a derrapagem das finanças públicas”. Só dá para discordar da “derrapagem”, porque o que aconteceu nos últimos tempos foi mesmo um capotamento.

Em resposta ao rebaixamento, a presidente da República declarou, numa entrevista concedida ao Valor Econômico momentos depois do anúncio da S&P, que “tem clara estratégia econômica”. Tardiamente, com a vaca já atolada no brejo, diz que agora se compromete com a meta de gerar superávit no ano que vem – o mesmo que sua proposta orçamentária sepultara. Na longa conversa, a presidente é incapaz de apontar um caminho, enquanto dispende tempo vendendo um país que não existe e um governo de fantasia.

Tem muita gente no governo do PT que considera bobagem as avaliações das agências de risco. Mas tais decisões orientam a alocação de dinheiro grosso pelo mundo afora. Tratado agora como pária, ou como uma selva perigosa para quem quer investir, o Brasil verá o custo de empréstimos aumentar e os investidores fugirem daqui.

Na vida real, a recessão tende a ficar mais severa, a inflação pode aumentar mais, diante da provável escalada do dólar (que já começou nesta manhã), a atividade produtiva deverá esfriar ainda mais e o desemprego vai ficar mais alto. Em suma, vai ficar bem mais difícil viver no Brasil.

Quando o Brasil conseguiu a promoção a grau de investimento, em abril de 2008, o então presidente da República assim reagiu, num discurso em Maceió: “Se a gente for traduzir isso para uma linguagem que os brasileiros entendam, o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e com isso passamos a ser merecedores da confiança internacional”, disse Lula.

É de se perguntar a Lula se, com o rebaixamento, o Brasil, que nos últimos sete anos desde a promoção esteve à mercê da irresponsabilidade dele e de sua pupila Dilma, agora é um país leviano, fraudulento, irresponsável, desorganizado, inconsequente – ou seja, o contrário do que o ex-presidente julgava.

O Brasil levou muito tempo para conseguir recuperar a confiança de investidores, desde que as finanças do país bateram no fundo do poço quando o então presidente José Sarney decretou a moratória do pagamento da dívida, em 1987. Foram 20 anos de árduos avanços e de superação de desafios, como a estabilização da moeda, pelo Plano Real, e a adoção de uma política macroeconômica estruturada com base em responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e metas de controle estrito da inflação.

Em pouco tempo, contudo, o PT conseguiu implodir condições tão duramente conquistadas. Foram sete curtos anos, durante os quais Lula e Dilma reduziram a disciplina fiscal à letra morta, ressuscitaram a inflação e levaram o país à maior recessão em décadas, com desemprego recorde.

Será necessária uma guinada significativa tanto na política econômica quanto na lida diária da política em estrito senso, sem falar na superação da falência moral em que o mensalão e o petrolão enfiaram a administração pública no país. Será uma longa retomada, que um governo sem nenhuma credibilidade como o de Dilma Rousseff é absolutamente incapaz de promover. A gestão dela acabou.

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